Criada no Egito, Dina Aboughazala se sentia insatisfeita com a forma como a grande mídia ocidental cobria seu país. As matérias frequentemente se concentravam em aspectos negativos, deixando-a desanimada.
"Toda vez que eu ia ver o noticiário só tinha notícia ruim. Economicamente as coisas não iam bem, nem no que diz respeito à segurança", diz. "A situação não era das melhores e isso me fazia sentir [como se] o país estivesse à beira do colapso em diferentes níveis."
Em 2018, ela decidiu mudar isso.
Aboughazala, que já trabalhou na BBC e foi bolsista em 2020-21 do Centro de Mentoria da IJNet em Árabe, lançou a iniciativa de mídia Egab — derivado das palavras árabes "igabi" e "agaba", que significam "positividade" e "resposta", respectivamente — para ajudar estudantes e jornalistas locais a desenvolverem pautas que mudem as narrativas predominantes por meio do jornalismo de soluções, e a sugerirem as ideias para publicações internacionais como The Guardian e Al Jazeera.
"Eu sempre tive a mentalidade de olhar para os problemas e desafios e encontrar soluções", diz Aboughazala. "Foi quando eu me deparei com o jornalismo de soluções e me apaixonei por ele."
Em 2021, Aboughazala expandiu a missão do Egab para ensinar a jornalistas do Oriente Médio e África o jornalismo de soluções que a iniciativa promove. No ano passado, por exemplo, o Egab treinou estudantes na Nigéria para ajudar a melhorar a cobertura sobre como as pessoas respondem aos problemas e desafios em suas comunidades locais. Por meio do treinamento, jovens jornalistas conseguem sugerir suas pautas de jornalismo de soluções que o Egab ajuda a publicar em veículos nacionais e internacionais.
"Fizemos uma parceria com o Sindicato de Jornalistas Universitários da Nigéria (NUCJ na sigla em inglês), treinamos as pessoas e mostramos como podiam se juntar ao Egab", diz. A parceria com o NUCJ permitiu ao Egab ampliar sua rede de jornalistas na África Subsaariana. "Nós temos esses talentos locais, então criamos um serviço para empoderá-los e ajudá-los dando o feedback que eles não têm em suas redações locais para produzir jornalismo de alta qualidade."
Como funciona o processo de sugestão de pautas
O Egab orienta os jornalistas no processo de sugestão de pauta aos veículos. Após o treinamento, os jornalistas determinam sobre quais soluções eles querem fazer uma matéria e fazem a sugestão para o Egab. Depois de enviada a sugestão, Aboughazala e sua equipe avaliam e mandam um feedback para explicar por que a pauta foi aceita ou rejeitada.
"O que realmente falta para os jornalistas locais é o que vem depois de participar desses treinamentos. Normalmente eles são deixados sozinhos ou não sabem muito bem como implementar as habilidades recém-adquridas", diz Aboughazala.
Quando uma pauta é aceita e publicada por um veículo internacional, o Egab recebe 30% do pagamento como uma taxa de serviço. "Nosso trabalho é ajudar jornalistas locais a terem suas matérias publicadas, aprimorar suas habilidades e obter emprego na mídia internacional ou se destacarem por conta própria através de matérias assinadas", continua. "Ao ajudar jovens jornalistas a publicarem, direto de suas cidades, matérias que têm apelo para uma audiência global, estamos ajudando-os a quebrar esse círculo vicioso de não encontrar as oportunidades adequadas para desenvolver suas habilidades e serem publicados em veículos com boa reputação."
Benefícios para os estudantes
No ano passado, o Egab treinou mais de 50 estudantes de jornalismo na Nigéria. "Essa plataforma deu uma oportunidade para os jornalistas do campus se aventurarem em reportagens sobre estudantes incríveis que estão apresentando diferentes soluções inovadoras para lidar com os problemas da comunidade", diz Samuel Ajala, presidente da NUCJ.
Vale ressaltar que o jornalismo de soluções que o Egab usa para treinar jornalistas está se tornando cada vez mais popular em redações em todo o mundo. "A capacitação foi esclarecedora porque aprender que há uma maneira de fazer reportagem sobre como as pessoas estão reagindo aos problemas foi importante e diferente da reportagem convencional à qual estamos acostumados", diz Abiodun Jamiu, um dos estudantes nigerianos que passou pelo treinamento do Egab. "Eu tive a oportunidade de aprender sobre áreas da reportagem que nós não temos abordado."
Após o treinamento, Jamiu produziu duas matérias de jornalismo de soluções que foram publicadas pelo The Guardian e a publicação nigeriana Humangle. A Rede de Jornalismo de Soluções incluiu ambas as matérias no seu Story Tracker.
"O que melhorou de verdade minhas habilidades jornalísticas foram a prática diária e o feedback que recebi dos meus editores e colegas", relembra Aboughazala. "É basicamente isso que estamos recriando para os jornalistas locais."
Planos para o futuro
Aboughazala atualmente está criando uma plataforma online que ela espera estar funcionando em agosto. O portal vai abrigar cursos online e oferecer outros recursos úteis para jornalistas.
"Isso vai nos permitir servir um número maior de jornalistas e veículos com mais rapidez", diz. "Queremos que o Egab seja o trampolim para qualquer jornalista local do Sul Global dar o pontapé inicial na sua carreira internacional de jornalismo."
Foto Oluwatobi Fasipe no Unsplash.