Efeitos da COVID-19 sobre o jornalismo freelance

Jun 4, 2020 em Reportagem sobre COVID-19
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Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

Este artigo é parte de nossa cobertura online sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.

Freelancers estão no cerne do jornalismo. Mas enquanto a pandemia de COVID-19 leva a cortes no orçamento em quase todos os níveis, freelancers estão lutando para encontrar trabalho. Sem o apoio de uma organização, muitos freelancers se tornaram responsáveis ​​por sua própria segurança e bem-estar, no momento em que ambos estão sendo ameaçados.

Como freelancers podem responder e se adaptar a essa crise? Como podem retomar o trabalho ou usar esse tempo para investir em seu desenvolvimento profissional? Que discussões as redações têm sobre o futuro do freelancer e o que os editores estão buscando?

Em um painel online na semana passada, a jornalista e cineasta independente Zoe Flood conversou com Melissa Noel, jornalista independente de multimídia, e Marc Perkins, editor-chefe da BBC Africa Eye, sobre o estado do jornalismo freelance. O painel foi organizado pelo ICFJ, International Women’s Media Foundation, ACOS Alliance, Dart Center for Journalism and Trauma e Frontline Freelance Register.

 

Sobre a reportagem

  • Noel, que cobre questões relacionadas à região do Caribe, mudou sua cobertura para temas domésticos nos Estados Unidos por causa da pandemia. “Acho que onde quer que você esteja realmente, preste atenção no que está acontecendo. O que os editores estão buscando nesse momento? Como as coisas estão mudando? Veja onde você pode se encaixar nisso ou até mesmo como incorporar um sentido único da especificidade do que você cobre.”

  • Perkins disse que sua equipe conseguiu permanecer em plena produção, contando apenas com freelancers que cobrem tópicos relacionados com COVID e não COVID. "Acho que haverá fadiga pelo corona (vírus) e as pessoas vão querer ver outras coisas. Agora, definitivamente, estou procurando outros projetos que não estejam diretamente vinculados, sabe, apenas reportando sobre a COVID.”

[Leia mais: Ficar ou ir embora? Freelancers internacionais enfrentam desafios durante a pandemia]

Sobre choques econômicos

  • Perkins admite que, embora o jornalismo freelance esteja em uma posição turbulenta no momento, não é tão diferente do que geralmente é. Para melhorar a instabilidade econômica, Perkins sugeriu ter mais de um fluxo de renda, trabalhar como freelancer em várias organizações e ter vários conjuntos de habilidades (como a capacidade de ensinar ou conduzir treinamentos) para períodos de pouco trabalho.

  • Noel acrescentou a esse ponto que: "É realmente importante, como freelancer, pensar em si mesmo como um negócio, e pensar em si mesmo como um negócio é como ganhar dinheiro de outras maneiras."

  • Flood seguiu o argumento de Noel, acrescentando que trabalhar no desenvolvimento profissional ou adicionar múltiplos fluxos de renda “é algo que os freelancers devem fazer independentemente da situação, porque é algo que você pode fazer para se proteger contra choques, choques econômicos ou profissionais. Especialmente como freelancer, sua situação é mais frágil”, disse ela. "Acho que vale a pena se você não estiver muito ocupado com o trabalho no momento, considerar essas opções e como desenvolver essas vertentes de renda, opções alternativas, oportunidades de criar um apoio para si".

Sobre desenvolvimento professional 

  • “Eu diria que agora, uma das minhas sugestões seria solicitar bolsas ou subsídios a diferentes organizações", disse Noel. Ela também mencionou que a razão pela qual foi capaz de se adaptar a diferentes necessidades de trabalho como jornalista de multimídia é sua capacidade de se adaptar a diferentes solicitações de editores.

  • Flood também enfatizou a mobilidade no conjunto de habilidades, mas acrescenta: "Você não precisa comprar uma câmera. Você tem uma câmera no telefone e pode aprender a gramática da TV, maneira que as histórias são construídas visualmente.”

  • "Agora é a hora de entrar em contato com mais editores e, se você tiver algum tempo de inatividade involuntário ou não, agora também é a hora de pesquisar e analisar organizações que trabalham com freelancers em todo o mundo", disse Perkins. "E você precisa divulgar seu nome. O jornalismo freelance é um jogo bastante brutal e você não pode ficar quieto e tímido; mas também ser persistente e educado com todos com quem você lida é extremamente importante.”

[Leia mais: Erros comuns de jornalistas ao enviar sugestões de pauta]

Sobre propor pautas

  • Perkins recomendou apresentar uma ideia completa desenvolvida para que o editor entenda a pesquisa que foi realizada anteriormente: "Se você pesquisar muito bem e disser que sim, o programa que estou lançando ou a pauta que estou propondo é semelhante ou se encaixa nesse programa, você terá uma chance muito melhor", disse ele. Perkins também admitiu que as ideias lançadas antes da COVID foram alteradas (algumas mais que outras), a fim de se adequar à reação da época.
  • “Eu acrescentaria que [eu] trabalho para cerca de cinco organizações de notícias diferentes a qualquer momento, tanto de televisão como digital, e a mensagem que também estou recebendo dos meus editores é que agora é o momento em que queremos começar a olhar para outras histórias, que sejam adjacentes à COVID, [olhando] mais para o impacto”, disse Noel.

Sobre considerações de segurança

  • “Eu acho que uma das minhas maiores preocupações é ter equipamento de proteção individual e também ajustar a forma como você faz a reportagem”, disse Noel, notando o exemplo de ter que higienizar seu equipamento com mais frequência, além de prestar atenção à distância entre si mesma e seus entrevistados.

  • “Mas eu entendo que ter acesso a essas coisas não é o mesmo para todos, em função de onde trabalham e vivem. Então, para mim, minha segurança tem que vir primeiro. Recusei tarefas em que sentia que minha saúde poderia estar em risco.”

  • No entanto, no caso de freelancers em países ao redor do mundo, Perkins salientou que os freelancers em áreas consideradas menos seguras, especialmente jornalistas, têm maior probabilidade de lidar com consequências de longo prazo por causa de suas reportagens por parte de entidades como o governo ou outros atores.

  • “Acho que é óbvio que todos os empregadores, em geral, se podem empregá-lo, têm responsabilidades em relação à sua segurança. Eu acho que a coisa mais complicada para as pessoas que gerenciam freelancers não está nas operações: são as ramificações de longo prazo", disse ele.

  • No entanto, em relação à COVID, Perkins admitiu que a maior preocupação de segurança é garantir que os freelancers não fiquem doentes, o que significa fornecer equipamentos de proteção e treinamento sobre como usá-los adequadamente.

Sobre a importância dos freelancers

  • “Eu acho que a beleza do trabalho freelance é que oferece oportunidades para você fazer coisas que normalmente nunca faria se fosse um membro da equipe; quero dizer, o objetivo de ser freelancer é que você tem uma oportunidade única de mudar”, disse Perkins.

  • “Agora, mais do que nunca, os freelancers são realmente cruciais, especialmente quando o fato de um repórter da redação ou uma equipe de notícias não pode estar em todo lugar, então somos esses olhos e ouvidos. E acho que daqui para frente, isso será ainda mais crucial à medida que enfrentarmos outros desafios”, disse Noel.


Imagem sob licença CC no Unsplash via Ewan Robertson.