O jornalismo enfrenta uma crise existencial há duas décadas. Redações foram fechadas, demissões se tornaram comuns e o consumo de fontes tradicionais de notícias, incluindo o impresso, rádio, TV e digital, diminuiu.
Ao mesmo tempo, a audiência em plataformas de redes sociais focadas em vídeos, como TikTok, YouTube e Instagram, está em ascensão. Essa mudança para as redes sociais criou um espaço para criadores de conteúdo compartilharem informações e contarem histórias sobre comunidades específicas e também para que plataformas de mídia comandadas por jornalistas prosperem.
"Os veículos maiores estão em declínio porque o custo da estrutura é muito alto para justificar a receita que está sendo gerada", diz Ava Seave, professora de negócios na Columbia Business School.
Se você está considerando lançar o seu próprio veículo para operar principalmente nas redes sociais, confira a seguir alguns conselhos de profissionais da área:
Uma abordagem de "cafeteria"
Para os jornalistas que estão quebrando a cabeça para começar um veículo independente pequeno, entender como uma cafeteria funciona é um bom ponto de partida, segundo Alan Soon, bolsista do programa ICFJ Knight e cofundador da Splice Media, startup de desenvolvimento de mídia com sede em Singapura que oferece cursos e oficinas para empreendedores de mídia.
Quando uma pessoa visita uma cafeteria, ela muitas vezes está atrás de mais que um simples café. O ambiente que a cafeteria oferece é um atrativo – um espaço no caminho entre a casa e o trabalho onde as pessoas podem se encontrar com amigos e colegas, fazer reuniões ou ler um livro.
Considere a estratégia de crescimento proposta pelo The Wood Roaster, uma cafeteria que começou como um pequeno estabelecimento na Austrália. Cinco dos sete pilares da empresa para maximizar os lucros não têm nada a ver com café. Em vez disso, o negócio foca em melhorar a experiência do cliente, criar fidelidade, potencializar a tecnologia e otimizar os custos.
Quando se trata de conteúdo, veículos de mídia devem focar em identificar qual o tipo de informação que vai ajudar os leitores a lidar com questões de suas vidas pessoais e profissionais.
"Se as pessoas encararem um veículo de mídia com a mente aberta, elas percebem muito rápido que não é sobre o conteúdo ou um artigo ou o formato. É sobre ajudar alguém a tomar decisões melhores", diz Soon. "Nós precisamos primeiro descobrir qual é a necessidade sem simplesmente criar mais conteúdo."
Defina a sua audiência
O jornalismo dos veículos tradicionais foi criado para atender às massas. Mas a mídia na internet é cada vez mais centrada no usuário e baseada em interesses. O objetivo "é ser uma coleção de pontos de vista de nicho, ideias de nicho, experiências de nicho", diz Soon.
Os veículos devem identificar e atender audiências tanto por região geográfica quanto assunto de interesse, diz Seave, que além de professora de administração é também cofundadora da Quantum Media, empresa de consultoria de mídia com sede em Nova York.
"Se você tem um interesse como horticultura no nordeste dos EUA e você publica materiais e imagens ligadas a árvores floridas, você vai achar algumas pessoas interessadas em árvores floridas", diz Seave. "Essas pessoas apoiam umas às outras e depois te pagam dinheiro pelas informações."
Isso também ajuda empreendedores de mídia a determinar as plataformas onde irão publicar. Se você escreve sobre cadeias de suprimentos ou assuntos relativos a economia e negócios, foque no LinkedIn, sugere Soon. Se você vai informar sobre cuidados com a saúde, ou mais especificamente sobre saúde da família, o Facebook pode ser uma opção melhor por causa da popularidade da plataforma entre mães e pais.
Mantenha os custos baixos
Manter os custos baixos é um aspecto crítico ao se lançar um veículo, principalmente no começo.
"É muito difícil começar algo, contratar várias pessoas e fazer dinheiro o bastante para alimentar todas essas bocas", diz a professora. É mais sustentável e lucrativo trabalhar em casa, principalmente quando sua receita vem de assinaturas ou programas de membros – fontes de receita que levam tempo para crescer.
Considere este exemplo: se você contratar um cinegrafista e um editor, e comprar um kit de iluminação e uma boa câmera para produzir vários vídeos por semana, sua abordagem vai criar uma barreira para a sustentabilidade. "Você inflou a sua estrutura de custos e nunca vai conseguir competir com um TikToker que está simplesmente diante de uma câmera fazendo vídeos rápidos", diz Soon.
Sendo assim, comece com uma estrutura simples, com um smartphone, por exemplo, e escale a partir daí. O mais importante é se certificar de que o custo de produção de um vídeo corresponde à receita ou visibilidade que você vai gerar a partir dele. Depois de construir uma audiência ativa, expandir para diferentes formatos vai ser mais viável.
Seave também sugere começar uma newsletter. Elas são econômicas e uma das formas mais confiáveis de se engajar com a audiência, construir uma comunidade e, na sequência, monetizá-la.
Também busque sempre diversificar suas fontes de receita. Doações e subsídios, por exemplo, também podem ser importantes fontes de financiamento. Este artigo da IJNet trata de diferentes fontes de receita que jornalistas independentes podem considerar.
Certifique-se de gostar de fazer negócios
Lidar com finanças, orçamento e administração faz parte da gestão de um veículo independente. São tarefas que não podem ser evitadas. "É bom saber se você não odeia essa parte dos negócios", diz Seave.
Ela sugeriu que empreendedores se perguntem frequentemente:
- Essa matéria em particular traz patrocinadores ou não?
- Como posso ser atrativo para assinantes?
- Preciso contratar um consultor?
"Se você não tem interesse ou odeia o lado dos negócios, então você não vai ter sucesso", diz Seave. "Nesse caso, você precisa de alguém para tomar conta disso, assim você pode ser criativo."
Foto por Jacek Dylag via Unsplash.
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