O impacto da COVID-19 na mídia de Uganda

por Tabitha Richmond
Jun 5, 2020 em Reportagem sobre COVID-19
Kampala, Uganda

Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

Este artigo é parte de nossa cobertura online sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.

A jornalista ugandense Sarah Biryomumaisho adorava ler jornais quando criança. Ela foi inspirada por freiras que começaram a visitar sua família em Ibanda, Uganda. Quando as freiras viajavam para o exterior, frequentemente para a Irlanda, traziam revistas para incentivá-la a aprender a ler e escrever em inglês.

“Quando eu tinha nove anos, participava de debates da escola no rádio aos domingos”, Biryomumaisho disse à IJNet. “Eu sempre soube que queria escrever e ler notícias. Fico feliz por ter realizado o sonho."

Hoje Biryomumaisho é editora-gerente da filial ugandense da Andariya Magazine, uma plataforma digital árabe-inglês independente e bilíngue, cobrindo questões de base e globais em torno do Sudão, Sudão do Sul e Uganda. Ela escreve sobre uma variedade de tópicos nessa função, incluindo questões de gênero, tecnologia, assuntos atuais e entretenimento educativo. Como a maioria dos jornalistas agora, Biryomumaisho também está lidando com a pandemia de COVID-19.

[Leia mais: Efeitos da COVID-19 sobre o jornalismo freelance]

Biryomumaisho começou sua carreira como jornalista de rádio. Depois de se formar no Makerere Business Institute com um diploma em administração de empresas em 2011, ela trabalhou como chefe de notícias em inglês para duas estações de rádio locais em Mbarara. Nos seis anos seguintes, ela assumiu posições de redatora, editora e âncora em várias emissoras de rádio.

Hoje, ela também apresenta um programa no YouTube chamado "The Untold Story". "O programa é focado em mulheres que fizeram coisas incríveis e têm histórias incríveis que podem inspirar as gerações futuras de meninas, mas que nunca têm a chance de contar essas histórias através da grande mídia", disse ela.

Conversamos com Biryomumaisho sobre sua recente mudança de carreira e o impacto duradouro que a COVID-19 pode ter na mídia em Uganda.

IJNet: Por que você migrou da rádio para a mídia digital?

Biryomumaisho: Como editora de rádio e âncora, não tinha tempo suficiente para entrar em campo. Meu trabalho era designar repórteres, contratar âncoras e garantir que as notícias fossem ao ar todos os dias em todos os idiomas que deveriam. Mas no fundo eu sempre quis contar histórias. Descobri que a melhor maneira de contar histórias era ir para a rua e conhecer pessoas com histórias que precisavam ser contadas.

Sarah Biryomumaisho hosts a political talk show called "Women and Politics."

Sarah Biryomumaisho apresenta um talk show político chamado "Mulheres e Política". Foto cortesia de Sarah Biryomumaisho.

Como a pandemia mudou o trabalho jornalístico no seu país?

Em Uganda, vi muitos jornalistas colocarem sua saúde em risco para cobrir notícias. Conheço jornalistas que, sem a ajuda de seus meios de comunicação, arriscaram tudo para cobrir essas histórias. Essa pandemia me mostrou que os jornalistas são as pessoas menos atendidas em Uganda.

Ninguém pensou em testar jornalistas que estavam cobrindo matérias [sobre COVID-19].

Como você acha que as redações em Uganda mudarão no futuro como resultado da pandemia?

Vejo mais repórteres do sexo feminino tendo a chance de cobrir tais ocorrências no futuro. Com poucos recursos disponíveis, os editores foram forçados a empregar mais mulheres no campo. Geralmente, as mulheres ficam no escritório, mas isso revelou o que realmente podemos fazer.

Agora, as redações aprenderam o uso da verificação de informações antes da publicação. Essa pandemia é uma ameaça global e, para reportar sobre isso, é preciso falar com todas as autoridades necessárias e verificar as informações, para evitar desinformar o público e causar pânico. Eu acredito que [as redações] usarão as mesmas ferramentas [que usam agora] durante a COVID-19 para continuar evitando notícias falsas [no futuro].

[Leia mais: Considerações éticas para reportagens sobre COVID-19]

Como você vê isso afetando o jornalismo multimídia?

As estações de TV, rádio, jornais e mídia online estão me abordando para oferecer uma perspectiva sobre a pandemia e como estamos informando a respeito. Os repórteres de rádio têm divulgado reportagens para jornais, TV e mídia online, pois nem todos têm capacidade para sair na rua. Todo repórter na rua está fornecendo matérias para pelo menos dois ou três meios de comunicação. Isso está criando mais talento.

Working on a story about the revival of Uganda Airlines, Sarah Biryomumaisho lands in Juba, South Sudan where she has her temperature taken.
Apurando uma matéria sobre o renascimento da Uganda Airlines, Sarah Biryomumaisho chega em Juba, no Sudão do Sul, onde sua temperatura é medida. Foto cortesia de Sarah Biryomumaisho.

Como você usou o Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICF e de que forma o ajudou no seu trabalho?

Entrei no Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ (em inglês) desde o início, antes de Uganda confirmar seu primeiro caso. Eu escrevi algumas artigos no blog que compartilhei com outros membros do grupo. Isso deu ao meu blog mais visitas de todo o mundo.

Com o Fórum, fico atualizada sobre o que está acontecendo em todo o mundo. Muitos jornalistas estão compartilhando seu trabalho, e eu me beneficiei de todos os recursos compartilhados. Até fiz amigos da região da África Oriental que querem colaborar em algum trabalho no futuro.

Qual é o seu conselho para outros jornalistas que reportam sobre a pandemia?

Aconselho os jornalistas a colocar sua saúde, segurança e vida em primeiro lugar. Somos uma ferramenta poderosa que pode causar grandes problemas se reportarmos mal durante essa pandemia. Todos os jornalistas devem aprender a compartilhar recursos, especialmente de diferentes países. Sempre podemos aprender um com o outro. O jornalismo é mais forte assim, e percebi que, juntos, podemos melhorar o mundo.


Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Yu Gu