Como usar podcasts para impulsionar reportagens de credibilidade

Mar 31, 2023 em Jornalismo multimídia
Man holding a microphone to the camera

Mais de 400 milhões de pessoas – um em cada cinco usuários de internet – são ouvintes de podcasts atualmente. O número de ouvintes explodiu, principalmente nos últimos anos, e especialistas preveem que esse crescimento vai continuar. 

Alguns podcasts, como o NPR Politics e o Global News Podcast da BBC, cultivaram uma audiência grande por meio de reportagens críticas sobre notícias importantes e a marca reconhecida do veículo. 

Outros explodiram graças às redes sociais e ganharam uma grande porção de seus seguidores por causa dos cortes publicados no TikTok ou Instagram. Basta olhar para o Call Her Daddy, podcast bastante popular sobre conselhos sexuais, ou o Wizards of Waverly Pod, que trata dos bastidores do programa da Disney.  

TikTokers, YouTubers, atletas profissionais, atores e, convenhamos, provavelmente sua mãe ou seu pai também, lançaram seus próprios podcasts nos últimos anos em vez de ficarem pra trás.

 

 

Devido à sua popularidade, os podcasts podem ser um meio eficaz para combater a desinformação desenfreada na mídia e nas redes sociais.

Em uma sessão recente da Conferência Global Empowering the Truth, o ICFJ falou com Amit Varma, escritor, colunista e apresentador do podcast semanal The Seen and The Unseen, sobre o papel que os podcasts desempenham no impulsionamento de reportagens de credibilidade. Varma também deu dicas sobre como começar um podcast.

Amplificação da verdade

Informações falsas são um problema ao longo da história. Nosso conhecimento do mundo é incompleto, e em um esforço para preencher as lacunas, nossas mentes ficam vulneráveis à desinformação, explicou Varma.

"As notícias falsas sempre estiveram entre nós, mas o problema é pior hoje por causa da tecnologia e das redes sociais", acrescentou. Varma explicou que as redes sociais criam um espaço para o tribalismo ideológico se enraizar; batalhas narrativas surgem e os usuários assumem posições extremas, incentivados a atacar aqueles que venham a discordar deles.

A verificação de fatos sozinha não consegue dar conta das vastas quantidades de desinformação que circulam hoje. As pessoas precisam desenvolver uma "mentalidade cética", disse Varma, abrindo-se para novas ideias e aceitando que não precisam ter uma opinião sobre tudo.

"O podcast é a mídia perfeita para construir essa mentalidade cética", disse Varma.

Em resumo, criadores de conteúdo podem amplificar narrativas verdadeiras em podcasts e fazer com que os ouvintes consumam informação de forma mais crítica.

Conte histórias que engajam 

Criadores de podcast podem empregar técnicas de narrativa práticas e que engajam para atrair ouvintes e fazer com que eles continuem retornando.

Iniciantes devem manter a simplicidade. Quando se trata de formato somente em áudio, estrutura é importante – e menos é mais na maioria das vezes. Estimule um ambiente íntimo com seus ouvintes, no qual você fale com eles e não para eles. Se você tiver convidados, trate-os com respeito. Não interrompa e dê a eles tempo para contar suas histórias e apresentar ideias, mesmo que isso signifique você mais ouvir do que falar. 

Identifique as histórias que você quer abordar. Há chances de que vai haver uma audiência ávida para ouvir. Você pode lançar um podcast por conta própria – uma pessoa é o bastante se você tem uma história envolvente para contar.

Mostre em vez de falar. Se ao ler livros você já conseguiu visualizar na sua mente cenas e personagens, você sabe o poder das palavras para estimular imagens mentais. Não é diferente com o áudio.

Defina sua história e fale com voz ativa. Varma sugeriu que você se pergunte: "você é o principal narrador? (Não tem problema algum.) Você é o facilitador para outros personagens? Você é a história?"

Dedique um tempo para que seus esforços funcionem. Considere produzir dois episódios por semana durante um ano, e depois avalie o desempenho deles, sugeriu Varma. Se você não vir os resultados que gostaria, pode partir para outra, sabendo que você realmente tentou.

Construa e engaje sua audiência

Há relativamente poucas barreiras de entrada para criadores de conteúdos interessados em podcasts. Não há exigências de taxas ou licenças, e embora os criadores grandes usem equipamentos caros, novatos podem começar somente com um celular ou laptop.

"Você não precisa de uma licença para começar um podcast", diz Varma. "O limite é a sua imaginação e a sua vontade."

Diferentemente de, digamos, programas de rádio, que podem ter problemas com taxas e limites de tempo, podcasts têm o dom de atrair audiências com interesses nichados. Isso facilita o surgimento de podcasts que cobrem uma variedade de temas – sejam histórias de crimes abomináveis, política ou os sempre importantes que discutem Harry Potter ou suas séries favoritas, como The Office.

Ouvintes de podcasts normalmente são audiências cativas – pessoas se deslocando em seus carros, viajando de avião ou se exercitando. Os ouvintes não estão pulando de uma plataforma para outra como estariam se estivessem nas redes sociais, por exemplo. Isso cria sessões mais longas com mais ouvintes engajados. Para engajar ainda mais os ouvintes, jornalistas podem republicar o conteúdo nas redes sociais. 

Varma apontou a teoria dos 1.000 fãs verdadeiros para explicar que você não precisa de muitos seguidores, como acontece com grandes criadores, para ter sucesso. Um criador de conteúdo precisa desenvolver uma relação direta com apenas 1.000 ouvintes leais, conforme a teoria, para financiar de forma sustentável um projeto.

"É o jeito mais fácil de consumir conteúdo aprofundado", observou Varma. "O rádio está a todo volume no carro enquanto o podcast é uma voz na sua cabeça."


Disarming Disinformation é um projeto do ICFJ com financiamento da Scripps Howard Foundation, organização afiliada ao Scripps Howard Fund, que apoia os esforços beneficentes da The E.W. Scripps Company. O projeto de três anos vai empoderar jornalistas e estudantes de jornalismo para combater a desinformação no jornalismo.

Foto por Medy Siregar via Unsplash.