Estratégias para combater a repressão do jornalismo

Jan 17, 2020 em Segurança Digital e Física
Pessoa segurando telefone

A repressão da mídia está crescendo na Nigéria. Desde de 2015, os jornalistas e proprietários de mídia vêm sofrendo vigilância estatal, prisão e até agressão física.

Em 2019, a Nigéria ficou na posição 120 de 180 no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa publicado pelo Reporters Without Borders.

Para se manter seguro e resiliente, e continuar denunciando improbidades no governo, as redações e os jornalistas do país estão adotando métodos simples, mas estratégicos.

Planeje com antecedência, disse o jornalista de vídeo Victor Olugbenro, preso em 5 de agosto de 2019 por cobrir um protesto antigovernamental em Lagos. "Todo jornalista que diz a verdade corre o risco de ser atacado. Então, a gente precisa estar pronto, porque tudo pode acontecer", disse ele.

Após a prisão de seu chefe, Omoyele Sowore, fundador do SaharaReporters, dias antes de sua própria prisão, Olugebenro disse que tinha planos de contingência.

"Dias antes de ser preso, contei à minha mãe que meu chefe havia sido preso e eu poderia ser o próximo. Ao planejar o pior cenário, você pode preparar a família com antecedência para aliviar o choque e o trauma para eles", disse. "Encontre um advogado de direitos humanos que sempre estará em modo de espera para defendê-lo, dois contatos confiáveis ​​que sabem o seu paradeiro o tempo todo e tenha um número de emergência memorizado."

"Uma coisa que também fiz durante minha prisão, que atraiu a atenção, foi que eu gritei e me identifiquei para que as pessoas na rua e outros jornalistas ao redor soubessem quem eu era", acrescentou.

Para o jornalista investigativo Fisayo Soyombo, chefe de investigações do Business Day e ex-editor do Centro Internacional de Reportagem Investigativa (ICIR, em inglês), TheCable e SaharaReporters, tomar precauções extras é essencial.

Vá disfarçado, a fim de continuar reportando histórias factuais e oportunas que têm o potencial de mudança.

"Eu adoto uma abordagem secreta muitas vezes. Isso ocorre porque meu rosto não é mais tão desconhecido. Com a reportagem investigativa em que estou trabalhando, por exemplo, tive que alterar minha aparência. De outra maneira, eu sei que seria descoberto", disse Soyombo, que recentemente trabalhou disfarçado no Serviço Correcional da Nigéria para expor a corrupção e foi quase preso pelo governo nigeriano por fazê-lo.

"É um processo bastante árduo, mas acho que vale a pena. Sei que não posso deixar nada ao acaso", disse ele.

Trabalhe remotamente. A internet tornou possível a jornalistas conduzir seu ofício sem se basear em um espaço físico. Isso minimiza o risco de ataques direcionados, prisões e intimidações.

Quando policiais armados invadiram a redação nigeriana do site de jornalismo cidadão SaharaReporters em Lagos, o editor-chefe Eric Dumo e sua equipe já tinham uma estratégia sólida para evitar a prisão. Após a ordem de sua sede em Nova York para trabalharem remotamente, muitos funcionários estavam fora do escritório.

Dumo acrescentou: "Nós dominamos a arte de driblar a chantagem do governo, evitando participar de eventos onde podemos ser alvos, enquanto ainda oferecemos cobertura adequada para suas atividades importantes.

"Acima de tudo, os membros de nossa equipe aprenderam a não se expor desnecessariamente nas mídias sociais e em outras plataformas ou maneiras que podem facilmente ser identificados como jornalistas do SaharaReporters."

Cultive e mantenha leads e fontes fortes que possam entrar em contato com você em plataformas digitais seguras para trabalhar remotamente. "Nosso mandato principal é expor a corrupção e a injustiça na Nigéria e além", disse Dumo. "Portanto, nesse sentido, mantivemos uma forte rede de fontes que continuam a enviar pistas importantes para nós, confiando que faremos justiça a essas pistas.”

Lute de volta. Richard Oludare, repórter do jornal Guardian da Nigéria em Abuja, foi brutalmente agredido pelo Serviço de Segurança do Estado da Nigéria (SSS) quando estava cobrindo um protesto em 12 de novembro de 2019. Sua estratégia de resiliência continua desafiadora.

"Permitir a cultura do silêncio só continuará corroendo os princípios da paz e da civilização como a conhecemos", disse ele. "Não melhora com o silêncio, especialmente quando existe uma constituição."

"Todo jornalista deve se alinhar ao entendimento da lei e a várias autoridades legais", afirmou.

Aprenda a proteger sua segurança digital. O jornalista de vídeo Victor Olugbenro disse que esta é a única maneira de cobrir seus rastros e garantir a segurança contra manipulações que possam ocorrer no seu dispositivo ou de evitar que rastreiam sua localização.

"Eu nunca deixo a localização do meu telefone ligada. Também certifico-me de bloquear todos os aplicativos que possam revelar minha localização a qualquer momento", disse ele. Jornalistas devem estudar segurança digital para telefones, usar aplicativos de bate-papo seguros como o Signal e garantir que possuem a mais recente tecnologia para proteger seus dispositivos.

"Quando fui preso, eles levaram meu telefone por mais de 24 horas. Quando eu o recuperei, sabia que eles o teriam adulterado, então eu adquiri um dispositivo alternativo que eu uso para fazer chamadas sensíveis relacionadas com o meu trabalho", disse.


Imagem sob licença CC no Unsplash via Olumide Bamgbelu.

Senami Kojah é uma jornalista investigativa nigeriana e editora de notícias do Saharareporters.com. Ela é bolsista de jornalismo de dados online do Climate Tracker 2019.