5 tendências globais em notícias digitais que você precisa saber

Jun 26, 2023 em Temas especializados
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O Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo publicou neste mês a mais recente edição do Digital News Report. A publicação de 2023 abrange 46 mercados pelo mundo e apresenta descobertas a partir de uma pesquisa com mais de 93.000 usuários de notícias digitais.

Eu analisei a fundo o estudo para identificar as descobertas mais interessantes, focando em dados de fora dos Estados Unidos. A seguir estão cinco pontos principais – e suas implicações. 

(1) O TikTok não é mais um canal alternativo 

Se é necessária uma prova da importância do aplicativo de propriedade chinesa, ela está em destaque no novo estudo. O TikTok é a rede social de mais rápido crescimento na pesquisa feita pelo Instituto.

Um em cada cinco usuários de 18 a 24 anos (20%) usam a plataforma para obter notícias, e quase metade desse grupo etário (44%) usa a rede regularmente. Isso oferece aos veículos que querem atingir audiências jovens uma evidência forte de que a presença no TikTok realmente precisa ser parte do seu portfólio.

 

TikTok uses

 

Geralmente, o uso do TikTok é mais intenso em partes da Ásia, América Latina e África, enquanto a popularidade da plataforma para obter notícias é mais alta no Peru e na Tailândia (30% afirmaram a ter utilizado na semana anterior à pesquisa), com o Quênia (29%) logo atrás. Jornalistas e empresas de mídia podem olhar para esses mercados para determinar algumas lições que podem ser aplicadas em suas próprias abordagens, e buscar aprender com seus colegas de alguns dos maiores veículos (como o The Washington Post) que estão na plataforma.

É também notável que "embora jornalistas tradicionais muitas vezes liderem conversas em torno de notícias no Twitter e no Facebook, eles têm dificuldades para obter atenção em redes mais novas como Instagram, Snapchat e TikTok", observa o estudo. Nesses espaços, "personalidades, influenciadores e pessoas comuns normalmente têm mais destaque, mesmo quando se trata de conversas sobre notícias". 

Mais uma vez, há muito o que aprender sobre o porquê disso e como esses grupos usam a plataforma. Isso ressalta também porque fazer parcerias com personalidades e influenciadores pode ser importante para as redações se elas querem ampliar seu impacto no TikTok.

Os dados também mostram que as visualizações no TikTok não são focadas apenas em "notícias divertidas" e conteúdo viral. Em alguns mercados, ele também é um canal popular para aprofundar em política nacional, notícias de saúde e eventos geopolíticos mais amplos. Entender esses comportamentos é importante para que as redações explorem o potencial do TikTok, oferecendo a combinação certa de conteúdos na plataforma. 

 

Proportion that pays attention to news topics on TikTok

(2) A desinformação online é um desafio imenso (e uma oportunidade para as redações)

Mais da metade (56%) dos respondentes da pesquisa relataram que têm dificuldades de discernir entre fato e ficção online. Os níveis de preocupação são mais altos na África, com mais de três quartos (77%) expressando esse receio. 

Essas dúvidas podem ser vistas em torno de tópicos importantes como política, saúde e mudança climática. E o volume de desinformação demonstra ser crescente durante eleições em países como o Quênia e a Nigéria. Este é um período em que jornalistas – e leitores – precisam estar mais em alerta.

Raramente temos um consenso sobre a melhor maneira de enfrentar esse flagelo, mas as organizações jornalísticas podem desempenhar um papel importante em verificação, checagem de fatos, combate a rumores e promoção de habilidades de letramento midiático que internautas precisam para se desenvolverem online.

O estudo observa que em Taiwan, por exemplo, a organização de mídia independente Watchout (沃草) produz manuais sobre como identificar desinformação; e o Centro de Verificação de Fatos de Taiwan publica dúzias de artículos semanalmente "sobre questões que vão desde receios dos consumidores a propaganda geopolítica." 

Em outras regiões, em países como Austrália e Singapura, esforços estão em curso para desenvolver códigos de conduta e formas consistentes de lidar com a desinformação.

 

Graphic showing concern about misinformation

(3) Em alguns mercados, mais pessoas estão evitando notícias

O interesse em notícias está caindo – em alguns casos de forma abrupta ao longo do tempo – em países como Argentina, França e Espanha, bem como nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Isso pode ser em função de vários fatores. A abstinência ativa de notícias pode ser desencadeada pelo tom e estilo da cobertura, percepções de relevância e desinteresse em certos assuntos. Estes são desafios que as redações vão precisar enfrentar para tentar reverter essas tendências. 

"As quedas são frequentemente maiores em países caracterizados por altos níveis de polarização política", observam os autores.

