Uma reportagem especial é exploratória. Ela informa, inspira e entretém os leitores ao ir além dos fatos e aspas, respondendo questões sobre o que está acontecendo no mundo.
Embora esse formato fosse equiparado a um artigo publicado em jornais e revistas 10 ou 20 anos atrás, encontrar uma definição precisa é mais difícil nos dias de hoje. Mary Hogarth, especialista em mídia, educadora e autora do livro Writing Feature Articles: Print, Digital And Online, diz que uma reportagem de fôlego deve combinar elementos multimídia que vão aprimorar a experiência da audiência e oferecer uma perspectiva de 360 graus do assunto: "é fundamental assegurar não só que o conteúdo tenha valor como também engaje audiências no formato impresso/digital e online."
Muitos freelancers optam por escrever reportagens desse tipo porque normalmente elas pagam mais. "Quanto mais palavras um editor solicita, mais você ganha. Pesquisar demanda tempo, por isso tente extrair várias pautas de um mesmo tópico adaptando o ângulo para diversas publicações que não sejam concorrentes", diz a coach de jornalismo e palestrante Susan Grossman. Isso pode significar reenquadrar e revender os elementos da sua pauta em momentos diferentes para públicos diferentes e com aspas diferentes.
Porém, este é um trabalho que tem seus desafios. O mais comum é elaborar ideias relevantes e viáveis. "Não é difícil simplesmente encontrar um assunto, e sim encontrar um assunto que sustente uma reportagem completa e encontrar fontes que sejam acessíveis", diz Ottavia Spaggiari, jornalista independente que escreve artigos longos para a New Yorker e o The Guardian, dentre outros.
Grossman aponta o problema das ideias genéricas: "Um editor está em busca de algo que tenha um elemento temporal, e particularmente que olhe para frente. Você precisa pensar em uma base para sustentar a pauta, e eu diria que um elemento noticioso é um componente essencial de uma reportagem especial."
Esse estilo de jornalismo requer pesquisa e criatividade, mas você pode aprender as habilidades necessárias. "As melhores reportagens são aquelas pelas quais você tem paixão por elas. Seu trabalho é incorporar as respostas a quaisquer perguntas que o seu leitor possa ter", explica Grossman.
No desenvolvimento de uma narrativa significativa, tenha sempre em mente o assunto e a sua audiência. Você também pode usar as dicas abaixo das três especialistas para dar o primeiro passo.
Pesquise primeiro
Conhecer todo o seu material vai facilitar a redação de um reportagem aprofundada. "Tem muito a ver com conciliar os diferentes pedaços de informação, as aspas e os dados depois de você separar tudo", diz Grossman. "Sugiro que você não comece a escrever enquanto não tiver toda a sua pesquisa pronta."
Spaggiari acrescenta: "Eu leio primeiro as transcrições de todas as entrevistas, destacando não só as aspas mas também os principais temas que emergem." Na sequência, ela cria um quadro com todas as fontes. Depois de cada entrevista, ela anota as principais conclusões.
Não comece pelo começo
Grossman compara a redação de uma reportagem especial com a criação de uma pintura. "Você não começa na parte de cima da tela e sai pintando dali pra baixo", diz. "Em uma matéria especial, eu simplesmente coloco os diferentes componentes da pauta em um rascunho, os desenvolvo, reflito e pesquiso a respeito deles, relaciono com estatísticas, adiciono as aspas, depois olho para o todo e penso: para qual publicação eu pretendo produzir essa matéria? E então eu a modelo no mesmo estilo."
A fórmula já está lá no veículo que você quer focar, por isso não é preciso ter muita criatividade. Simplesmente espelhe o estilo da publicação.
Conheça o seu público-alvo
É basicamente sobre o que a sua audiência quer e precisa saber.
"Primeiro, é imperativo conhecer o seu mercado", diz Hogarth. "Segundo, eu recomendo fazer uma pesquisa minuciosa de uma publicação lendo várias edições passadas e vasculhar as redes sociais para ter uma perspectiva profunda dos principais temas ou pilares editoriais e a audiência dela."
Escrever reportagens concisas e bem estruturadas que reflitam o estilo da sua publicação-alvo também é fundamental. "Eu sempre aconselho adotar uma abordagem de 'mostrar em vez de dizer' na hora de sugerir ideias para os editores, incluindo uma manchete e um parágrafo inicial para demonstrar que você consegue adotar o tom e o estilo da revista ou do jornal", acrescenta Hogarth.
Crie uma linha do tempo
Ao trabalhar em matérias mais longas e de demanda mais intensa, você pode acabar tendo tanto material que fica difícil descobrir qual era o ângulo original da pauta lá no começo. Spaggiari, que já trabalhou em diferentes reportagens especiais narrativas e investigativas, sugere criar uma linha do tempo em um documento ou planilha.
"Eu gosto de usar [planilhas]. Por exemplo, escrevo a data em uma célula e ao lado coloco o evento", explica. "A linha do tempo é o farol que te guia na redação de uma matéria longa."
Se você estiver lidando com questões complexas, pode ajudar traçar uma história e elaborar um arco narrativo. "Isso te permite entender o assunto bem e não perder de vista nenhuma passagem da história — e também ajuda a explicá-la para os seus leitores", acrescenta Spaggiari.
Questione as suas dificuldades
"Se você está com dificuldade para escrever uma reportagem, você precisa se perguntar: ela precisa ser escrita? Qual o resultado que você terá ao escrevê-la? Quem vai se interessar por ela ou será afetado por ela?", diz Grossman.
Se você não consegue identificar porque ela é importante ou o que você quer dizer, ela acrescenta, então o seu problema é não ter certeza se essa reportagem especial vale ser feita. É quase como se você não estivesse pronto até sentir a paixão e a energia necessárias. "Você pode ter uma ideia, deixá-la de lado e depois esperar e ver se algo que acontece no noticiário é sobre a questão da sua matéria", sugere Grossman.
Pense sobre o que está acontecendo no debate público que possa tornar a sua história oportuna e relevante. "Eu tive vários estudantes e clientes que tiveram ótimas matérias aceitas por um jornal, mas que não foram publicadas. E então o editor chegou um dia e falou: 'ah, isso acabou de acontecer, essa semana é o momento perfeito para a sua matéria!'", diz Grossman. "Mas, na prática, cabe a você fazer isso."
Foto via Pexels por Ron Lach.
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