Como a mída pode usar jogos online para atrair assinantes e aumentar o faturamento

Sep 3, 2024 em Engajamento da comunidade
Wordle on a phone screen

Em um ecossistema de mídia desafiador, no qual as redações enfrentam dificuldades para seguir funcionando, muitos veículos estão recorrendo aos jogos para atrair leitores e convertê-los em assinantes.

O The New York Times é um líder notável nessa área. Publicando palavras-cruzadas desde 1942, o jornal lançou seu aplicativo dedicado a jogos em 2009. Entre as ofertas atuais, estão mini palavras-cruzadas, jogos de palavras como Wordle (que foi comprado pelo jornal em 2022 após se tornar uma sensação global), jogos de soletrar, jogos de conexão, caça-palavras e jogos de combinação de peças. 

O aplicativo foi baixado 10 milhões de vezes em 2023 e os usuários jogaram mais de oito bilhões de vezes. Em dezembro de 2023, o Times atraiu mais visitantes para o seu aplicativo de jogos do que qualquer outra seção do site, incluindo a de notícias.

"O sucesso dos jogos não acontece por acaso", diz Jonathan Knight, chefe de jogos do New York Times. "Eles fazem parte dessa estratégia de ter uma diversidade de produtos que são atrativos para os diferentes estilos de vida, hábitos e paixões das pessoas."

Da mesma forma, o The Washington Post oferece vários jogos, incluindo o chinês mahjongg e paciência. Na The New Yorker, os leitores podem jogar Name Drop, um quiz que desafia o jogador a descobrir o nome de uma pessoa importante.

Várias outras publicações, do Tampa Bay Times ao The Dallas Morning News, também oferecem uma variedade de jogos online, que vão dos mais clássicos aos mais nichados, como uma versão temática de verão do jogo Crystal Collapse. O The New European, com sede no Reino Unido, oferece vários jogos que envolvem números, palavras e desafios de lógica.

A psicologia por trás dos jogos

O que torna um jogo "bom"? Vários elementos são essenciais, segundo especialistas.

Primeiro, um jogo precisa ser único para que se diferencie em uma área cada vez mais disputada. Priorize qualidade em vez de quantidade e faça com que os jogos agreguem valor à sua audiência.

"Dê aos usuários algo que os faça sentir inteligentes e informados. Eles acessaram um site de notícias por uma razão", diz João Pedro Pereira, editor de neswletters e digital do veículo português Público

Knight concorda que os jogos precisam ser bem desenhados para atrair usuários. "Nós temos pessoas reais que estão elaborando, editando, testando e fazendo a curadoria desses jogos tendo em vista a qualidade para o lançamento. Você realmente consegue sentir que tem pessoas reais por trás dos jogos, e é isso que nos torna especiais."

Os jogos também devem ser desafiadores, mas não demais. Isso vai engajar os usuários por mais tempo, sem afastá-los por completo.

Os jogos oferecidos por veículos jornalísticos podem ser analisados usando o "Modelo de Gancho". Desenvolvido por Nir Eyal, autor de obras sobre psicologia do consumo, ele ajuda a explicar como os jogos podem engajar os usuários e se transformar em rituais diários. 

O modelo define um processo que reforça o valor pessoal que usuários associam a um produto. Seguir os quatro passos do modelo pode facilitar o engajamento dos usuários. Para que os jogos tenham sucesso, eles devem focar no nosso desejo de descoberta e ter como objetivo potencializar a liberação de dopamina nos usuários. Esse neurotransmissor pode gerar expectativas e curiosidade, mantendo, assim, as pessoas mais engajadas.

Atraia os jogadores para o conteúdo noticioso

Os veículos oferecem jogos para ajudar a atrair tráfego para seus sites. Para garantir o sucesso dessa tática, é preciso desenvolver uma estratégia de negócio para construir uma ponte entre os jogos e o conteúdo. 

"Nós descobrimos que, quando os usuários se engajam tanto com com notícias quanto com jogos semanalmente, eles têm o perfil de maior taxa de retenção de assinantes dentre todos os comportamentos que já observamos", explica Knight, acrescentando que, em última análise, os jogos possibilitam o financiamento do negócio. "Os lucros obtidos estão dentro de uma missão, que é garantir a independência jornalística e assegurar que os jornalistas possam continuar fazendo um grande trabalho." 

As redações podem disponibilizar diferentes tipos de assinaturas, desde ofertas simples até pacotes.

Uma alternativa é manter os jogos gratuitos e contar com anúncios para gerar receita a partir deles. O The Washington Post segue esse caminho. Da mesma forma, a The New Yorker oferece acesso gratuito, ao mesmo tempo em que estimula regularmente os usuários a criarem uma conta para assinar as newsletters da revista. O The New European combina acesso aos jogos com o conteúdo noticioso e arquivos de reportagem.

"O jornalismo é uma combinação de dar às pessoas o que elas querem para que elas também leiam o que o editor acha que elas precisam para estarem informadas. Sempre foi esse equilíbrio", diz Dmitri Williams, professor da Faculdade de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia que pesquisa sobre tecnologia, jogos e sociedade. "Você compra tráfego com jogos. Quanto mais tráfego você tem, melhor você é."


Foto por Nils Huenerfuerst via Unsplash.