Dicas para cobrir violações e abusos dos direitos humanos durante COVID-19

Feb 4, 2021 em Temas especializados
Pessoas andando na faixa de pedestres

As violações e abusos dos direitos humanos aumentaram em muitos países durante a COVID-19. Enquanto jornalistas e pesquisadores documentaram alguns incidentes em suas reportagens, como este artigo sobre infrações à liberdade de expressão e esta matéria sobre ataques xenófobos e discriminação, outros não foram relatados devido à crescente dificuldade de reportar durante a pandemia.

Enquanto o mundo continua lutando com o novo coronavírus, os jornalistas podem recorrer a ferramentas e métodos estabelecidos para ajudá-los a cobrir com eficácia as violações de direitos e abusos.

Aqui estão algumas dicas.

Busque relatos de testemunhas oculares nas redes sociais

Em meio a restrições de movimento e viagens durante a COVID-19, jornalistas devem utilizar mídias sociais, aplicativos de mensagens e chamadas telefônicas para reunir relatos de testemunhas oculares para apoiar suas reportagens.

“Devido ao uso cada vez maior das redes sociais durante a pandemia, as pessoas tendem a usar mais seus espaços pessoais, como Twitter, Facebook e Instagram para compartilhar histórias de violações de direitos humanos que aconteceram com elas ou ao redor, com alguém próximo”, disse Isa Sanusi, gerente de mídia da Anistia Internacional na Nigéria, onde monitora violações de direitos. “Os jornalistas devem, portanto, aumentar sua pesquisa nas redes sociais, onde as pessoas vão primeiro para compartilhar histórias de abuso.”

Os jornalistas devem seguir as páginas de mídia social e sites de organizações como Human Rights Watch, Anistia Internacional, Unicef e outras que trabalham nas áreas de violência sexual, abuso infantil e justiça criminal, por exemplo, para obter pistas e identificar fontes, ângulos e assuntos de entrevista.

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Usar relatos de testemunhas verificáveis ​​que minimizam o movimento físico por razões de segurança da saúde é a coisa certa a fazer, disse o jornalista nigeriano Fisayo Soyombo. Soyombo deu início a uma popular série de hashtags #fisayoscovid19series no Twitter para ampliar histórias de violações de direitos compartilhadas por usuários do Twitter na Nigéria durante o primeiro bloqueio da pandemia em seu país. “O foco deve ser em evidências documentadas de violações, em vez de tentar relatar fisicamente o evento. A menos que seja absolutamente necessário, todos nós precisamos abraçar meios não físicos de relatar as notícias”, disse ele.

Os jornalistas devem monitorar as plataformas de mídia social em busca de histórias e reações a violações de direitos e, em seguida, entrar em contato com os autores das postagens para obter mais detalhes e buscar consentimento para usar a história. Essas contas devem passar por verificação rigorosa para evitar a divulgação de informações enganosas. Você pode confirmar a legitimidade das fotos usando ferramentas como o TinEye ou Google Imagens, que permitem fazer uma busca inversa de imagens e revisar metadados. Você também deve analisar os perfis dos usuários que compartilham histórias para garantir que eles não compartilharam informações falsas ou prejudiciais no passado.

Peça colaboração do público

Considere convidar membros do público para contribuir nos seus esforços de coleta de notícias. Você pode fazer isso por meio de enquetes online, chamadas pedindo informações do público e questionários, por exemplo.

O jornal The Guardian rastreia tópicos de interesse de seus leitores incorporando opções de perguntas em seus artigos. A BBC e o Punch Newspaper da Nigéria pedem aos leitores no final de seus artigos que compartilhem relatos de testemunhas oculares, especialmente se uma história está emergindo ou continuando a se desenvolver.

A CNN recentemente usou imagens de vídeo do público dos tiroteios de Lekki na Nigéria, que os especialistas analisaram, para produzir um artigo investigativo explosivo que confirmou a morte de manifestantes pacíficos em outubro.

