As redes sociais ficaram repletas de desinformação sobre a invasão russa à Ucrânia no último mês. Devido à grande quantidade de conteúdo falso online, distinguir entre informação confiável e incorreta tem sido um desafio.
A seguir há uma série de orientações e ferramentas para ajudar jornalistas a cobrir os acontecimentos na Ucrânia sem se tornarem vítimas da desinformação.
Conteúdo em vídeo manipulado
Poucas horas depois de a Rússia anunciar o início de sua operação militar na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, um vídeo que alegava ser de jatos russos entrando no espaço aéreo da Ucrânia viralizou nas redes sociais, acumulando centenas de compartilhamentos e milhares de comentários no Facebook, Twitter e Instagram. Mas, no fim, descobriu-se que era só o trecho de um vídeo de cinco minutos de caças postado online anos atrás.
Este caso não é o único, infelizmente. Outros vídeos circularam amplamente nas redes sociais apesar de serem antigos ou de locais sem relação com o conflito. Nestes casos, especialistas recomendam usar o Verification Plugin, uma ferramenta que permite a jornalistas fragmentarem vídeos em quadros — na aba "Keyframes". Os quadros podem, então, serem usados para fazer uma busca reversa de imagens em vários buscadores de fotos.
Em um esforço para documentar e expor vídeos e notícias questionáveis nas redes sociais — incluindo conteúdo da mídia estatal russa — a equipe investigativa do Bellingcat fez uma planilha no mês passado para ajudar jornalistas a monitorarem informação e vídeos online que sejam enganosos.
Identificar desinformação é um desafio porque ela pode conter elementos verdadeiros ou fatos parciais, que são tirados de contexto, deixando-os com um significado completamente diferente. Para evitar essa armadilha, jornalistas podem usar o YouTube Data Viewer, uma ferramenta desenvolvida pela Anistia Internacional, para encontrar sites que possam vir a ter cópias de um determinado vídeo.
Além disso, os jornalistas podem determinar onde ou quando um vídeo foi feito buscando por pistas visuais, como placas de lojas e de nomes de ruas, desenhos arquitetônicos específicos, itens de mobiliário, sinais de trânsito, plantas, placas de carro ou o tempo.
Imagens falsas
Fotos fabricadas também circulam amplamente nas redes sociais. Isso inclui uma imagem recente que mostrava o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no campo de batalha. Uma simples busca reversa mostrou que o governo ucraniano tinha publicado a foto da visita de Zelensky à região ucraniana de Donbas em abril de 2019.
Buscas reversas de imagem são úteis já que a desinformação frequentemente pode vir de fotos tiradas de contexto. Este método permite que você use um motor de busca para identificar uma foto, captura de tela ou vídeo, e encontrar sua fonte. Você vai conseguir encontrar a(s) fonte(s) que publicou inicialmente a imagem, bem como a data de publicação e onde ela foi tirada.
Jornalistas podem fazer uma busca reversa de imagem usando o Google Images, Tineye, Bing ou Yandex. Se você está usando o Google Chrome, clique com o botão direito na foto e selecione "procurar imagem com o Google Lens", o que vai te levar para a foto original, sua data de publicação e localização.
Outra alternativa para jornalistas é o Who Posted What, que permite encontrar a imagem original e sua data de postagem. Para fazer isso, copie o link da foto e cole na barra de pesquisa do site. Você também pode procurar por postagens com base em palavras-chave dentro de determinados períodos de tempo. O site te permite identificar o usuário por trás da imagem ou do post, o que você pode usar para pesquisar pela informação de contato da pessoa e falar com ela diretamente, caso você queira perguntar sobre o que foi compartilhado.
Ao lidar com questões sobre as quais você não tem conhecimento prévio, fazer buscas na internet não é o bastante. Neste caso, procure ajuda de outros jornalistas. O Inside Newsroom, por exemplo, fez uma lista de mais de 200 jornalistas confiáveis que estão cobrindo a guerra presencialmente, os quais você pode seguir ou entrar em contato.
Afirmações e citações enganosas
Para identificar afirmações ou citações enganosas, primeiro tente buscar o texto em questão em uma ferramenta de busca. Você pode descobrir se ele já foi publicado online anteriormente ou se veio de uma fonte diferente.
Diante dos altos níveis de desinformação, a diretora sênior de programas do ICFJ, Cristina Tardáguila, tuitou sobre os esforços dos verificadores de fatos para expor a informação falsa que está circulando. Jornalistas podem seguir a hashtag #UkraineFacts para saber mais.
Este guia do The Washington Post é outro recurso útil para jornalistas e usuários da internet denunciarem conteúdo em vídeo manipulado. A ferramenta foi criada pela produtora sênior do Post, Nadine Ajaka, especializada em plataformas de vídeo, pelo verificador de fatos Glenn Kessler e a repórter forense visual Elyse Samuels.
Jornalistas também podem verificar informação e fontes online com as seguintes ferramentas:
- Web Archive: se o vídeo for falso ou tiver sido deletado, você pode usar essa ferramenta para encontrar a página original
- Fake News Detection Details: esse modelo de aprendizado de máquina oferece "detecção de perspectiva", por meio do qual ele avalia a credibilidade das alegações
- FactCheck.org: este site permite aos usuários fazer perguntas sobre a precisão de notícias sobre política, ao mesmo tempo em que a equipe fornece checagem de fatos e material explicativo
- Pic2Map: jornalistas podem usar essa ferramenta para acessar dados escondidos de uma imagem e descobrir onde e como ela foi tirada
- Forensically: jornalistas podem usar essa ferramenta para expor fotos fabricadas e extrair partes que foram alteradas
Para saber mais sobre o básico da verificação de informação, você pode consultar materiais de treinamento como o Manual de jornalismo, fake news & desinformação da UNESCO e o Manual de Verificação do European Journalism Centre.
Para quem fala árabe, esta ferramenta da Open Source Handbook oferece 25 recursos para cobrir a guerra e conflitos armados no mundo, incluindo um mapa, rastreador e atualizações em tempo real da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Este artigo foi originalmente publicado pelo nosso site em árabe.
A imagem principal foi publicada inicialmente pela diretora sênior de programas do ICFJ, Cristina Tardáguila, no Twitter.