É bem possível que você vai parar de ler este texto antes de chegar ao fim do parágrafo. Uma pesquisa de longa duração pode explicar o porquê: em 2004, os participantes do estudo conseguiam focar em uma única tarefa diante de uma tela por uma média de dois minutos e meio. Em 2016, essa média havia caído para 47 segundos. Junte isso a um mundo lotado de questões agudas, de múltiplas guerras à incerteza econômica e uma crise climática crescente, e você começa a ver o problema. As matérias feitas por jornalistas são fundamentais e complexas, no entanto podem ser ignoradas até mesmo pela audiência mais interessada se não forem percebidas como um "conteúdo" intrigante o bastante.
Qual a solução? Conte histórias melhores. Tão arrebatadoras que você não vai querer largá-las.
E como você produz um texto atraente? Tendo em vista os riscos elevados citados acima, pode ser contraintuitivo dizer "pense como uma criança", mas é verdade. Olhando em retrospectiva para a minha carreira, que inclui a redação de centenas de textos longos, eu sei que as piores matérias que escrevi foram aquelas em que eu franzi as sobrancelhas, mordi a ponta da minha caneta e tentei tratar o assunto como um intelectual de barba grisalha. Desde a fase de geração de ideias eu censurava qualquer ideia que parecesse frívola ou incomum.
Já os melhores textos adotaram a esquisitice. A minha primeira matéria especial longa de ciência para a Discovery Channel Magazine foi meio maluca para uma pessoa que nunca chegou a entender ciências naturais. "Você consegue escrever sobre o novo Colisor de Hádrons do CERN?", perguntou meu editor. "Queria fazer uma matéria sobre física quântica."
Acenando confiante e suando excessivamente, joguei no Google Hádron + CERN + quântica. Desorientado porém destemido, consegui uma entrevista com um professor de partículas físicas no CERN (a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). Meu desafio era começar a entrevista de um jeito que estabelecesse instantaneamente os interesses, comunicando ao professor o tom acessível com o qual a marca Discovery Channel conta uma história — com aquele entusiasmo de nerd com olhos arregalados. "Então, professor", comecei. "Você acha que conseguiria ganhar do Einstein em uma disputa de queda de braço?" Houve uma longa pausa do outro lado da linha antes do acadêmico começar a rir. O gelo havia sido quebrado e ele compartilhou respostas fantásticas sobre um experimento complexo e definidor de uma era de um jeito que tanto um estudante quanto sua avó poderiam gostar.
Foram muitas lições para mim: aquele acadêmico, até mesmo aqueles com seus trajes de cientista estereotípicos, também são pessoas e gostam de uma sessão de perguntas e respostas que não se parece com uma repetição de todas as outras entrevistas que eles já deram para a imprensa. Aprendi que uma pergunta seca e direta vai retornar uma resposta igualmente seca. E o mais importante, quanto mais você se divertir no seu processo de apuração, mais isso vai transparecer para os seus leitores.
Então o que mais você pode fazer para voltar no tempo e pensar como uma criança quando estiver se preparando para uma matéria?
Não tenha medo de parecer idiota.
Afinal, as crianças não o são. Elas se deleitam com sua curiosidade e não têm vergonha daquilo que não sabem. Se você vai abordar um tópico que não conhece bem, comece a entrevista permitindo que o especialista saiba disso, assim ele vai conversar com você sem usar jargões, o que é exatamente o que os leitores esperam do produto final. "Explique isso pra mim como se eu tivesse cinco anos" é um atalho excelente para chegar à clareza (e um fórum bastante útil no Reddit).
Não estabeleça limites.
Quer construir sua carreira? Algo que ajuda é fantasiar como uma criança de colo, principalmente se você for freelancer. É fácil demais cair no pessimismo e chamar de "realista" a sua decisão de não enviar sugestões de pauta para a sua publicação dos sonhos. Mas os clichês são verdadeiros: você não sabe o que é possível se você não tentar e, mais importante, continue tentando obstinadamente, fracasso atrás de fracasso.
Eu tive que mandar sugestões de pauta para a BBC e a National Geographic uma meia dúzia de vezes antes de conseguir uma matéria. Duas coisas me ajudaram a seguir em frente: primeiro, eu aprendi a gostar do processo de fazer sugestões, pensando nele como um jogo de longa duração. Segundo, mudei minha mentalidade. Cada rejeição que chegava no meu email eu levava não como um beco sem saída, mas como um passo adiante; uma chance de sugerir a pauta rejeitada em outro lugar ao mesmo tempo em que tinha uma ideia melhor para enviar ao primeiro editor. Como escreveu Mark Twain: "tudo que você precisa na vida é ignorância e autoconfiança; aí o sucesso é certo".
Faça perguntas esquisitas.
Não só aos entrevistados, mas sobre você. Há um certo estágio na primeira infância em que as crianças fazem perguntas que impressionam até o mais culto dos adultos. Perguntas como "de onde vem o vento?" e "cachorros se sentem sozinhos?". Não descarte perguntas assim como se fossem meras bobagens. Em uma época em que incêndios extremos ficam ainda piores por causa do vento persistente, nós deveríamos estar nos perguntando como nasce uma brisa. Uma boa pergunta também toca o coração de uma pauta que pode destravar uma questão maior. Lembra quando eu disse que enviei várias sugestões para o editor da National Geographic? A pauta que foi aceita focava em uma pergunta-chave: "com o caos da mudança climática ficando mais extremo e o número de vítimas fatais aumentando, mais pessoas vão começar a acreditar em fantasmas?" Puristas podem achar que perguntas assim não passam de um caça-cliques chamativo, mas elas pescam um leitor que de outra forma teria ignorado a matéria e permite que ele aprenda sobre questões fundamentais de uma forma que irá se lembrar.
Perto do fim de sua carreira, Picasso observou pesarosamente que "eu já desenhei como Rafael [pintor renascentista], mas levei uma vida inteira para desenhar como uma criança". É por isso que criatividade é tanto sobre desaprender quanto é sobre aprender. Esteja você tentando ingressar no jornalismo ou reacendendo sua centelha criativa para lidar com as altas taxas de esgotamento da profissão, pode valer a pena perguntar não só "o que eu posso desaprender em termos do meu processo e hábitos estabelecidos?" mas "como o meu eu de dez anos de idade escreveria essa reportagem?" A resposta pode render uma matéria melhor.
Foto por National Cancer Institute via Unsplash.