Jornalistas registram a crise de refugiados na Ucrânia e oferecem ajuda

Apr 13, 2022 em Reportagem de crise
Front of building in Ukraine

Jakub Włodek tem 36 e é fotojornalista da Gazeta Wyborcza, o primeiro jornal diário independente lançado após a queda do comunismo na Polônia. Atualmente ele vive na cidade de Lviv, no oeste da Ucrânia. "Há alarmes de bomba com frequência na região, mas a partir do momento que você se acostuma com eles, você só fica longe das janelas", diz.

Włodek destaca que não é um repórter de guerra, apesar do ambiente no qual ele está trabalhando. Ele e sua equipe são revistados várias vezes por dia pela polícia ucraniana, exército e forças de defesa. Senhoras mais velhas perguntam: "de onde vocês são, há quanto tempo estão aqui?" As pessoas estão aterrorizadas e elas têm razão para estar. Há sabotadores russos na Ucrânia.

Włodek tem registrado as emoções de pessoas que vivem em cidades destruídas pelo ataque russo e que, depois de muitos dias, chegaram ao relativamente seguro oeste ucraniano. Elas saem aos montes de trens em Lviv, mas não sabem para onde ir a partir dali. Não há voluntários o bastante para ajudar a quantidade descomunal de refugiados, dar informações e direções essenciais. A estação de trem fica lotada e os ucranianos que estão fugindo precisam esperar na fila por horas antes de embarcar em trens para continuar a viagem para a Polônia.

"Cruzamos a fronteira em Medica [Polônia] a pé", Włodek relembra. "Observamos como as filas se formavam às seis da manhã e caminhamos junto com os refugiados até o controle da fronteira para ver como é a experiência."

Os trens esperam por horas, e às vezes até por dias, entre Lviv e a fronteira polonesa. A situação é tensa e incerta. "Eu registro essas emoções e também as sinto. Eu só chego perto de alguém se necessário — só se a foto valer a pena. No geral, eu tento não incomodar as pessoas", diz Włodek. Mas Lviv é onde eu me sinto aliviado. Essa é a penúltima parada delas e há esperança." 

Adam Lech, 39, tem fotografias publicadas em revistas polonesas, no The New York Times e Le Monde, dentre outros. Ele também já realizou exposições pela Europa, em Paris, Praga, Berlim e outras cidades.

No momento ele se sente frustrado porque veículos estrangeiros — e não as redações locais — estão contratando os principais fotojornalistas poloneses. "A fotografia é tratada como um elemento sem validade pela maioria dos editores poloneses; eles economizam dinheiro com fotográfos", diz.

Desde o início da guerra, Adam e sua esposa, Dyba Lach, 30, jornalista freelancer e apresentadora de podcast, estão trabalhando do lado polonês da fronteira ucraniana. Milhões de ucranianos fugiram para a Polônia desde o fim de fevereiro — um desdobramento que o casal testemunhou de perto.

"Nos dois primeiros dias eu chorava o tempo todo", conta Dyba Lach.

"Quando você está trabalhando, fica mais fácil lidar com as emoções", acrescenta Adam Lach. "O jornalismo confiável é vital para informar o mundo que algo horrível está acontecendo aqui, e o mundo reage a essas imagens."

A ética no trabalho é fundamental para ele. "Você fica diante de uma escolha moral. Por exemplo, quando uma multidão de mães com crianças mancando chega, você entende que essa fotografia pode contribuir com algo", explica. "Mas o seu comportamento na hora de fazer essa foto é importante — seja se afastando para fotografar à distância ou ficando a milímetros de distância das pessoas."

Dyba Lach descreve o constante ato de equilíbrio: "muitas pessoas querem compartilhar suas histórias. Você pode ser a primeira pessoa desse lado do mundo a ouvi-las e elas podem acabar desabando."

Ela compara a travessia da fronteira com um festival estranho: "tem uma fila de pessoas que querem ajudar os refugiados. Tem doces e brinquedos para as crianças e 15 tipos de barracas de comida do mundo todo. Só depois que eles se alimentam e descansam nós tentamos nos aproximar." 

"O lado errado da fronteira"

Jowita Kiwnik Pargana, 42, mora em Bruxelas, na Bélgica, e é jornalista na editoria polonesa da Deutsche Welle, onde escreve normalmente sobre legislação da União Europeia. Mas agora ela cobre o conflito da invasão russa à Ucrânia. Ela voltou há pouco tempo da fronteira da Polônia com a Ucrânia, onde estava trabalhando e também oferecendo ajuda.

"Todas as pessoas que estão abordando a questão deveriam ver e vivenciar a fronteira", diz Pargana. "Eu escuto muita coisa vinda do Ocidente; algumas pessoas acham que a Ucrânia deveria desistir, mas elas não estão geográfica e culturalmente perto da Ucrânia como nós poloneses estamos. Eu visitei minha mãe, que mora no conjunto habitacional comunista em Gdańsk [Polônia]; vizinhanças como a dela estão sendo destruídas na Ucrânia. Se eu estivesse do lado errado da fronteira, a casa da minha família estaria no chão."

Recusando-se a deixar o medo tomar conta, Pargana organizou uma campanha em março para ajudar refugiados ucranianos. Em apenas dois dias ela arrecadou mais de US$ 3.000 da sua rede de amigos no Facebook. Ela comprou medicamentos, sacos de dormir e lanternas e levou tudo para a fronteira.

"A parte mais difícil é quando eu volto para a Bélgica. Eu fico com muita adrenalina e não consigo dormir até umas cinco da manhã. De volta a Bruxelas, de repente tudo fica surreal."


Foto por Marjan Blan | @marjanblan no Unsplash