Dicas para encontrar pautas de jornalismo de soluções

por Tom Hallberg
May 17, 2023 em Temas especializados
A woman leading two other women in a brainstorming session.

Quando a COVID-19 fez o mundo entrar em parafuso, equipamentos de proteção individual ficaram escassos, e como repórter de saúde do Jackson Hole News&Guide, eu estava escrevendo matérias duras sobre a falta de EPIs no hospital local. Foi então que eu recebi um telefonema no início de abril de 2020 de uma fonte que disse que professores de ciência da computação estavam realocando suas habilidade do ensino de engenharia para a produção de protetores faciais. Por meio de impressoras 3D e materiais não utilizados de projetos dos alunos, eles estavam imprimindo vários protetores faciais para trabalhadores de saúde junto com pessoas que estavam produzindo máscaras. 

O telefonema foi feito numa segunda-feira. Na quarta-feira de manhã, quando nossa edição semanal chegou às bancas de revista, eu tinha uma pequena reportagem de jornalismo de soluções sobre os produtores de protetores faciais e um funcionário eleito organizando a logística dos materiais e entrega do produto final. Várias pessoas falaram comigo que queriam ajudar e outras que estavam felizes de ler sobre moradores se mobilizando durante um momento confuso e de isolamento. Devido à falta de informações concretas sobre como a COVID-19 era transmitida, não estava claro o que era mais eficaz, se protetores faciais ou máscaras, mas com os dois esforços, profissionais de saúde se sentiram mais seguros e apoiados, enquanto os moradores que estavam em lock-down tinham uma forma simples de ajudar a população.

Depois do curso inicial que minha redação fez com a Solutions Journalism Network (SJN), em 2019, a abordagem, eu pensei, tinha um ar conclusivo. Cada matéria precisava ser um mergulho profundo que resolvia uma questão em definitivo, e minha primeira tentativa de reportagem foi um texto de quase 3.000 palavras sobre um programa no Colorado que oferecia planejamento familiar e DIU para mulheres de baixa renda. Naquela época, a SJN tinha me concedido um subsídio de viagem para produzir uma série de quatro reportagens sobre a infraestrutura para atenuar avalanches acima das passagens de montanhas. (Leia as matérias aqui: primeirasegundaterceira e quarta)

Essas primeiras matérias que fiz se adaptavam ao meu entendimento do que o jornalismo de soluções englobava em grande escala, mas aquela ligação de abril de 2020 me mostrou o valor de enraizar esse modelo na minha reportagem regular e um caminho para fazer isso. Apesar de a lista a seguir não ser definitiva, as estratégias abaixo me ajudaram a transformar esse trabalho em uma prática, em vez de um projeto. 

  • (Quase) tudo pode ser uma matéria de soluções. Avalie todo assunto da sua especialidade com um foco em soluções. Quase todo problema sobre o qual você reporta pode levar a uma matéria de soluções. Por exemplo, quando os números de formandos no Ensino Médio de Wyoming mostraram que a cidade de Jackson formava mais estudantes que não têm o inglês como língua nativa do que o estado no geral, eu escrevi sobre as taxas locais de conclusão dos estudos — algo que eu já ia escrever a respeito — focando em como a escola direcionou recursos para os estudantes em questão e onde outros distritos tiveram dificuldades, transformando uma cobertura normal em um trabalho de soluções sem muito esforço extra;
  • Novos programas são perfeitos para o jornalismo de soluções. Se uma entidade governamental está propondo um novo programa ou iniciativa, é provável que não será a primeira organização a lidar com o problema em questão. Busque outros grupos que tenham enfrentado os mesmos problemas; eles podem oferecer matéria-prima para reportagens e uma indicação do quão bem-sucedido um novo programa pode vir a ser;
  • Converse com suas fontes sobre jornalismo de soluções. Pode soar estranho recorrer às ideias das mesmas fontes que você está ouvindo, mas quando políticos ou outras autoridades públicas estão desenvolvendo novas iniciativas, eles olham para o que outras pessoas já fizeram. Não aceite simplesmente a palavra das fontes de que as inspirações que elas estão usando são bem-sucedidas, mas perguntar diretamente a elas sobre evidências é um caminho para encontrar informações e soluções de fora da sua comunidade. E ajuda a responder à pergunta se as autoridades estão procurando nos lugares certos;
  • Organize sua pesquisa de acordo com os quatro pilaresIsso foi o que virou o jogo pra mim. Identificar fontes e perguntas que satisfaçam cada um dos quatro pilares facilita monitorar o quanto uma matéria se adapta bem à cobertura de soluções e assegura que você não vai começar a escrever sem ter algum elemento fundamental;
  • Não se sobrecarregue com evidências. Principalmente ao escrever matérias comuns de jornalismo de soluções, deixe a sua evidência brilhar. Apenas um par de fontes probatórias pode fornecer uma pequena janela para uma solução;
  • Lembre-se de destacar seus personagens. Incorporar os quatro pilares pode às vezes parecer pouco original, mas não precisa ser assim. Descrever os personagens em uma matéria e aprofundar-se nas motivações e esperanças deles pode dar para a matéria uma estrutura natural que vai focar na solução e nas pessoas afetadas por ela, em vez de focar nos pilares em si;
  • Leia as matérias selecionadas pela SJN. Isso pode parecer óbvio, mas ler matérias no Solutions Story Tracker, uma base de dados com quase 13.000 matérias de jornalismo de soluções, pode ser uma das melhores formas de estimular a reflexão sobre a cobertura feita para a sua audiência. Ver como outros repórteres enquadram as matérias de soluções pode te ajudar a identificar coisas que você pode ter deixado passar e te dar ideias sobre como construir uma matéria que não se resuma somente a você cumprir com os requisitos dos quatro pilares. 

Recentemente, quando conversei com um grupo de jornalistas, um repórter fez uma pergunta que levou a este último conselho: sempre interrogue suas próprias estratégias para buscar áreas onde você pode integrar o foco em soluções. O repórter me perguntou se eu tinha dado continuidade a uma pauta sobre mobilização de enfermeiros para cobrir áreas de cuidado crítico durante a pandemia. Eu não dei, e foi uma oportunidade perdida de fazer o trabalho de soluções de um outro ângulo. A sequência da matéria teria sido uma chance de ver como uma solução verificada em outra comunidade se traduziria na minha.

Aquela discussão foi uma oportunidade de aprendizado para mim e uma evidência de que há sempre novas formas de expandir a cobertura de soluções, muitas vezes dentro dos limites daquilo que já estamos cobrindo. Para mim, também é um bom lembrete de que para que o jornalismo de soluções seja uma prática e não um projeto, o trabalho não é um ponto final e sim um ponto de partida.


Este artigo foi originalmente publicado pela Solutions Journalism Network e republicado na IJNet com permissão.

Foto por Parabol | The Agile Meeting Toolbox via Unsplash.