Projeto oferece apoio para as jornalistas alvo de violência online

Oct 1, 2021 em Segurança Digital e Física
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Resistir a ataques online se tornou uma realidade desagradável no trabalho da maior parte das mulheres jornalistas nos dias de hoje. Quase 75% das 714 profissionais de imprensa que responderam à pesquisa global ICFJ-UNESCO afirmaram que vivenciaram violência online devido à sua profissão. E o problema está se intensificando.

Os efeitos da violência online têm um alcance amplo, conforme descreveu o recente estudo  "The Chilling", baseado na pesquisa ICFJ-UNESCO e em 182 entrevistas feitas com jornalistas e especialistas do mundo todo. Entre os impactos, mulheres relataram que a violência online causou danos em sua saúde mental, provocou temores sobre sua segurança física, prejudicou sua reputação e muito mais.

"Do ponto de vista profissional, você é percebida como uma espécie de figura que causa discórdia e controvérsia", afirmou aos pesquisadores a jornalista investigativa britânica Carole Cadwalladr. "Algo que não renderia nenhum comentário se fosse com um colega homem. Mas faz de você uma figura controversa, e acho que isso é muito eficaz."

Cadwalladr é conhecida pela cobertura do caso que expôs o escândalo Facebook-Cambridge Analytica. Desde então ela se tornou alvo de uma quantidade massiva de abuso online, incluindo de jornalistas de direita e de membros do parlamento.

A violência online contra mulheres jornalistas não deveria ser um problema tão disseminado quanto é hoje. O apoio adequado das pessoas certas pode ajudar a mudar a onda de violência. O Online Violence Response Hub (Centro de Reação à Violência Online), lançado pela International Women's Media Foundation (IWMF) e o ICFJ em julho, é um exemplo desse tipo de suporte. Um projeto da Coalition Against Online Violence — um grupo de mais de 40 organizações que trabalham para encontrar soluções para um problema permanente — o Centro reúne em um único lugar recursos valiosos para dar assistência às vítimas desses ataques virtuais.

[Leia mais: Violência online contra mulheres jornalistas é intensificada por outras formas de discriminação]

Sobre o Centro de Reação à Violência Online

Muitas das jornalistas entrevistadas pelos pesquisadores no estudo ICFJ-UNESCO disseram que gostariam de ter acesso mais fácil a recursos. A Coalition Against Online Violence projetou o Centro com isso em mente.

"Quando você está sendo atacada, você tem recursos limitados, capacidade limitada para dar o primeiro passo e ainda tem a responsabilidade de encontrar suas próprias soluções", afirma a diretora global de pesquisa do ICFJ, doutora Julie Posetti, que ajudou na criação do Centro e comandou a pesquisa para a UNESCO. O Centro diminui o ônus para as mulheres, fornecendo a elas uma plataforma simples através da qual podem se conectar com o apoio adequado.

"Não é simplesmente dar às mulheres um guia completo, mas dar todas as direções", diz Ela Stapley, assessora de segurança digital e líder de projetos na IWMF. 

Todo o conteúdo disponível no Centro teve contribuição de membros da Coalition Against Online Violence, como Committee to Protect Journalists, ACOS Alliance, ICFJ, PEN America e Free Press Unlimited, entre outros. O Centro é uma plataforma orgânica também. O conteúdo é regularmente avaliado para assegurar que esteja atualizado e que os membros possam enviar novos recursos para serem publicados.

Muitas das informações presentes no site atualmente estão disponíveis em outros idiomas além do inglês, incluindo espanhol e árabe. Stapley e Posetti esperam que todo o conteúdo do Centro venha a ser traduzido em várias línguas, reconhecendo a natureza global e multilíngue do problema.

Como você pode usar o Centro

Quando você visita o Centro pela primeira vez, pode conferir todo o conteúdo clicando em "Resources" (Recursos) no menu no topo da página. Você vai ver também um bloco com o título "Get Help" (Obtenha Ajuda) que vai pedir para que se identifique como jornalista, redação ou aliado. Isso vai ajudar o site a customizar os materiais sugeridos para você.

Vou fazer a demonstração de algumas situações a seguir.

