Apesar dos altos níveis de apoio à democracia na África, o continente está atrás de outras regiões na implementação de políticas que promovem liberdades em torno dos direitos humanos, economia e outras áreas.
"A maioria dos governos que temos na África são ditatoriais e autoritários. As instituições aqui são fracas porque são controladas por uma pessoa ou por um grupo político", diz Ibrahim Anoba, editor-chefe do African Liberty.
Para conscientizar sobre as questões que envolvem instituições democráticas em países africanos, Anoba lançou o programa African Liberty Writing Fellowship. Por meio da iniciativa, estudantes aprendem a escrever e debater soluções para questões urgentes que afetam o continente.
Programa de redação
Quando Anoba lançou o programa em 2018, ele queria assegurar que os participantes aprenderiam habilidades concretas. Antes de os alunos serem aprovados como bolsistas, eles participam de um curso online de cinco semanas, no qual aprendem sobre redação de artigos de opinião e estruturação de textos.
"Simplicidade e articulação adequada são essenciais ao se apresentar um argumento. Em comparação a outras formas de escrita, os artigos de opinião que aceitamos para publicação devem ser claros e fáceis de se entender. No curso, nós mostramos esse ponto aos bolsistas", diz Anoba.
Após a conclusão do curso, os participantes com melhor desempenho se tornam bolsistas do programa, que dura um ano. Ao longo desse período, eles identificam questões de direitos humanos que afetam a África e enviam sugestões à equipe editorial do programa para análise. Os artigos finalizados são então apresentados a grandes veículos de mídia para publicação.
Os bolsistas que passaram pelo programa já escreveram sobre atividades governamentais e políticas em países como o Malawi, Nigéria, Gana, Uganda e Zimbábue. Os assuntos abordados incluem insegurança alimentar, desigualdade de gênero e restrições na liberdade de expressão, dentre outros.
Assegurar que os artigos dos bolsistas sejam publicados por algum veículo é um dos principais objetivos do African Liberty, mas não é o único foco, diz Nicholas Aderinto, ex-editor-assistente do programa e bolsista em 2022.
"O principal objetivo do programa é assegurar que nossos bolsistas desenvolvam suas habilidades de escrita. É por isso que nosso processo editorial é difícil, desde a fase de seleção", diz Aderinto. "Quando você escreve e nós apresentamos seus textos para os veículos, queremos ter certeza de que você sabe o básico e não está simplesmente enviando textos para nós."
Entrevistas ao vivo e networking
Os bolsistas também são capacitados para darem entrevistas ao vivo. Por exemplo, Jeremiah Enoch, estudante da University of Oxford e atualmente bolsista do African Liberty, foi convidado pela TVC em 2022 para discutir os resultados das eleições em Angola e os impactos na economia do país.
Por sua vez, o bolsista Riaan Salie, que participou do programa em 2021, participou do Newzroom Afrika para discutir como o governo sul-africano poderia conter a disseminação da COVID-19.
"Após o treinamento multimídia, tive que me manter a par do que estava acontecendo na África porque podemos ser avisados sobre uma entrevista com pouca antecedência", diz Salie. "Quando a oportunidade finalmente veio, estar preparado antecipadamente me permitiu contribuir com ideias sobre o assunto para o qual eu fui convidado a comentar."
Para os ex-bolsistas, há uma rede internacional chamada Students for Liberty, que organiza oficinas e outros eventos sobre questões relacionadas aos direitos humanos.
"Com o apoio da rede internacional, os participantes podem ter acesso a mentorias e outras oportunidades de avançar seus sonhos de se tornaram defensores influentes da liberdade na África, mesmo após o fim de sua participação no programa", diz Anoba.
Impacto
O programa equipou os estudantes com habilidades jornalísticas importantes, ao mesmo tempo em que deu a eles acesso a oportunidades profissionais para avançarem suas carreiras.
"Eu consegui textos assinados em jornais diários de alcance nacional, o que me deu muita visibilidade como autor. A experiência com esse programa me ajudou a conseguir uma outra bolsa quase que imediatamente", diz Ope Adetayo, que foi bolsista em 2021 e é jornalista freelancer com matérias produzidas para a Al Jazeera, Guardian, dentre outros.
Participar do programa ajudou Ibraheem Abdullateef a se tornar um melhor comunicador e escritor, o que mais tarde o ajudou a se tornar assistente especial de comunicação no governo de Kwara, em 2022. David Marii, atual bolsista do Quênia, foi convidado recentemente para fazer uma apresentação em uma conferência regional sobre questões relacionadas aos direitos humanos.
"O African Liberty permitiu que eu interagisse com um público amplo e fizesse as perguntas fundamentais que afetam a sociedade para dar soluções", diz Marii. "Acima de tudo, o programa permitiu que eu ganhasse confiança para escrever sobre questões que outros jornalistas, principalmente no país, podem evitar."
O futuro da África
Desenvolver a próxima turma de jornalistas da África é recompensador, mas também tem seus desafios. Tentar melhorar a escrita dos estudantes é uma área que Anoba e sua equipe identificaram como o principal desafio.
"Você está lidando com um grupo diverso de pessoas com habilidades de escrita diferentes e você quer ter certeza que todas elas vão atingir um ponto de transformação", diz Aderinto.
Com jovens jornalistas como Marii e seus companheiros pressionando pela proteção dos direitos humanos, ele acredita na promoção da melhoria da qualidade de vida para africanos e jornalistas africanos.
"Ao defenderem a liberdade, os jovens vão ter melhores oportunidades de trabalho e reduzir os altos níveis de desemprego prevalentes na África", diz Marii. Ele também vê o trabalho dos bolsistas após o programa como um fator que contribui com a melhoria da governança e transparência na África.
Assim como Marii, Anoba tem muitas expectativas tanto para o programa quanto para o progresso da África em geral.
"Só podemos ter esperança porque a África é o continente mais promissor, mas o desenvolvimento econômico só poderá se efetivar quando as estruturas forem adequadas", diz. "Se houver respeito pela liberdade e reconhecimento dos direitos humanos, vamos prosperar."
Foto cedida por Phillip Anjorin.