Jornalista do mês: Lara Reffat

Jun 30, 2022 em Jornalista do mês
A headshot of Lara Reffat.

Desde pequena, Lara Reffat já amava escrever e contar histórias, e sabia que queria ser jornalista. Para ela, o jornalismo significava mais do que cobrir os problemas do dia a dia: era uma oportunidade para lançar luz sobre as pessoas mais afetadas pelos principais acontecimentos.  

"Eu percebi que as pautas que me atraíam eram aquelas com um elemento humano, pessoas com nomes e rostos. Isso me ajudou a ver as coisas a partir de perspectivas diferentes", diz. 

A carreira de Reffat começou durante seu segundo ano na Universidade MSA, no Cairo, depois que ela se interessou em trabalhar para uma publicação local chamada Women of Egypt.

"Eu pensei: 'ok, vou fazer isso, o que poderia acontecer de pior?', e mandei uma ideia de pauta sobre endometriose, que é uma doença muito pouco conhecida no Egito", diz. "A fundadora [do Women of Egypt] adorou o tema, e quando eu me dei conta, eu já estava sugerindo pautas frequentemente para a revista, com foco em questões de empoderamento da mulher."

Desde então, a jornalista nascida no Cairo se tornou uma profissional de sucesso que destaca questões femininas. Abaixo, ela reflete sobre seu começo no jornalismo, o que está fazendo no momento e como a IJNet tem sido uma força influente na construção da sua trajetória de freelancer.

Quais obstáculos você teve que enfrentar sendo uma jovem repórter no Egito?

Eu acho que por ser jovem e mulher, as pessoas são um pouco céticas em relação a o quão boa pode ser a qualidade do seu trabalho. No começo, um dos principais desafios era não ter um portfólio forte para as pessoas verem. Com o passar do tempo, meu trabalho começou a falar por si mesmo, mas ainda hoje há pessoas que às vezes são céticas. Ajuda quando você mostra a elas que você fez sua apuração e está comprometida na produção da matéria. 

Qual a sua matéria preferida até o momento?

Minha primeira matéria foi sobre etarismo no Egito no pico da COVID-19, quando tenho certeza que muitos de nós percebemos o quão descomunal é o etarismo. Eu vi como o etarismo está consolidado em nossa sociedade: na mídia, cultura e até na linguagem. Eu pesquisei bastante, e as minhas matérias favoritas são aquelas em que a apuração não é só para a audiência. À medida que você apura, você também aprende.

Eu também tenho um carinho especial pelos meus primeiros trabalhos relacionados ao empoderamento feminino porque é ótimo ver como eu cresci um pouco ao longo dos anos, e é importante lembrar como eu comecei.

Como a IJNet te ajudou?

Eu consultava muito a IJNet porque achava que tinha muitas oportunidades interessantes. Chega aquele momento que você sente que precisa de algo feito especialmente feito para o estágio em que você está na vida. Eu tive muita sorte de descobrir a bolsa African Arguments Fellowship. Ela me interessou de imediato porque era uma bolsa para jovens freelancers da África, tudo o que eu era.

Eu me candidatei mesmo sabendo que era uma bolsa concorrida. Mas quando eu consegui, eu posso dizer com honestidade que foi uma experiência que mudou minha vida. Foi a primeira vez que eu trabalhei internacionalmente como freelancer. Eu acho que não teria conseguido avançar com mais força na carreira internacional de freelancer se não tivesse esse espaço seguro para me entender melhor e ter a ajuda de um mentor.

Em quais projetos você está trabalhando no momento?

Eu consegui mais uma oportunidade por meio da IJNet, o programa African Women in Media, do qual estou participando no momento. É um programa intensivo de oito meses sobre jornalismo, desde redação até produção de podcasts, e também está alinhado com os meus valores sobre cobertura de assuntos relacionados à mulher. Com a bolsa do African Arguments, eu pude escrever de um ângulo centrado na mulher: o tabu de mulheres andarem de bicicleta no Egito e sobre ativistas tentando normalizar a adoção de órfãos no país [por exemplo]. Agora, estou produzindo o meu primeiro perfil no African Women in Media, fazendo a interseção de feminismo com questões ambientais no país.

Qual conselho você dá para freelancers que estão começando?

Você precisa aceitar que a rejeição vai ser parte do processo. Isso é uma certeza. Mas você pode fazer algumas coisas para tornar a trajetória de freelancer mais fácil para você.

Ajuda bastante ter o seu próprio banco de dados de veículos para os quais você gostaria de enviar sugestões de pauta ou simplesmente de pautas que você gostaria de sugerir. Sempre que eu vejo um veículo para o qual eu gostaria de escrever, ou um editor pedindo sugestões de pauta, eu penso "Ok, no momento posso não ter a energia ou o conhecimento para sugerir uma pauta para esse veículo em especial, mas vou colocá-lo na minha lista". Criar uma lista facilita, porque quando você estiver em condições de sugerir uma pauta de fato, metade do trabalho já vai ter sido feito.

Eu também acho que é importante escrever sobre assuntos que significam algo para você. O jornalismo pode ser desafiador, mas se você está escrevendo sobre algo que importa para você, isso faz valer a pena.

Outra coisa que gostaria de dizer para pessoas mais jovens é que você pode se sentir sozinho às vezes, então ter uma rede de apoio de outros freelancers pode ser ótimo, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Não tenha medo da rejeição. Não hesite em descobrir sobre o que você gostaria de escrever e tome a iniciativa diante de outros freelancers e editores.


Foto cedida por Lara Reffat.