“Acho que o crowdsourcing [colaboração coletiva] é o caminho. O tráfego da internet está em alta, então os jornalistas devem tirar vantagem disso”, disse Soyombo. “Eles devem se expor e se tornar acessíveis ao público.”

Os denunciantes também podem compartilhar dicas anônimas sobre violações de direitos usando ferramentas como SecureDrop e WeTransfer, por meio das quais se pode compartilhar grandes arquivos de vídeo.

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Use a multimídia

Reportagens multimídia sólidas podem iluminar violações de direitos de uma forma que o texto sozinho pode não conseguir alcançar. Imagens de vídeo e áudio podem adicionar a profundidade e o contexto necessários à cobertura das respostas das autoridades às violações de direitos.

Os jornalistas devem utilizar componentes multimídia para gerar mais impacto, disse Sanusi. “Para fazer isso, os jornalistas devem enfatizar o uso de audiovisuais para destacar as violações dos direitos humanos. As histórias devem ser abordadas de forma multimídia para que seu impacto seja de longo alcance.”

O público hoje já está navegando na sobrecarga da informação. A adoção de um formato multimídia ajudará a envolver o público e, ao mesmo tempo, manter sua atenção. Dois exemplos de sucesso disso são as reportagens do New York Times sobre os assassinatos de George Floyd e Ahmaud Arbery, ambas incorporando informações e imagens de vídeo do público.

Preste atenção a grupos vulneráveis

Durante uma crise como uma pandemia global, os perpetradores podem achar que receberão menos atenção por quaisquer violações de direitos que cometam. Os jornalistas devem prestar atenção redobrada a grupos especialmente vulneráveis, como mulheres grávidas em prisões, trabalhadoras domésticas em quarentena com seus patrões e imigrantes em centros de detenção, entre outros.

As restrições durante a pandemia também podem significar que as pessoas que vivem em comunidades mais remotas com baixa conectividade com a internet terão menos acesso à informação. As pessoas visitam os hospitais com menos frequência e também têm menos probabilidade de denunciar violações à polícia. É importante que os jornalistas estabeleçam formas alternativas de alcançar essas pessoas para que as questões que não são relatadas nessas comunidades sejam devidamente documentadas e, eventualmente, abordadas.

Outros também apresentarão suas próprias histórias se virem reportagens sobre violações de direitos nas notícias, acrescentou Soyombo. “Se um policial agride um civil e a história é publicada, vários outros que foram agredidos da mesma forma ficarão certamente interessados ​​em ler e compartilhar em plataformas de mídia social.”

Mantenha-se seguro

Manter a segurança física, mental e digital deve ser a prioridade de qualquer jornalista que faça reportagens sobre violações de direitos durante a pandemia de COVID-19, aconselhou Jonathan Rozen, pesquisador sênior da África do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ).

Os jornalistas devem minimizar o risco de exposição física, limitando as reportagens que realizam pessoalmente. Também é importante que os jornalistas avaliem o estado de sua saúde mental antes de realizar qualquer tarefa. “Você não pode relatar violações de direitos com precisão, mesmo aquelas perpetradas contra jornalistas, se você não estiver psicologicamente no espaço certo”, disse Rozen.

Sobre segurança digital, o CPJ recomenda que jornalistas que trabalham em casa atualizem seus dispositivos com o sistema operacional mais recente para reduzir as ameaças cibernéticas. Deve usar aplicativos de mensagens seguras, como Signal, e considerar ter um dispositivo de trabalho dedicado.

Os direitos digitais podem ser ainda mais prejudicados em países onde os governos procuram controlar o fluxo de informações. É importante que os jornalistas aprendam a usar ferramentas alternativas, como NordVPN, Psiphon e Tor, entre outras, para ficarem conectados em caso de desligamento da internet.


Senami Kojah é uma jornalista investigativa nigeriana e editora de notícias do Saharareporters.com. Ela é bolsista de jornalismo de dados online do Climate Tracker 2019.

Imagem sob licença CC no Unsplash via Ryoji Iwata