4 dicas de sustentabilidade que a mídia pode aprender com freelancers

Jan 31, 2024 em Sustentabilidade da mídia
Woman working on a laptop in front of a window showing mountains

Poucos assuntos sobre a mídia hoje são tão previsíveis quanto as demissões. É praticamente uma fórmula: um investidor compra um veículo de mídia e tenta consertar um modelo de negócio fragilizado, mas falha. E aí a corda arrebenta para o lado mais fraco, o da equipe editorial. 

Essa realidade com a qual grandes veículos lidam é a mesma que os freelancers enfrentaram ao longo de suas carreiras. Eles precisam aprender como prosperar – e não simplesmente sobreviver – em uma área de incerteza econômica.

A seguir estão algumas lições de repórteres freelance:

Trata-se de talento

Os grandes veículos jornalísticos muitas vezes têm inúmeros recursos, de equipes de apuração e produtores a editores, conselheiros jurídicos, dentre outros. Mas o que atrai cada vez mais o interesse dos consumidores é o talento individual na redação – jornalistas em quem eles sentem que podem confiar e que têm valores alinhados com os seus.

O jornalista freelance Jason Diamond, que escreve majoritariamente sobre cultura, acredita que os leitores buscam o trabalho dele, não importa onde ele seja publicado, por causa da reputação que ele construiu para si mesmo. "Estou descobrindo que as pessoas estão lendo uma matéria feita pelo Jason Diamond porque é uma matéria do Jason Diamond", diz.

Os veículos podem ter mais sucesso se usarem seus recursos para potencializar jornalistas qualificados e fomentar novos talentos, em vez de tentar achar pessoas que se encaixam em uma estratégia editorial que está sempre mudando.

"Jornalistas independentes – principalmente os freelancers – têm algo único para agregar e isso repercute com o público. Na minha experiência, é por isso que me procuram", diz Julia Melim, jornalista brasileira freelance que cobre estilo de vida.

Aprenda com os influenciadores

Na maioria dos casos, os influenciadores nas redes sociais não passaram pela mesma capacitação editorial que os jornalistas profissionais. Mesmo assim, os consumidores estão cada vez mais indo atrás dos influenciadores para se informar. Isso é especialmente verdade entre os jovens que usam aplicativos como TikTok e Instagram. 

Influenciadores podem dar a impressão de serem empáticos e acessíveis. De acordo com um estudo do Reuters Institute e da Universidade Oxford, 55% das pessoas que usam o TikTok para acessar notícias e 52% das pessoas que usam o Instagram para a mesma finalidade recorrem a influenciadores para obter esse tipo de conteúdo. Isso é muito superior aos 33% no TikTok e 42% no Instagram que acessam os perfis de redes sociais dos grandes veículos.

"Pra mim, engajamento nas redes sociais é tudo. Eu simplesmente sou esse tipo de pessoa e eu quero que isso fique explícito no meu relacionamento com os leitores", diz Diamond. "Eu acho que o engajamento mostra aos consumidores quem você é e os ajuda a entender o que eles vão ter ao lerem o seu trabalho."

Mas o engajamento não precisa se limitar às redes sociais. Os veículos devem dar aos jornalistas condições para que eles também sejam membros mais ativos de suas comunidades locais. Isso pode envolver participar de mais eventos da comunidade durante o trabalho ou talvez trabalhar de um café local alguns dias em vez de ir para a redação.

Invista nos jornalistas

Reconheça que o jornalismo é, em essência, um serviço para o público. Ao investir em jornalistas, você está criando a confiança da audiência. Oferecer remuneração adequada e contratos de longo prazo beneficia tanto os jornalistas quanto as comunidades que eles servem. 

A alta rotatividade que muitas redações experimentam nos dias de hoje impacta negativamente a confiança dos leitores, diz Diamond. "As pessoas não confiam mais em jornalistas e parte disso é porque há muito entra e sai dos empregos."   

Isso é um desserviço aos leitores; como em qualquer relação, não se cria confiança do dia para a noite. 

"Não dão aos jornalistas o tempo para amadurecer ou se transformar em uma presença com a qual alguém vai se sentir confortável", acrescenta Diamond.

Recorra aos humanos – não à IA

As pessoas que consomem notícias querem receber a notícia de alguém com quem eles possam interagir na plataforma que for de sua preferência. "Nós precisamos de jornalistas que estejam dispostos a dizer 'eu sou real, eu estou aqui, e estou aqui por você'", argumenta Diamond.

Em meio aos avanços da IA no ano que passou, pode ser tentador recorrer à tecnologia para atrair a confiança dos leitores. Mas essa é uma estratégia insuficiente. Quando se trata de criar confiança, ainda é mais eficaz ter humanos dando as notícias. Um estudo recente descobriu que 59% dos consumidores preferem conteúdo jornalístico feito por humanos com pouca ou nenhuma ajuda de IA.

O jornalismo de sucesso constrói relações sólidas com fontes e consumidores. Isso exige uma conexão humana, diz Melim. "Uma parte do trabalho de contar uma história é o elemento humano que você só consegue obter se relacionando com alguém, e isso é algo que a IA simplesmente não consegue replicar." 


Foto por Kristin Wilson via Unsplash.