O jornalismo de soluções é uma abordagem que examina respostas para problemas da sociedade e a eficácia das mesmas.
As reportagens normalmente incorporam quatro princípios centrais: foco nas respostas para problemas sociais; o entendimento dessas respostas; evidências concretas para avaliar soluções em potencial; e análise das limitações das respostas. Além disso, ao ajudar as redações a endereçar as necessidades de sua comunidade, esse tipo de jornalismo pode ajudá-las a se tornarem mais sustentáveis financeiramente.
Eu conversei com três redações para saber mais sobre como elas implementaram abordagens do jornalismo de soluções: Prime Progress, da Nigéria, Arizona Luminaria, redação bilíngue sem fins lucrativos que cobre o sul do Arizona, e The Trace, que informa sobre violência armada nos Estados Unidos.
Prime Progress
O jornalismo de soluções é o "pão com manteiga" da cobertura feita pelo Prime Progress, diz Ogar Monday, sub-editor do site. O veículo usa o jornalismo de soluções para aprofundar no modo como as pessoas estão reagindo a problemas relacionados a "impacto social, cultura repressiva e prestação de contas".
Um artigo recente publicado pelo site analisa a história e o impacto de um festival de inhame em Ugep, cidade no sul da Nigéria. Outro descreve a prática persistente na Nigéria de rotular as pessoas como "bruxas" e as organizações que trabalham para evitá-la.
"Em essência, o que tentamos fazer é não focar só no problema. Estamos tentando ser parte de uma solução", diz Monday.
Quando ele trabalhava em redações mais tradicionais, o foco constante em notícias negativas afetava sua saúde mental. Notícias sobre o movimento #EndSARS na Nigéria eram especialmente deprimentes, ele diz.
Monday se voltou ao jornalismo de soluções, que ele descobriu ser "bom para a alma" ao mesmo tempo em que mantém as boas práticas jornalísticas: "Assim como todas as formas de jornalismo, o jornalismo de soluções é rigoroso. Você precisa falar com as fontes, você tem que encontrar os fatos, você tem que fazer todas as outras coisas que você faz dentro desse modelo."
Arizona Luminaria
O veículo bilíngue que cobre o sul do Arizona adotou o jornalismo de soluções depois de fazer uma pesquisa com membros da comunidades sobre seus desejos e necessidades informativas. Colocar a comunidade em primeiro lugar também ajudou a gerar recursos para sustentar o site.
"Antes de criarmos o Luminaria, conversamos com as pessoas e perguntamos quais eram suas necessidades informativas para tentar ter uma ideia de quem eram as pessoas para quem estávamos criando o site e o que elas precisavam de nós", relembra Irene McKisson, diretora executiva do Arizona Luminaria e uma das cofundadoras. "Nós ouvimos as pessoas nos dizerem espontaneamente que queriam entender quais soluções existiam para os problemas na comunidade delas."
Um artigo recente do veículo trata de como um programa de educação multilíngue e multicultural conseguiu ajudar na retenção de estudantes e professores latinos no Arizona, e como um centro de trabalhadores em Tucson ajudou trabalhadores sem documentos com lições que podem ser aplicadas em outros locais.
McKinnon ressalta que o jornalismo de soluções pode ser desafiador. "Ele requer uma reportagem realmente rigorosa e uma mudança de mentalidade de qualquer jornalista que nunca o tenha feito antes porque não é a forma como fomos treinados", diz. "Temos que responder às necessidades informativas que as pessoas têm e sermos muito focados na solução dos problemas delas."
Muitos dos repórteres do Arizona Luminaria passaram por capacitação, na maioria das vezes realizada pela Solutions Journalism Network. McKinnon recomenda o curso básico como um bom ponto de partida.
The Trace
O The Trace adota uma visão "holística" de sua cobertura da violência armada, explica Sunny Sone, que edita a newsletter do veículo. A redação tem o objetivo de ajudar o público a entender melhor o problema da violência armada, cobrar quem está no poder e avaliar soluções em potencial.
Consequentemente, o jornalismo de soluções está arraigado na missão do site. Embora toda a cobertura trate de algum aspecto da violência armada, esse foco não limita o trabalho como se pode imaginar. "As armas são tão parte da vida e cultura nos Estados Unidos a essa altura, que acaba sendo um assunto abrangente e que abarca muitas coisas diferentes", diz.
Em sua cobertura, o The Trace tenta garantir que vai informar de forma crítica sobre soluções em potencial para a violência armada, reconhecendo que algumas delas não vão funcionar como o esperado. "Uma das partes mais importantes do jornalismo de soluções é ser crítico", observa Sone.
Os leitores reagem positivamente à abordagem de soluções que o The Trace adota. A seção de jornalismo de soluções do site, How We Fix This (Como consertamos isso), inclui artigos que analisam, por exemplo, como a cidade de Baltimore está investindo na criação de espaços públicos seguros para crianças, e como dois inimigos de Kalamazoo, no Michigan, fundaram juntos uma organização que trabalha com a comunidade para prevenir a violência armada.
O The Trace também lançou a newsletter The Trajectory, que foca em soluções em potencial para a violência armada. A newsletter recebeu "uma resposta muito maior" do que o esperado: cerca de metade dos assinantes nunca tinham assinado nenhum outro produto do The Trace.
"Ficou imediatamente claro que ela preenchia um espaço que as pessoas estavam procurando", diz Sone.