Quando a pandemia varreu o mundo há mais de um ano, pensei: ok, é isso. Agora não é o momento para os assuntos positivos e construtivos que normalmente abordamos no Squirrel News. O que estava se desenrolando era muito mais importante e mais sério — taxas de infecção crescendo exponencialmente, toques de recolher repentinos mesmo em democracias, imagens de centros de terapia intensiva sobrecarregados, caixões empilhados uns sobre os outros.
Grande erro. Eu — e várias outras pessoas — levamos tempo para perceber que a pandemia iria durar por um bom tempo, e nós não deveríamos simplesmente sentar e ver tudo pegando fogo. Em vez disso, deveríamos tentar ajudar a encontrar uma saída.
À medida que a crise piorava, e quanto mais muitos políticos agiam de forma caótica, foi ficando mais claro que faltava algo: soluções junto com jornalismo aprofundado e de alta qualidade sobre as mesmas.
[Leia mais: como dados reforçam jornalismo de soluções]
Reportagens focadas em soluções podem ter salvado vidas
Eu li reportagens na mídia alemã sobre esforços bem sucedidos de rastreamento de contatos em países da Ásia que poderiam nos ensinar muito. Isso incluiu uma matéria sobre a Coreia do Sul no início de 2020 e outra sobre rastreamento inverso de contatos no Japão no fim do ano. Não mais que isso.
Por que houve tão poucas matérias? Talvez de forma relacionada, a Alemanha teve grande dificuldade com as iniciativas de rastreamento de contatos durante a pandemia.
As consequências foram literalmente fatais, uma vez que identificar infecções e contatos de risco é vital para reduzir a disseminação do vírus. Especialmente no primeiro ano da pandemia. Quanto mais isso funciona, mais infecções são evitadas e mais vidas podem ser salvas. Mais reportagens focadas em soluções poderiam ter ajudado a melhorar o conhecimento da população sobre essas medidas e colocado mais pressão nos políticos para agirem em conformidade.
Como cidadão, eu também adoraria ter visto uma mudança de direção a um estilo mais ativo de política. Mas o que poderia provocar isso? A mídia e a população poderiam ter acelerado ou encorajado isso? E se pudessem, qual seria a mola propulsora senão o jornalismo de soluções?
A natureza da crise da COVID-19 facilitou esse tipo de jornalismo. As questões em torno da pandemia eram relativamente fáceis de entender: havia um problema claramente definido — o vírus — e, com as vacinas, uma solução ideal. As pessoas aprenderam significativamente sobre virologia e doenças infecciosas, e houve um aumento de podcasts comandados por especialistas e de debates extensivos sobre a necessidade de soluções de curto e médio prazo, como uso de máscaras e distanciamento social.
O The Guardian, por exemplo, disse ter "aumentado [sua] cobertura construtiva de duas ou três reportagens semanais focadas em soluções para duas ou três por dia".
"Finalmente uma outra perspectiva"
Nós lançamos o Squirrel News em junho de 2020, poucas semanas após a primeira onda mundial de altas taxas de infecção, lockdowns e hospitais lotados. Foi revelador ver como nossa curadoria de reportagens de solução ajudou os leitores a lidarem com esses tempos difíceis.
Mas a necessidade por esse tipo de jornalismo já existia bem antes da pandemia. Isso fica óbvio em muitas resenhas do Squirrel News nas lojas de aplicativos. Uma das palavras com as quais nos deparamos repetidamente é "finalmente". Os leitores têm explicado para nós como nossa abordagem construtiva tem os ajudado a atravessar a crise.
Alguns telejornalistas alemães que nos visitaram para uma filmagem meses atrás disseram que estavam felizes de cobrir um assunto positivo. Eles perceberam como estavam cansados de ter que noticiar somente assuntos com altos níveis de drama e conflito para atrair uma audiência maior. Se eles tivessem vindo antes, teria enviado para eles o link desse estudo recente sobre jornalismo de soluções que mostra como ele tem um desempenho muito melhor, em diversos aspectos, na comparação com o jornalismo focado em problemas.
[Leia mais: Como informar de maneira construtiva evitando polarização]
Feedback dos leitores
Uma das reações mais pungentes — e que inclusive gerou a colaboração em um podcast — veio do comediante e escritor de Los Angeles Ed Crasnick, cujo trabalho com comédia tem foco na saúde mental. Ao descobrir o Squirrel News, Cranisck entrou em contato explicando o que nossa pequena iniciativa jornalística provocou nele.
"Eu amo o Squirrel News porque ele muda sua saúde mental sem falar de saúde mental", diz. "Todo mundo deveria ler esse tipo de notícia. E não estou nem falando das matérias; as manchetes por si só já bastam. Elas se chamam manchetes [headlines em inglês] por um motivo, elas entram direto na sua cabeça [head em inglês]." Apesar de a origem da palavra "headline" poder ser diferente, eu prefiro a definição de Crasnick. Ela descreve com máxima clareza um dos principais impactos do jornalismo de soluções.
Um leitor que entrou em contato conosco em janeiro expressou uma opinião parecida: "Eu acho que todo mundo deveria saber sobre vocês. O que vocês começaram poderia contribuir para uma mudança positiva para a sociedade no longo prazo".
Outros escreveram, por exemplo, que "o conceito é ótimo porque finalmente algo está sendo feito para conter o fluxo de notícias ruins que causam sentimento de impotência, resignação e medo". Ou então apenas descreveram o Squirrel News como "uma mudança prazerosa do jornalismo negativo que geralmente prevalece". Outros até destacaram que "voltaram a gostar de ler notícias" depois de anos evitando-as.
Jonathan Widder é o fundador do Squirrel News, uma plataforma de curadoria e aplicativo para jornalismo de soluções. Antes disso, ele trabalhou como jornalista freelance para grandes jornais alemães e ajudou a lançar várias startups de jornalismo.
Foto por Kaboompics.com no Pexels.