Mídia na Argélia luta para se manter em meio a crise econômica

Jan 4, 2023 em Sustentabilidade da mídia
Alger, vue

Uma crise multifacetada na Argélia ameaça a existência da imprensa independente. Muitos veículos já fecharam devido à atual estagnação econômica do país, enquanto outros enfrentam sérias dificuldades financeiras, a ponto de não conseguirem mais pagar seus funcionários. 

No caso do jornal em francês El Watan, por exemplo, uma greve que começou em julho demandando o pagamento de salários atrasados desde março só terminou em agosto, mas a sobrevivência do jornal ainda é incerta.

Em toda a Argélia, a mídia independente ainda está em busca do modelo de negócios certo para manter a independência e a sustentabilidade, um objetivo ainda vago. 

A armadilha da publicidade estatal

Por décadas, muitos veículos argelinos contaram com publicidade institucional oferecida pela Agência Nacional de Editoração e Publicidade, o órgão governamental usado pelo estado para supervisionar conteúdo editorial. Isso permitiu que a mídia se beneficiasse de um grande número de anunciantes do setor público, desde que mantivesse uma linha editorial que não se opusesse ao governo no poder.  

Com cada vez mais veículos jornalísticos se desviando da linha governamental, os mesmos viram seus recursos secarem de repente. Além disso, a crise econômica que atingiu o país nos últimos anos fez com que anunciantes do setor privado — como concessionárias, que costumavam ser uma grande fonte de receita publicitária — praticamente desaparecessem.

Esses desafios estão forçando os gestores de veículos tradicionais a buscarem alternativas e os de veículos recentemente estabelecidos a adotarem novos modelos de negócios — mas não sem grandes dificuldades.

A seguir, estão algumas opções que os veículos argelinos estão considerando:

Conteúdo pago via assinaturas

A chegada tardia dos pagamentos eletrônicos na Argélia impediu que a imprensa se beneficiasse da monetização de seu conteúdo online, uma medida adotada em muitos outros países. Atualmente, os pagamentos eletrônicos na Argélia ainda são em grande medida insuficientes. Além disso, alguns veículos se queixam de desafios interoperacionais no uso de sistemas de pagamento online entre bancos e os correios, bem como da carência de serviços que ofereçam pagamentos feitos no exterior.

Twala.info é um dos veículos líderes na monetização de conteúdo online — é um dos poucos jornais que oferecem conteúdo pago inteiramente por meio de assinaturas

Google AdSense

A monetização da audiência por meio do AdSense permite que os veículos gerem receita a partir das visitas online. Esse é o modelo usado atualmente por jornais digitais argelinos como o ObservAlgérie, Algérie 360 e Dzair Daily.

Quando perguntada se esse modelo é viável na Argélia, uma fonte do ObservAlgérie que pediu anonimato disse que depende do número de visitas do site, bem como da localização de seus usuários. Não é possível saber exatamente quanto a mídia argelina ganha com o Google AdSense, pois o AdSense estabeleceu uma escala que varia conforme o país, período de tempo e as expectativas dos anunciantes. Jornais online argelinos cuja maioria dos leitores estão na Europa, nas Américas ou no Golfo Pérsico ganham significativamente mais do que aqueles cujos principais usuários vivem na Argélia.

O ObservAlgérie foca em usuários que vivem no Canadá ou na França, países que são o destino de uma importante diáspora argelina, de acordo com a fonte. "Há assuntos que geram mais RPM (receita por mil impressões) que outros. Artigos que cobrem questões políticos têm um RPM muito baixo em comparação com os que tratam de voos internacionais, por exemplo."

Financiamento coletivo

Novas formas de financiamento colaborativo estão emergindo em muitos países como forma de inovar na indústria da mídia e assegurar a sustentabilidade das redações no longo prazo. Frequentemente, a dimensão colaborativa inclui um componente financeiro.

Na Argélia, no entanto, em um contexto político particularmente tenso, isso pode ser classificado como "financiamento estrangeiro" pelo governo e expor os veículos a processos legais. Isso reduz consideravelmente o espectro de possibilidade da mídia local. 

Vale notar que nem todos os veículos na Argélia optam por um único modelo de negócios. Alguns adotam dois ou mesmo três ao mesmo tempo dependendo dos meios e oportunidades disponíveis. Esse é o caso do TSA, que continua a se beneficiar de publicidade privada ao mesmo tempo em que usa o Google Adsense para diversificar as fontes de receita.

Está claro que a mídia argelina não pode ser separada do contexto político e do ecossistema como um todo. No momento, a mídia permanece em busca de um modelo econômico que possa garantir uma transição suave em meio à incerteza global e significativa turbulência econômica.


Imagem por Photo Brux via Unsplash, com licença CC. 

Este artigo foi originalmente publicado na IJNet em francês.