A organização-matriz da IJNet, o ICFJ, fez parceria com o Projeto de Jornalismo do Facebook no Programa Reporting on Refugee Communities Amidst a Pandemic. Este artigo é o primeiro de uma série de três partes que foca na cobertura jornalística dos participantes do programa.
A pandemia de COVID-19 agravou os desafios que os refugiados geralmente enfrentam. À medida que o mundo tenta sair da crise de saúde, a responsabilidade dos jornalistas de fazer reportagens sobre o assunto torna-se cada vez mais crítica.
No Oriente Médio e no Norte da África, o jornalismo produziu reportagens de alta qualidade que lançam luz sobre aspectos pouco cobertos da vida dos refugiados durante a pandemia.
Neste artigo, examinamos mais de perto cinco exemplos de cobertura no Egito e três no Marrocos.
Egito
A jornalista freelance Shehata El-Sayed foi a responsável pela investigação "Egito: violência sexual contra mulheres refugiadas aumenta", publicada pela Daraj Media em inglês e árabe. El-Sayed teve um cuidado especial ao reportar sobre o delicado tema de agressão sexual. “O primeiro desafio foi encontrar vítimas que estivessem dispostas a falar sobre o que haviam vivenciado”, ele disse à IJNet. “Outro desafio foi poder dar apoio psicológico a essas vítimas. Outro também foi a dificuldade de conduzir entrevistas com sobreviventes durante a pandemia usando comunicação remota."
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A reportagem da jornalista investigativa de dados Mahmoud Eltabakh, intitulada "Prisioneiros do coronavírus: refugiados que buscam uma vida em Cairo", contém texto, imagens, infográficos e mapas interativos. "A história se concentrou no monitoramento do sofrimento de refugiados do Iraque, Síria, Palestina e Iêmen", explicou Eltabakh. “Eles vieram para o Egito fugindo da guerra e da violência, e agora enfrentam várias dificuldades e sofrimentos no Cairo durante a pandemia. Ao mesmo tempo, eles mantêm seus sonhos de educação, sucesso e estabilidade."
A jornalista investigativa Ayaat Elhabbal publicou um artigo no Egypt Today, chamado "Pausa para o café: uma forma de refugiadas e imigrantes encontrar apoio". A matéria lança luz sobre como as mulheres refugiadas que residem no Egito se apoiaram quando empresas e organizações fecharam durante a pandemia. Entre os problemas enfrentados por Elhabbal durante a reportagem, ele mencionou a dificuldade de obtenção de recursos, bem como de acesso a funcionários públicos.
A jornalista Mona Allam, autora de "Uma infância solitária no Cairo: Como a pandemia afetou crianças migrantes desacompanhadas no Egito?”, também teve dificuldades em encontrar fontes de primeira mão dispostas a falar com ela sobre o problema. Outra dificuldade foi reunir a quantidade de dados necessária, o que exigiu muito tempo e recursos.
A jornalista Mervat Abdalaziz escreveu o artigo "O teimoso scan de iris: o campo de batalha entre os refugiados e a tecnologia". A parte mais difícil do processo foi se comunicar com órgãos oficiais do governo egípcio e da agência de refugiados do país. Ela entrevistou vários refugiados e seu produto final incluía elementos escritos como fotográficos.
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Marrocos
No Marrocos, a jornalista Mariam Taidi produziu a reportagem multimídia "COVID-19: Um duplo bloqueio para imigrantes da África Subsaariana". No artigo, ela aborda o sofrimento dos imigrantes subsaarianos no Marrocos e seus problemas durante o confinamento devido à pandemia. Ela destaca a história de um migrante que varre as ruas para conseguir leite para seu filho pequeno. Para incluir alguns dos elementos visuais, como fotografar em um espaço público, Taidi teve que adquirir uma licença que normalmente não está disponível para jornalistas freelance.
A matéria da jornalista Salah Eddine Lemaizi, "Migrantes irregulares: Sobre a vida no exílio e nas margens de Casablanca", conta a história de jovens migrantes da África Subsaariana que atravessaram um inverno particularmente difícil, durante o qual tiveram que enfrentar tanto as forças de segurança do país como a pandemia.
O jornalista Soufiyan Saaoudi produziu uma reportagem investigativa para Sem3iSawtk. Seu artigo se concentra em histórias de mulheres migrantes e refugiadas da África Subsaariana que trabalham com cosmetologia no Marrocos e cujos empregos foram afetados durante a pandemia. Saaoudi teve dificuldade em identificar as fontes que estavam dispostas a ser entrevistadas e fotografadas. Ele teve a ajuda de uma associação que trabalha com migrantes e refugiados, para identificar fontes para sua pesquisa.
Sarah Abdallah é estudante de doutorado em linguística e comunicação, com formação em direito, ciências políticas e engenharia linguística. Ela é tradutora de árabe da IJNet e repórter do l'Orient Le Jour.
Imagem com licença Creative Commons no Unsplash, via Julie Ricard