Jornalista do mês: Khaled Shalaby

Dec 2, 2021 em Jornalista do mês
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Estudante de engenharia aeroespacial pouco mais de uma década atrás, o produtor e jornalista Khaled Shalaby, hoje em Londres, se juntou com outros colegas estudantes para noticiar as eleições parlamentares do Egito e dar atualizações sobre a Revolução Tunisiana. Foi assim que começou sua paixão por noticiar comunidades do Oriente Médio e do Norte da África.

"Em 2010, nós criamos um grupo pequeno no Facebook para filmar e noticiar o que exatamente estava acontecendo nas eleições [egípcias] e para registrar as prisões de ativistas opositores ao regime Mubarak", conta Shalaby.

Shalaby mudou-se para o Reino Unido em 2017 para cursar engenharia, deixando para trás seu trabalho como repórter freelancer para vários veículos locais e ONGs. Porém, ele não conseguia tirar da cabeça a possibilidade de contar histórias sobre grupos sub-representados. Isso o levou a um caminho diferente.

"Eu me via sempre trabalhando e pensando sobre muitos assuntos, porque na região do Oriente Médio há muita notícia para dar", diz Shalaby. "Eu simplesmente não consegui resistir a ser um jornalista e deixar minha experiência para trás, então decidi mudar minha carreira para [focar no] jornalismo."

Shalaby trabalha há três anos como repórter multimídia do Middle East Eye, onde ele cobre política, direitos humanos, cultura e história na região. Ao longo de sua carreira, ele também produziu documentários e talk-shows. Vivendo no Reino Unido, ele ministrou cursos na Universidade de Artes de Londres sobre a interseção de ativismo e jornalismo e como isso impacta comunidades.

Nesta entrevista, Shalaby fala mais sobre os seus projetos favoritos, as dificuldades de conseguir fontes e garantir a segurança delas e como a IJNet tem o ajudado a se tornar um jornalista melhor.   

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Qual o projeto favorito no qual você trabalhou e por quê?

Meu favorito é o último documentário que produzi para o Middle East Eye — foi o primeiro documentário para o veículo, chamado The Exiles. Esse documentário foi uma ideia que tive anos atrás, especialmente depois da revolução no Egito.

Sabemos o que aconteceu e acho que sabemos os eventos e todas as perspectivas políticas e econômicas, mas nós não conhecemos as pessoas. Nós não sabíamos exatamente o que tinha acontecido com essa geração. Estamos falando de milhares de jovens que estavam protestando, tentando fazer qualquer tipo de mudança e lutando contra a corrupção no seu país. Mas em questão de poucos anos eles desapareceram e ninguém sabia mais sobre eles.

Foi uma conversa muito honesta e profunda entre essa geração e outras pessoas que podem estar interessadas em acompanhar o que exatamente estava acontecendo na região. Essa história representa muitos países, não apenas o Egito.

Quais obstáculos você enfrenta e o que te motiva a continuar?

Quando você cobre países do Oriente Médio e Norte da África, é muito difícil encontrar pessoas dispostas a falar com a mídia porque, uma vez que você faz isso, você vai ser perseguido pelo regime. É muito sério e tentamos fazer nosso melhor para manter nossas fontes em confidencialidade para protegê-las.

No Sudão, tivemos que esconder os rostos de fontes para protegê-las do regime, o que torna mais difícil chegar até elas. É ainda mais difícil tentar saber como cobrir essas comunidades de um jeito que não cause nenhum dano às pessoas que vivem nessas áreas.

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Você disse que foca na cobertura de questões que expressam as preocupações da população no Oriente Médio. Por que isso é importante para você?

Isso é algo que eu sentia que precisava fazer porque não havia muitos ativistas de mídia fazendo o que eu estava fazendo. Você vê a mídia oficial do governo representando apenas uma coisa e ignorando todo o resto que está acontecendo no país. Pra mim, era importante noticiar o valor da liberdade e ser uma voz para quem não tem voz — para as pessoas que sofrem diariamente e que não tinham ninguém contando suas histórias.

É por isso que me envolvi com o jornalismo. Eu quero destacar as histórias de todo mundo e suas vozes. Eu não me importo com a religião delas, a origem cultural, etnia, nada — eu só quero compartilhar as vozes delas com o mundo todo para representar exatamente o que aconteceu com elas. 

Como a bolsa de jornalismo de dados que você descobriu na IJNet te ajudou como um jornalista?

O jornalismo de dados é algo que achei muito interessante por causa da minha experiência em engenharia. Você tem diferentes dados que tem que coletar de várias partes e criar uma história a partir do que encontrou.

Essa bolsa abriu minha mente para diferentes tipos de jornalismo que eu possa vir a querer fazer no futuro. Até o momento, não terminei minha investigação porque a parte mais desafiadora é descobrir como verificar os dados no Egito, que tem recursos limitados.

Qual conselho você daria para repórteres iniciantes que desejam trabalhar no Reino Unido?

Não se limite a escutar algo; faça uma investigação a respeito. Você deve sempre tentar ver e entender o que aconteceu exatamente. É verdadeiro ou falso? Certo ou errado? É muito fácil a desinformação explodir por todos os lados sem nenhum limite.

Como jornalistas, temos esse princípio de que precisamos saber como verificar notícias e como apresentar os fatos. Nós temos que refletir sobre o que está acontecendo em todos os lugares e tentar fazer isso de forma neutra e manter nossas opiniões fora da matéria porque você pode ter que cobrir algo com o qual você não concorda.


Foto cedida por Khaled Shalaby.