O jornalismo de soluções investiga e explica, de forma crítica e clara, como as pessoas tentam resolver problemas amplamente compartilhados. Enquanto os jornalistas normalmente definem a notícia como “o que deu errado”, o jornalismo de soluções tenta expandir essa definição: as respostas para os problemas também têm valor-notícia. Ao adicionar uma rigorosa cobertura de soluções, jornalistas podem contar uma história completa.
O jornalismo de soluções complementa e fortalece a cobertura de problemas. Jornalistas frequentemente se frustram quando investigações meticulosas de um problema não geram mudança. Nós expomos o fracasso da nossa cidade em livrar as crianças da contaminação por chumbo, ou em proteger jogadores de futebol americano do ensino médio de concussão ou em recuperar-se do fechamento de uma fábrica importante - mas, muitas vezes, os governantes simplesmente desprezam essas investigações, dizendo que “estamos fazendo o melhor que podemos”.
Agora acrescente o jornalismo de soluções à investigação, mostrando como as cidades estão resolvendo seus problemas. Isso é profundamente vergonhoso para as autoridades. Desculpas não vão ser o suficiente. A mudança acontece.
Matérias sobre soluções não comemoram respostas para os problemas nem defendem problemas específicos; elas cobrem os problemas, investigando o que foi feito e o que as evidências mostram que funcionou ou não e por quê. Elas informam sobre as limitações de uma resposta.
Essas reportagens frequentemente começam com dados mostrando onde está sendo feito um bom trabalho. Elas normalmente são estruturadas como um quebra-cabeças ou mistérios que tratam de perguntas como: onde as taxas de evasão do ensino médio estão caindo? Como e por que isso está acontecendo? O que a escola ou o distrito estão fazendo de diferente que está gerando um resultado melhor?
Jornalistas comumente optam por fazer reportagens sobre soluções bem-sucedidas. Mas uma matéria de soluções também pode ser sobre um sucesso parcial ou fracasso. Se a nossa cidade está prestes a lançar uma nova iniciativa, uma matéria sobre soluções pode examinar como aquele programa se saiu em outros lugares: onde ele deu certo e onde ele não funcionou? O que fez a diferença?
Quando bem feito, o jornalismo de soluções oferece ideias valiosas que ajudam a população com a difícil tarefa de lidar com problemas como pessoas em situação de rua ou mudança climática, escalada de preços de imóveis ou baixa participação eleitoral. Também sabemos, a partir de pesquisas, que o jornalismo de soluções pode mudar o tom do discurso público, tornando-o menos divisivo e mais construtivo. Ao revelar o que deu certo, essas reportagens geraram mudanças significativas.
Os quatro pilares do jornalismo de soluções
- Uma reportagem de soluções foca na RESPOSTA a um problema social - e como essa resposta deu certo ou por que não deu.
- As melhores matérias de soluções condensam lições que tornam a resposta relevante e acessível para outras pessoas. Dito de outra forma, elas oferecem COMPREENSÃO.
- O jornalismo de soluções busca EVIDÊNCIAS - dados ou resultados qualitativos que mostram eficácia (ou a falta dela). Matérias de soluções vão direto ao ponto sobre essas evidências - o que elas nos dizem e o que não dizem. Uma resposta particularmente inovadora pode render uma boa matéria mesmo sem muita evidência - mas o repórter precisa ser transparente em relação a essa carência e por que a resposta é digna de virar notícia mesmo assim.
- Matérias de soluções revelam os defeitos de uma resposta. Nenhuma resposta é perfeita, e algumas podem funcionar bem para uma determinada população e falhar em outras. Um repórter responsável informa sobre o que não funciona e contextualiza a resposta. Ou seja, informar sobre as LIMITAÇÕES é essencial.
Exemplos do jornalismo de soluções no Brasil
- Teto e renda: ela criou projeto para regularizar moradias em favelas do Rio e ajudou a garantir os R$ 600 em meio à pandemia (UOL)
- O parto quando não se vê: audiodescrição e a legitimidade das mães deficientes visuais (Retruco)
- Não há uma história só: em busca de narrativas apagadas pelo racismo, grupos reconstroem memórias urbanas com roteiros, livros e mapas (UOL)
- “Veio a peste, mas neste ano Deus mandou a chuva para encher a cisterna” (El País)
- Como a UFPel realizou a maior pesquisa sobre a Covid-19 no mundo (Matinal)
- Dinheiro que dá em árvore (InfoAmazonia)
- Coletivo da Maré espalha informações sobre coronavírus e tenta evitar contaminação ainda maior na favela (O Dia)
- Satélites, mapas e trajeto do boi: saída para reduzir desmatamento já opera no Brasil ((o))eco
- Com envolvimento da comunidade, casos de malária caem quase 20 vezes no norte do Amazonas (Mongabay)
- Com tecnologia e pais, Vitória põe 71% das crianças em creches (Folha de S. Paulo)
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Este artigo foi originalmente publicado pela Solutions Journalism Network e republicado na IJNet com permissão.
Foto por Daniele Franchi no Unsplash.