As taxas crescentes de desemprego e os lockdowns frequentes durante a pandemia limitaram o acesso de famílias à alimentação. Estes dois fatores, dentre outros, provocaram o aumento da insegurança alimentar e impactaram negativamente a saúde das pessoas.
Durante o webinar do ICFJ "Desnutrição antes e depois da COVID-19", o diretor do Departamento de Nutrição para a Saúde e Desenvolvimento da Organização Mundial da Saúde, Dr. Francisco Branca, disse que disrupções na cadeia de fornecimento de alimentos causaram o aumento de preços e aumentaram as preocupações sobre segurança alimentar. Uma vez que três bilhões de pessoas no mundo não podem arcar com uma dieta saudável, ele disse, o sistema alimentar está aquém do que é necessário durante a atual crise sanitária.
"A pandemia da COVID-19 nos ensinou que sistemas alimentares são vulneráveis", disse Branca, que discutiu os efeitos devastadores que a pandemia teve na nutrição e saúde das pessoas, e como mecanismos de proteção social, como serviços de saúde, têm sido insuficientes.
Branca notou que as crianças têm sido as mais duramente afetadas pela desnutrição, uma vez que o fechamento das escolas eliminou uma fonte importante de refeições nutritivas. Apesar da dificuldade de coletar dados durante a pandemia, alguns nutricionistas antecipam que um adicional de 6,7 milhões de crianças sofreram com a desnutrição no ano passado — um aumento de quase 15%.
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Há uma necessidade urgente de assegurar que crianças tenham acesso contínuo à alimentação saudável ao longo da atual crise de saúde global e além. As soluções incluem, segundo Branca: promover acesso a dietas saudáveis e acessíveis, investir na nutrição materna e das crianças; ampliar os serviços que detectam e tratam o baixo peso infantil; manter o acesso de crianças vulneráveis a refeições nutritivas em escolas; expandir a proteção social para preservar o acesso tanto a refeições nutritivas quanto a serviços essenciais.
Há uma carência na mídia de reportagens que explicam porque pessoas em situação de pobreza estão sofrendo com desnutrição. Branca disse que as pessoas tendem a generalizar, quando o que é preciso é explorar profundamente a dinâmica que impulsiona a pobreza. É uma questão de entender as circunstâncias por trás das estatísticas.
Por outro lado, as histórias positivas incluem casos em que houve investimento público em nutrição. "A Etiópia é um caso de sucesso na redução do déficit de crescimento", disse Branca — um resultado de investimento governamental e intervenções em diversas áreas.
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De acordo com a UNICEF, o governo etíope agiu de forma decisiva "na saúde e em outros setores específicos da nutrição para implementar políticas, programas e intervenções em larga escala para reduzir significativamente todas as formas de desnutrição entre os grupos mais vulneráveis, crianças pequenas e mulheres grávidas e lactantes".
Will Moore, CEO da Eleanor Crook Foundation, observou: "A maioria das pessoas não sabe disso, mas no mundo de hoje a desnutrição ainda é a causa principal da mortalidade infantil. Para milhões de famílias, ano após ano, a desnutrição significa a morte lenta e dolorosa de uma criança".
Assista o vídeo completo do webinar aqui.
Taylor Dibbert é gerente de programas no International Center for Journalists (ICFJ).
Financiado pela Eleanor Crook Foundation, a bolsa de reportagem Global Nutrition and Food Security é parte da iniciativa global do ICFJ de reportagem sobre a crise global de saúde.
Foto por Shumilov Ludmila no Unsplash.