 

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Para jornalistas

Importante mencionar para as jornalistas, há um botão laranja com a mensagem "Emergency Assistance" (Assistência emergencial) no canto superior direito da página, caso você precise de ajuda urgente. Apesar de o Centro não ter capacidade de provocar uma intervenção nesse ponto, ele pode te direcionar para pessoas que podem fazer isso.

Dentre as opções na página inicial do site, se você selecionar que é uma jornalista, você receberá uma lista de situações para escolher. Elas incluem: "I’ve been doxxed" (Tive informações pessoais publicadas online), "I have a problem with an image" (Tenho problema com uma foto), "I want to prepare for online abuse" (Quero me preparar para a violência online) e mais. Selecione aquela que mais se aproxima da sua necessidade.

Por exemplo, vamos supor que você descobriu que o seu número de telefone está sendo compartilhado online sem a sua autorização. A partir do menu, escolha "Tive informações pessoais publicadas online".

Você então precisará responder qual tipo de ajuda está buscando, como "assistência de emergência", "apoio psicossocial" e "registro do ataque", dentre outros. Neste caso, pode ser que você queira verificar as medidas legais que pode tomar após o ataque, então selecione "suporte legal". A partir daí, você vai conhecer organizações, como a Media Defence, que conecta jornalistas com advogados.

Este é apenas um exemplo de como uma jornalista que está vivenciando um ataque online pode usar o Centro. Muitos dos recursos disponíveis também são voltados para a prevenção. Você pode clicar nas opções para encontrar orientações sobre como tornar seguras as suas contas, desenvolver uma estratégia de resposta, proteger os seus dados e obter formação. 

[Leia mais: Novo estudo detalha ferocidade dos ataques online contra Maria Ressa]

Para redações

O apoio às redações é fundamental para frear a violência online contra mulheres jornalistas. Muitas organizações, entretanto, não sabem como lidar com o problema. O Centro oferece uma variedade de recursos para ajudar as redações tanto a reagirem de forma eficaz nesses casos como também a instaurarem políticas preventivas para reduzir os ataques online contra suas funcionárias.

Se você escolher "Newsroom" (Redação no menu principal, você vai ver as seguintes opções: "Someone has been doxxed" (Alguém teve informações privadas publicadas), "Someone is being harassed online" (Alguém está sofrendo ataques online), "Preventative steps to protect against online violence" (Medidas preventivas para se proteger contra a violência online), entre outras opções. 

Caso você selecione, por exemplo, "Alguém está sofrendo ataques online", você irá para uma página onde pode escolher opções como "Ajudar uma jornalista a proteger os dados online", "Reagir a ataques online" e "Apoio psicossocial". O Centro vai te mostrar os recursos que podem ajudar a proteger as contas ligadas à redação, redigir notas de apoio a jornalistas, registrar o caso e mais.  

 

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Para aliados

Você não precisa ser uma jornalista ou chefe em uma redação para ser afetada pela violência online. Amigos, colegas de trabalho e familiares podem ter alguma pessoa próxima vivenciando ataques e querer ajudar. Neste caso, você pode selecionar "I want to support someone" (Quero ajudar uma pessoa) no menu da página inicial.

Mais uma vez, você vai ter uma série de situações a partir das quais poderá escolher: "Supporting someone who is being harassed online" (Ajudar uma pessoa que está sendo atacada online), "Someone has been doxxed" (Alguém teve informações privadas tornadas públicas) e "Learning more about online violence" (Aprender mais sobre violência online).

Caso você escolha "Ajudar alguém que está sendo atacada online" e, na sequência, "Ajudar outras pessoas", o Centro vai fornecer um passo a passo sobre como prestar apoio. 

O que você pode fazer já

Você pode não estar enfrentando violência online, mas isso não significa que você não pode usar o Centro. Familiarize-se com a ferramenta para que você saiba o que ela oferece e como utilizá-la caso você venha a precisar dela, sugere Stapley.

Os muitos materiais focados em prevenção podem ajudar tanto redações quanto jornalistas em passos importantes, como proteção de dados, criação de um plano de resposta e desenvolvimento de políticas para apoiar a equipe. 

Considere também compartilhar a iniciativa com colegas de trabalho. Isso também inclui freelancers, que estão menos propensas a se beneficiarem de apoio institucional em caso de violência online.

"Use o Centro como uma espécie de ponto de partida para aprender mais sobre violência online e as melhores maneiras de se proteger", afirma Stapley.