Paralelamente, em países como Finlândia e Holanda, nações "com mídia estável e bem financiada e alto nível de confiança nas instituições", os níveis de interesse permaneceram razoavelmente consistentes. Porém, isso nem sempre é um indicador dos níveis de interesse por notícias. "Mercados anteriormente estáveis como Áustria e Alemanha estão começando a ser afetados", adverte o estudo.

 

Graphic showing interest in news by country

(4) Os veículos de comunicação pública precisam conquistar mais as pessoas

"Os veículos de comunicação pública continuam enfrentando escrutínio crítico e ceticismo  – seja de concorrentes do setor privado, de alguns políticos ou de parte do público", afirma o estudo. "Mesmo onde a missão do serviço público é acompanhada de significativo financiamento público, atingir todo o público e servir a todos é uma tarefa desafiadora." 

Os dados do relatório mostram isso claramente. Somente em quatro dos 19 países da amostra os consumidores de notícias digitais afirmaram que serviços jornalísticos com financiamento público eram importantes para eles. O número só foi ligeiramente maior quando perguntados se era importante para a sociedade. Em vários mercados, uma porcentagem grande de respondentes, normalmente de 20% a 40%, indicou que a contribuição desse tipo de mídia não era "nem importante nem desimportante" ou não sabiam a resposta para a pergunta. 

Com muitos veículos de comunicação pública sempre enfrentando a pressão do aperto dos cofres públicos, é importante que eles tenham um apoio amplo nos países em que atuam. Não é fácil atender a todos, mas também é intrínseco ao modelo de serviço público. 

Conforme observa o estudo, estas descobertas não devem ser vistas como um reflexo da qualidade do trabalho produzido pelos veículos públicos. Porém, organizações de notícias públicas vão precisar seguir com seus esforços de diversificar o conteúdo (em termos de estilo, produtos e jornalistas) para evitar críticas e ameaças financeiras, ao mesmo tempo em que continuam tentando encontrar seu lugar em um mercado digital cada vez mais concorrido.

 

Graphic showing interest in public service media

(5) O consumo de podcasts de notícias parece ter se estabilizado

Fãs de podcasts têm acesso a uma gama incrível de opções. É também um meio incrivelmente atrativo tanto para editores quanto para anunciantes, já que os ouvintes tendem a ser consumidores mais jovens e afluentes. 

Porém, embora o número de pessoas que ouvem podcasts tenha aumentado nos últimos cinco ou seis anos, o número de pessoas acessando podcasts de notícias permaneceu praticamente estático. 

 

Graphic showing listenership of podcasts

 

Desde 2018, o consumo mensal de podcasts aumentou de 5% para 29% e 34% nos mercados da amostra do estudo. A escuta de podcasts de notícias permanece virtualmente inalterada, subindo de 11% em 2018 para apenas 12% em 2023.

O número não leva em consideração o volume de podcasts que esses 12% de respondentes estão ouvindo. Mas mostra a dificuldade de abrir caminho e trazer pessoas que não ouvem notícias para esse formato. 

Dado o investimento que muitos veículos fizeram em podcasts e o volume de novos podcasts de notícias lançados nos últimos cinco anos, os dados sugerem que esses esforços não estão necessariamente ajudando as organizações de notícias a encontrarem novas audiências. 

Isso pode ser por causa da abrangência de disponibilidade dos podcasts não ligados a notícias (lembre que o número de pessoas que ouvem podcasts em geral aumentou). Fatores associados com a abstinência de notícias (estilo, tom, relevância) também podem ser aplicados aqui. E é possível que a grande quantidade de podcasts também desanime as audiências.

Consequentemente, as redações podem precisar fazer mais para trazer novos ouvintes, investindo mais em marketing e diversificando sua oferta de áudio.

Ao mesmo tempo, talvez os veículos também precisem ter um pensamento diferente sobre sua estratégia de podcasts. O formato pode não ser o jeito certo de atrair novas audiências. Outras abordagens podem ser mais efetivas aqui. Mas podcasts podem ser uma forma valiosa de engajar audiências mais jovens. E também são uma maneira ótima de servir melhor audiências já existentes, aprofundando em assuntos específicos, bem como oferecendo ao público a chance de ver os bastidores da produção de notícias.

Para saber mais, acesse o relatório completo.


Foto por Wesson Wang via Unsplash.

Capturas de tela retiradas do Digital News Report.


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Jornalista

Damian Radcliffe

Damian Radcliffe é professor de jornalismo na Universidade de Oregon, bolsista do Tow Center for Digital Journalism na Universidade Columbia, pesquisador honorário da Escola de Jornalismo da Universidade de Cardiff e membro da Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA).