Como realizar com sucesso um programa de formação para jovens jornalistas

Aug 14, 2024 em Temas especializados
Composition notebook and two number two pencils

Entre o declínio do jornalismo local, a queda da confiança na mídia e demissões em massa no setor, pode ser fácil se sentir pessimista em relação ao futuro do jornalismo. Mas os programas para jovens jornalistas, que buscam fomentar a próxima geração de repórteres, oferecem uma chance para melhorar as perspectivas da área.

Esses programas podem assumir várias formas: programas no período de férias, clubes ou cursos que duram o ano todo, para citar alguns. Eles não ensinam simplesmente os fundamentos do jornalismo; também destacam o valor das notícias com credibilidade para a sociedade e promovem a diversidade na profissão, diz Michael Lozano, diretor do programa CalMatters Youth Journalism Initiative.

Conhecido como JCal, o programa dá a jovens as bases para uma futura carreira no jornalismo ao estimular a curiosidade, desenvolver a confiança e ensinar aos participantes como informar suas comunidades, muitas das quais talvez não tenham acesso a informações confiáveis. A iniciativa faz isso ao levar estudantes do Ensino Médio da Califórnia para redações, onde eles recebem mentoria e orientação para a realização de projetos de reportagem.

"Quando escuto as ideias de pauta de jovens, é incrivelmente revitalizante", diz Lozano. "Eu imagino que, devido às experiências deles, e por eles serem muito abertos em relação ao meio ambiente, questões LGBTQ+ e saúde mental, vamos começar a ver ambientes muito mais receptivos no jornalismo."

A seguir estão alguns conselhos para realizar um programa de jornalismo para jovens bem-sucedido que inspire e transmita habilidades jornalísticas importantes para os jovens:

Crie um currículo atrativo

Para ser bem-sucedido, um programa de jornalismo para jovens precisa ser divertido, flexível e focado nos interesses e experiências dos participantes. É importante perguntar aos estudantes o que eles já sabem e o que querem aprender.

Quando trabalhou como repórter no Report for America, Katie Hyson comandou um clube de jornalismo para alunos do ensino médio na Flórida. Ela enfatiza que priorizar o interesse dos estudantes é importante para gerar curiosidade.

"Antes de tudo, os seus alunos precisam saber que você se importa com eles como pessoas, que você os vê como pessoas e realmente valoriza os pontos fortes que eles têm", diz Hyson, atualmente repórter de justiça racial e equidade social na KPBS Public Media. "Quando eles sabem disso, eles ficam dispostos a retribuir." 

Na hora de desenvolver o currículo do programa de jornalismo para jovens, comece definindo a missão, de forma a dar aos estudantes uma ideia clara do que eles vão ganhar com a experiência. Para embasar essa etapa, crie pesquisas e faça entrevistas para identificar quais são os assuntos pelos quais eles se interessam e os tipos de matérias que eles querem criar e aqueles que eles preferem não produzir.

Por exemplo, você pode definir uma missão cujo foco seja a cobertura de temas com pouca cobertura na mídia, oferecendo capacitação para jovens de comunidades carentes, ou o estímulo ao envolvimento cívico e à responsabilização das instituições.

Lozano recomenda que os estudantes contribuam com ideias de formatos de reportagem sobre os quais eles têm interesse em aprender, como reportagem especial, fotojornalismo, podcast ou vídeo. "Não diga simplesmente que as decisões deles são importantes, institucionalize essas decisões como parte do currículo", diz.

Priorize habilidades básicas

Um programa de jornalismo para jovens deve priorizar o desenvolvimento de habilidades básicas de reportagem e práticas profissionais e éticas do jornalismo, como maneiras de acessar dados públicos e lidar com fontes anônimas. Alguns assuntos para se destacar incluem letramento midiático, estrutura de narrativa, fundamentos de escrita e técnicas de entrevista.

Esse conhecimento básico dá confiança aos estudantes, diz Lozano. "Aprender essas habilidades básicas cria toda uma nova camada de confiança neles, porque eles percebem que não são apenas estudantes jornalistas, eles já são jornalistas porque lideram discussões em tópicos importantes para eles através de suas reportagens."

Reassegure aos estudantes o fato de que eles têm o que é preciso para ser um repórter. "Foi muito importante pra mim ver que eles se enxergavam como jornalistas, que sabiam que podiam ser levados a sério, que podiam fazer perguntas e que tinham o direito de fazê-lo", diz Hyson.

Garanta recursos e engajamento

Anote os recursos que você já tem em mãos e o que mais você pode precisar para realizar um programa bem-sucedido. Isso inclui determinar o tempo de aula, a tecnologia que será necessária, como internet, computadores e softwares de edição, bem como as pessoas que vão te ajudar a conduzir o programa. Por exemplo, ter mentores que possam orientar e editar matérias é essencial para garantir o aprendizado e crescimento.  

Tendo em vista que os estudantes podem ainda não ter identificado o que gostam, os instrutores podem mostrá-los os diversos tipos de jornalismo e de trabalho de um jornalista profissional para que eles descubram seus pontos fortes e interesses, sugere Hyson.

À medida que as aulas avançarem, considere gamificar as experiências de aprendizado para manter os alunos engajados. Os organizadores podem, por exemplo, dividir os estudantes em grupos para que eles criem produtos de reportagem que usam os elementos narrativos aprendidos por eles. Convidados podem julgar os trabalhos e dar opiniões.

Mensure o impacto

Monitorar o que funciona e o que não funciona vai ser importante para a evolução do programa.

Lozano sugere entrevistar os participantes e fazer pesquisas para avaliar os níveis de confiança antes e depois do programa. Intermediar a publicação de matérias de alta qualidade que podem ser usadas mais adiante pelos estudantes na hora de se candidatar a uma vaga na faculdade, de emprego ou estágio é outra medida de impacto. 

Os programas de jornalismo para jovens têm o potencial de influenciar novas gerações e tornar a área mais diversa e acessível, diz Hyson. "Não é só uma questão de importância do jornalismo estudantil e do jornalismo praticado por jovens. É tornar o jornalismo para jovens disponível nos lugares em que tradicionalmente ele não é ofertado." 

O que motiva Lozano é a possibilidade de inspirar muitos futuros repórteres. "Os estudantes jornalistas de hoje vão se tornar as lideranças de redações amanhã, e considerando o modo como os jovens pensam sobre o mundo no momento, isso é muito empolgante", diz. 


Foto por Kelly Sikkema via Unsplash.