Uso do TikTok para impulsionar notícias

Apr 12, 2023 em Redes sociais
Hand holding a phone with TikTok logo

Apesar da possibilidade iminente de ser banido dos Estados Unidos, o TikTok provavelmente não vai sofrer tão cedo uma redução significativa de sua popularidade no mundo. 

O aplicativo provou ser uma plataforma onde a informação pode viralizar rapidamente — de memes e dancinhas a desinformação. Mas ele também pode ser usado para desmascarar informações falsas e comunicar fatos para um número grande de pessoas. Atualmente, metade dos veículos têm uma conta no TikTok, na tentativa de engajar a audiência esmagadoramente jovem do aplicativo: nos Estados Unidos, mais da metade de todos os usuários do TikTok têm entre 18 e 24 anos, e mais de 90% têm menos de 35.  

 

 

Durante uma sessão da Conferência Global Empowering, do ICFJ, o chefe da equipe de TikTok e correspondente LGBTQ+ do OpenlyEnrique Anarte, compartilhou com jornalistas como produzir TikToks jornalísticos que engajam. Confira a seguir o que ele disse:

A página "Para Você"

Muitas pessoas que ganham impulso no TikTok conseguem esse feito através da página "Para Você", que usa um algoritmo para prever o que um usuário tem interesse em assistir na sequência. Outras plataformas de redes sociais, como o Twitter e o Facebook, têm páginas de sugestões guiadas por algoritmos semelhantes, mas o TikTok conseguiu fama global por causa da precisão de suas recomendações.

"A página 'Para Você' vai definir tudo, cada minuto que você trabalhar nesse aplicativo", disse Anarte. A maioria das pessoas consome conteúdo nessa página, ao contrário da página "Seguindo", que só tem conteúdo feito ou compartilhado por criadores de conteúdo que o usuário segue.

"Você não pode esperar que as pessoas vão ver [seus vídeos] porque você é um veículo grande ou porque tem 100 mil seguidores. Um veículo grande com mais de 150 mil seguidores [pode ter] 2 mil ou 3 mil visualizações porque as pessoas não estão consumindo os vídeos pela página 'Seguindo'", disse Anarte.

Para assegurar que a audiência pretendida veja seus vídeos, satisfaça o algoritmo. Jornalistas podem fazer isso incluindo palavras estratégicas, hashtags e palavras-chave nas descrições de seus vídeos ou no texto dos vídeos, com foco em um grupo de pessoas específico. Motores de busca também podem ler esses elementos de texto e permitir que o seu conteúdo chegue a ainda mais pessoas.

Narrativas nativas

Para produzir uma matéria que engaja no TikTok, jornalistas devem atualizar seus formatos para focar no seu público-alvo.

Uma forma de fazer isso é por meio da "narrativa nativa", que permite que os usuários aproveitem os recursos embutidos do aplicativo para criar conteúdo feito especificamente par o TikTok. Ao ir ao encontro dos usuários do TikTok onde eles estão, jornalistas podem ajudar os jovens que usam o aplicativo com frequência a se interessarem pelas notícias. 

"O público online passou a ser um pouco cauteloso de veículos, de jornalistas", disse Anarte. "Eu acho que as pessoas estão cansadas dos mesmos formatos tradicionais nesses aplicativos. E é aí que eu acho que os formatos nativos do TikTok são úteis."

Narrativas nativas podem incluir o uso de recursos exclusivos do TikTok, incorporação de áudios e músicas que são tendência e a mudança regular do estilo de reportagem. O The Washington Post, por exemplo, faz duetos em seus vídeos  – ou seja, cria novos vídeos que são reproduzidos junto com um ou mais outros vídeos existentes – sempre que há um tiroteio em massa nos Estados Unidos. Essa narrativa inovadora ilustra de forma eficaz tiroteios em massa anteriores, o que pode ser mais impactante que um único vídeo sobre o evento. 

