Quando cheguei no ICFJ para ser a primeira diretora de engajamento de comunidade, em fevereiro de 2020, o mundo começava a sofrer com a COVID-19. Ainda sem uma pandemia declarada, o vírus se espalhava pelo mundo, começando a parar os países. Estava ficando cada vez mais claro que o que estava se desdobrando tinha um potencial catastrófico.
No ICFJ, nossos treinamentos e programas de bolsas presenciais para jornalistas tiveram que ser feitos virtualmente. Precisávamos remodelar o modo como iríamos servir milhares de jornalistas da rede que construímos ao longo de 30 anos.
A nossa resposta? O Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde, que hoje inclui cinco grupos no Facebook com quase 13 mil jornalistas de 134 países. Esses jornalistas estão compartilhando informação entre eles, participando dos nossos webinars e se conectando para criar reportagens contundentes. O Fórum, com versões em inglês, espanhol, português, francês e árabe, gerou um impacto incrível.
Antes de trabalhar no ICFJ, eu tinha passado três anos nos Balcãs com o Projeto de Reportagem sobre Corrupção e Crime Organizado, um parceiro do ICFJ. Eu testemunhei em primeira mão o poder da colaboração entre jornalistas e o que acontece quando eles se conectam para além das fronteiras para trabalhar em pautas, compartilhar informação e recursos e se apoiar mutuamente em uma crise.
O que os jornalistas precisavam quando a COVID-19 revirou o mundo era uma plataforma para se conectarem.
O Fórum foi o primeiro projeto de engajamento de comunidade do ICFJ e ele acaba de ganhar o ONA Community Award 2021. Saiba como conseguimos isso:
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Identifique sua comunidade, avalie as necessidades dela e defina objetivos
No começo da pandemia, nós entendemos que de repente todos os jornalistas estavam cobrindo saúde, de um jeito ou de outro. Eles precisavam ser capazes de comunicar descobertas científicas com precisão e eficiência, cobrir desdobramentos sem espalhar pânico e rebater níveis crescentes de informações falsas que estavam sendo espalhadas online.
Eu comecei fazendo enquetes com jornalistas nas redes sociais, perguntando a eles de qual tipo de apoio precisavam para cobrir melhor a crise de saúde global que emergia. Em poucos dias, minha caixa de mensagens estava inundada de respostas do mundo todo — da África do Sul à Índia, Argentina, China, Itália e mais — com repórteres e editores lamentando a falta de acesso a especialistas e recursos sobre saúde, e também destacando que os governos não estavam sendo transparentes com as informações sobre a disseminação do vírus em seus países. Os repórteres também estavam preocupados com sua própria segurança — como eles poderiam se proteger melhor de um vírus mortal enquanto seguiam com seu trabalho crucial?
Projete sua comunidade com valor agregado
Depois de já sabermos do que os repórteres precisavam, determinamos o que criar.
Nossa equipe foi pelo caminho mais simples — um grupo no Facebook, para reunir em um mesmo lugar um público grande e global formado por jornalistas. Por lá, nós iríamos transmitir nossos webinars, postar materiais úteis e estimular a colaboração. Também convidamos especialistas, membros da sociedade civil e verificadores de fatos, e compilamos uma lista de epidemiologistas, virologistas e especialistas em saúde pública, para participar de nossos painéis online. Nós ainda oferecemos uma newsletter para jornalistas que não estavam no Facebook mas mesmo assim queriam acessar nossas atividades.
Nós convidamos os jornalistas das nossas listas de contato e a comunidade mais ampla de jornalistas nas redes sociais para se juntarem ao Fórum. Lançamos o nosso primeiro webinar com um nome de peso, o Dr. Samba Sow, emissário especial da Organização Mundial da Saúde para a COVID-19 na África.
Nós nos esforçamos para divulgar nossos webinars e recursos o mais amplamente possível. Escolhemos o Zoom para transmitir os eventos devido à capacidade da plataforma de abrigar um número maior de participantes. Com o apoio de outras equipes do ICFJ, monitoramos o impacto e desenvolvemos propostas para levantar fundos para o projeto.
O modelo baseado na colaboração conjunta nos permitiu realizar eventos online maiores, como esta seção de perguntas e respostas com o Dr. Anders Tergnell, epidemiologista do governo da Suécia, e moderar com eficiência o grupo no Facebook. Também mantivemos longe os disseminadores de informação falsa — se algum membro posta informação falsa no Fórum ou faz referência a conteúdo impreciso em discussões, nós chamamos atenção e desmentimos.
Crie uma equipe com lideranças estabelecidas
Com o crescimento do nosso Fórum em inglês, atraímos recursos para expandir o projeto para o espanhol, português, francês e árabe. Trouxemos um time global de gestores de comunidade para desenvolver cada grupo em sua própria língua.
Essas lideranças da imprensa são profundamente apaixonadas por seu trabalho, com perfis regionais e suas próprias redes locais.
- Kossi Elom Balao, do Togo, comanda nossa comunidade em francês. Ele é um repórter premiado, fundador do The Confidential Report e presidente da Rede Africana de Jornalistas de Ciência.
- Alexandre Orrico, do Brasil, lidera nossa comunidade em português. Ele é editor-fundador do Núcleo Jornalismo, um projeto de jornalismo de dados, e um repórter de tecnologia e editor veterano da Folha de S. Paulo.
- Desirée Esquivel, do Paraguai, dirige nossa comunidade em espanhol. Ela é fundadora do primeiro meio de comunicação sobre ciência do país, Ciencia del Sur, e embaixadora da SembraMedia, parceira do ICFJ.
- Fadwa Kamal, ex-bolsista do Code for Africa, parceiro do ICFJ, comanda nossa comunidade em árabe.
- Paul Adepoju, da Nigéria, diversificou e expandiu nossa comunidade em inglês. Ele é um repórter de ciência estabelecido e empreendedor de mídia.
Nós também designamos moderadores para cada Fórum para ajudar com a comunicação, moderar discussões e monitorar impactos.
[Leia mais: Como jornalistas podem trabalhar melhor com a comunidade científica]
Avalie as necessidades da sua comunidade
Nós frequentemente conversamos com nossas comunidades sobre seus desejos e necessidades de diferentes formas. Enviamos pesquisas pós-evento para participantes dos webinars, por exemplo, e fazemos enquetes nos grupos sobre o que eles gostariam de ver.
Na passagem de 2020 para 2021, perguntamos às nossas comunidades como poderíamos continuar servindo-as da melhor maneira, já que a pandemia evoluiu, novas questões surgiram, como as variantes da COVID-19 e o desenvolvimento e distribuição de vacinas, e a resposta de autoridades de saúde mudou.
Com as respostas em mãos, atualizamos nosso planejamento para oferecer mais treinamentos, por exemplo, e sessões de dúvidas com especialistas em saúde.
Evolua sua comunidade
A pandemia ainda não acabou — mas um dia vai. Estamos também em meio a uma outra crise global, como a deterioração do clima e a disseminação de informação falsa e de desinformação. Sem dúvidas, mais coisas ainda vão surgir. Os jornalistas vão precisar se adaptar e obter conhecimento especializado e habilidades para seguir com seu trabalho vital.
Quando olhamos para o futuro, planejamos crescer de forma dinâmica a comunidade online de jornalistas que estabelecemos durante a pandemia. As comunidades, no fim das contas, não foram feitas para serem estáticas.
O projeto do Fórum não será o último do tipo no ICFJ. Felizmente, nossa experiência na construção dessas comunidades fortes oferece lições fundamentais sobre o que é necessário para engajar uma comunidade global de jornalistas hoje e no futuro.
Fique ligado.