Jornalista do mês: Keletso Thobega

por Naomi Ludlow
Dec 30, 2020 em Jornalista do mês
Keletso Thobega

A jornalista Keletso Thobega faz mais do que atrair o público com suas reportagens: ela busca contar histórias que impactarão os leitores em uma escala maior.

Desde sua infância em um município pequeno em Botswana, Thobega sempre soube que queria ser jornalista. As políticas discriminatórias que ela via em torno da pobreza e da desigualdade de gênero em seu país a motivaram. Ser jornalista permite que ela transmita informações críticas a seus concidadãos sobre essas políticas e aqueles que as defendem.

“Como jornalista, tenho o poder de estar no centro dessa influência, mudando a narrativa em nossa sociedade e influenciando as políticas que afetam a vida das pessoas comuns”, disse Thobega à IJNet.

Ela permaneceu fiel a este propósito. No início deste ano, por exemplo, ela reportou sobre a nova legislação em Botswana permitindo que as mulheres possuíssem terras.

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Hoje, Thobega tem um grande interesse em cobrir a violência de gênero — uma questão que perpetua a discriminação em seu país. Ela desenvolveu esse foco enquanto trabalhava para combater o crime no início de sua carreira, cobrindo histórias que envolviam estupro, roubo e mais.

Mais de 67% das mulheres em Botswana são vítimas de violência de gênero. Isso é mais do que o dobro da média global. Por meio de entrevistas com mulheres e pesquisas sobre o assunto, Thobega descobriu que, embora mais mulheres ocupem cargos de poder no país agora, a violência de gênero está aumentando.

No mês passado, Thobega informou sobre os novos tribunais de violência de gênero que Botswana abrirá para tratar da questão, que só foi exacerbada pelos bloqueios da COVID-19. “Você faz parte da comunidade para a qual está reportando. Pense, ‘como isso me afeta também?’”, disse ela.

Keletso Thobega
Foto de Keletso Thobega.

 

Thobega começou no jornalismo em 2013 no Botswana Guardian, uma das publicações mais antigas do país. Ela trabalhou nos bastidores, revisando artigos. Ela se sentiu confortável na posição até que um mentor dela a encorajou a trabalhar na redação como redatora. “Depois que eu coloquei meu pé na porta, não havia como voltar atrás”, lembrou Thobega.

De lá, ela foi trabalhar para o Midweek Sun, uma publicação em estilo tabloide de propriedade do Botswana Guardian, onde ela cobriu o setor de artes e cultura. Nesta posição, ela desenvolveu sua paixão por contar histórias impactantes, escrevendo artigos aprofundados sobre artistas e seu trabalho.

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Por meio de uma oportunidade que encontrou na IJNet, Thobega ganhou o primeiro prêmio da Fundação Merck por suas reportagens sobre a COVID-19 e seus efeitos em sua comunidade. Ela  conseguiu revelar problemas por meio dessa reportagem que estão sendo ignorados em um nível global.

Mais tarde, ela se tornou bolsista da Fundação Thomson Reuters, cargo que ocupa hoje, por meio de uma segunda oportunidade que encontrou na IJNet. Ela viajou para Roma para explorar questões de agricultura e finanças sob esta bolsa.

Keletso Thobega
Foto de Keletso Thobega.

 

Embora Thobega goste das reportagens que realiza, o trabalho não foi isento de dificuldades. Ela teve que superar “a sabotagem, intimidação e humilhação” por ser mulher no jornalismo, principalmente no início de sua carreira. Além disso, ela sofreu ansiedade e estresse ao reportar histórias traumáticas envolvendo assassinatos rituais e fraude de terras.

Para lidar com isso, Thobega tenta relaxar. Ela gosta de se desconectar lendo, frequentando spas e indo à igreja, entre outras atividades. Seu mantra é: “Eu não vão salvar todo mundo, mas o meu melhor é bom o suficiente”. Ela faz seu trabalho e se esforça para causar impacto por meio de suas reportagens.

Enquanto olha para o futuro, Thobega planeja continuar avançando em sua carreira, potencialmente entrando em diferentes mídias. Ela espera fazer a transição para reportagens multimídia no futuro.

Aqui estão algumas dicas que ela tem para aspirantes a jornalistas:

  • Seja curioso 
  • Entenda a narrativa
  • Tenha paixão pelo que faz
  • Seja capaz de se adaptar às mudanças
  • Pense em termos de soluções
  • Nada supera a prática

Naomi Ludlow é estagiária da IJNet.

Todas imagens cortesia de Keletso Thobega