Outro recurso exclusivo do TikTok, a costura permite que um vídeo seja reproduzido por três a cinco segundos, para que então um outro usuário crie uma resposta ao vídeo original. É um formato particularmente útil que jornalistas podem empregar para combater desinformação e desmascarar mitos em outros TikToks, ou para aprofundar em tópicos que outros criadores de conteúdo já tenham abordado.  

Jornalistas também podem usar áudios que são tendência como trilha de fundo para espalhar suas matérias. Como usuários podem fazer buscas por vídeos com base nos áudios usados, criar um vídeo que usa um áudio ou música que é tendência pode ajudá-lo a alcançar uma audiência maior. 

Por fim, qualquer pessoa que já viu um TikTok ou usou o aplicativo provavelmente está familiarizada com o formato de esquete, no qual o criador de conteúdo assume diferentes papéis para encenar uma situação – ou até mesmo atribui um papel ao espectador. Jornalistas podem usar esse formato pouco convencional para discutir uma pauta importante de um jeito que engaja. 

"É uma ótima forma de dar vida às matérias", disse Anarte. "[Encenar os dois lados de uma matéria] me permite mostrar um lado diferente, o que me ajuda a fortalecer minha imparcialidade como jornalista, mas é como se fosse um vídeo de entretenimento."

Esses aspectos da narrativa nativa são principalmente importantes para quem não tem uma base estabelecida, porque dão mais visibilidade: mesmo se você tem poucos seguidores nas redes sociais, você pode atrair milhares ou mesmo milhões de visualizações.

"Se você não é um grande veículo jornalístico, vai ser muito mais difícil fazer com que as pessoas te sigam, mas o TikTok se baseia no quanto o seu vídeo é bom, não em quantos seguidores você tem", observou Anarte.

Engajamento da audiência

A relação direta que jornalistas, na condição de criadores de conteúdo, precisam ter com sua audiência distingue ainda mais o TikTok do jornalismo tradicional.

"O TikTok nos forçou a parar de falar de um jeito condescendente para nossa audiência e começar a falar para ela – começar a engajar com ela", disse Anarte. "A relação que você tem com sua audiência aqui é superimportante, ser aberto a opiniões e críticas é superimportante."

De fato, a audiência do TikTok admira os criadores de conteúdo quando eles estão dispostos a fazer correções ou abordar pontos de vista opostos, continuou Anarte. Em troca, jornalistas podem usar sua audiência como fontes de apuração.

"[Os usuários do TikTok] vão ser os primeiros a pedir: 'você pode cobrir esse caso que acabou de acontecer no meu país?' Eles são provocativos e às vezes você pode até chegar em uma notícia antes da Reuters ou da AP."

Porém, postar vídeos no TikTok nem sempre é a melhor escolha para um jornalista ou veículo, advertiu Anarte. O TikTok não se encaixa na estratégia editorial de todas as redações, e só porque muitas pessoas usam o aplicativo não quer dizer que todo jornalista deve usá-lo.

Para aqueles que decidirem adicionar o TikTok ao seu arsenal de reportagem, é importante ter consciência das vontades e expectativas de sua audiência. "Esta é uma plataforma de entretenimento", disse Anarte. "Você está competindo com vídeos de gatos, vídeos sensuais pedindo biscoito... você precisa tornar a notícia relevante."

Para impulsionar o engajamento, jornalistas devem, acima de tudo, manter suas postagens sucintas, priorizar seus seguidores e suas necessidades, e serem autênticos.

"Você não está no TikTok para viralizar; você está no TikTok mesmo é para chegar à audiência que você quer alcançar", disse Anarte. "É melhor ter um vídeo com poucas visualizações, mas com um engajamento muito positivo das pessoas que você quer alcançar."


Disarming Disinformation é um projeto do ICFJ com financiamento da Scripps Howard Foundation, organização afiliada ao Scripps Howard Fund, que apoia os esforços beneficentes da The E.W. Scripps Company. O projeto de três anos vai empoderar jornalistas e estudantes de jornalismo para combater a desinformação no jornalismo.

Foto por Olivier Bergeron via Unsplash.