Uma demissão, frustrações com as limitações de uma redação tradicional ou o desejo de cobrir temas com pouco espaço na mídia te motivaram a lançar sua própria newsletter, podcast ou site?
Não importa qual foi o catalisador, o tamanho da sua ambição ou o quanto você é um ótimo jornalista, o seu projeto não vai ter um impacto se ninguém se engajar com ele.
"Conteúdo de alta qualidade é crucial para manter um público leitor", diz Fernanda Braune Brackenrich, editora de engajamento de audiência no Financial Times. "Mas não importa a qualidade do seu conteúdo se ninguém conseguir encontrá-lo."
Nas grandes redações, equipes de engajamento de audiência colaboram com repórteres e editores antes de uma matéria ser publicada, criando estratégias para quando e onde publicá-la, e depois aprimoram o conteúdo com base no desempenho. Porém, fundadores de projetos independentes na maioria das vezes lidam com tudo por conta própria.
"Já ouvi falar que uma startup de jornalismo deve dedicar um terço do seu tempo para o marketing, um terço para o editorial e um terço para o desenvolvimento de negócios", diz Cadence Bambenek, cofundadora e editora-chefe da newsletter de soluções sobre o clima Hothouse.
Desde o lançamento, em 2020, a Hothouse atraiu 5.500 assinantes. Nos últimos dois anos, Bambenek comanda a publicação praticamente sozinha. "Quando tive problemas que impactaram minha vida pessoal, eles impactaram a Hothouse também." Depois de um terremoto comprometer sua casa, manter a newsletter rodando era mais importante que trabalhar no crescimento da publicação.
No caso de projetos financiados por leitores, expandir e manter o alcance também é essencial para a viabilidade financeira. "Receita é sempre o maior desafio", diz Jamie Wareham, fundador da QueerAF, publicação LGBTQIA+ mantida principalmente por membros pagos.
"Um editor me disse para parar de sugerir — abre aspas — 'matérias gays' porque não tinha 'dinheiro' ou 'audiência' pra elas", diz Wareham. Para testar a afirmação, ele lançou a QueerAF em 2016 como um podcast e mais tarde expandiu para uma newsletter premiada que investe em talentos emergentes da comunidade LGBTQIA+.
Cultivar uma base de seguidores não tem a ver somente com visibilidade — isso torna o seu trabalho como jornalista sustentável e influente. Mas como construir e manter essa base?
A seguir, Bambenek, Braune Brackenrich e Wareham dão conselhos práticos sobre como fazer isso.
Encontre o seu nicho e comprometa-se com ele
Um dos maiores erros cometidos por jornalistas independentes é mudar o foco com muita frequência. "Escolha um nicho e fique com ele. Defina o seu objetivo e mantenha-se firme", sugere Wareham. É tentador ficar pulando de galho em galho ou mudar de ideia logo no começo, quando algo não está dando certo. Embora o aprimoramento seja importante, dê tempo ao seu projeto para que ele cresça.
Antes de lançar publicamente, teste o seu conteúdo e formato e, uma vez feito o lançamento, comprometa-se a longo prazo. "Leva bastante tempo para qualquer coisa crescer, principalmente produtos de mídia", diz Wareham.
Entenda a sua audiência
Antes de publicar, coloque-se no lugar da sua audiência. Pergunte-se:
- Onde e como as pessoas acessam notícias?
- Qual formato se adequa ao estilo de vida delas?
"Se você está lançando algo para uma audiência que vive na cidade grande, por exemplo, você deve levar em conta o tempo gasto no transporte público", diz Braune Brackenrich. "Esse é um bom momento para as pessoas olharem o celular e ler, ouvir ou assistir alguma coisa."
Deixe que esses insights te guiem sobre quando e como você vai publicar e lembre que o jornalismo de excelência é essencial para construir uma base de leitores.
"Eu mergulhei fundo na nossa audiência recentemente e vi que os leitores da Hothouse são frequentemente tomadores de decisão de alto escalão", diz Bambenek. "Não posso querer prender a atenção deles se não mantiver a qualidade esperada por eles dos artigos e insights."
Entender quem lê a Hothouse, o que essas pessoas precisam e onde elas trabalham ajudou a moldar a trajetória da publicação.
Você pode conhecer a sua audiência analisando dados, fazendo questionários ou pesquisas de opinião.
Estabeleça um calendário sustentável
Publicar semanalmente, na maior parte dos casos, gera um engajamento maior do que uma publicação quinzenal ou mensal, mas apenas se isso for realista para você. "Você vai ter que criar toda semana. Então certifique-se de que é algo que você realmente ama", diz Wareham. A newsletter QueerAF é publicada sempre nas manhãs de sábado com um resumo das notícias da semana. "Isso significa que o meu dia mais cheio é a sexta", diz.
Antes de se comprometer com um cronograma, pergunte-se:
- É sustentável para mim?
- Ele vai continuar funcionando daqui a meses ou anos?
Use as redes sociais com propósito
"Eu recomendo focar em um canal de rede social para concentrar seus esforços. Apresente o seu conteúdo de formas diferentes, combinando links, fotos e vídeos", sugere Braune Brackenrich.
Ela observa que, embora o tráfego de origem nas redes sociais tenha diminuído, postagens de contas individuais — em vez de contas de empresas — foram menos afetadas. Amplificar o seu trabalho usando o seu nome pode gerar mais engajamento do que simplesmente contar com a presença online do veículo.
Invista em relações
Interagir diretamente com a sua audiência cria lealdade e fortalece o marketing boca a boca. "Gastar bastante tempo construindo relações — o que nem sempre parece ter um resultado tangível — deixou as pessoas mais propensas a apoiarem a QueerAF quando fizemos esse pedido tanto de forma pública quanto direta", diz Wareham.
Essas medidas "não escaláveis" são essenciais para o crescimento de longo prazo, escreveu Wareham em um artigo recente. Elas também podem orientar decisões editoriais. Os leitores muitas vezes chamam atenção para pautas que ninguém está cobrindo, criando um ciclo em que o engajamento impulsiona o conteúdo e o conteúdo alimenta o engajamento.
Oferecer recursos valiosos, como a página Trans+ History Week da QueerAF, também pode atrair novos assinantes. "Isso foi mais uma evolução do que um plano claro desde o começo", admite Wareham. Mas a página se tornou uma ferramenta para o crescimento.
Faça parte da conversa
Como sua audiência é mais propensa a engajar com análises aprofundadas e não com o conteúdo rápido das redes, Bambenek aperfeiçoou a presença online da HotHouse exclusivamente com publicações no Substack, que oferece ferramentas de descoberta para atrair novos assinantes.
"Eu acho que isso me poupou de uma dor de cabeça e permitiu que eu focasse em escrever textos de alta qualidade e publicá-los em uma única plataforma em vez de dividir a minha atenção", diz.
Mas com a newsletter chegando ao quinto ano, Bambenek está reconsiderando a forma de promover o projeto. "Chega um momento em que é um desserviço ao trabalho se você não se esforçar para se colocar de forma correta e com orgulho na conversa com a qual ele dialoga."
Dar palestras em eventos, participar de discussões do setor e se engajar nas redes sociais são oportunidades de fazer parte da conversa e criar conexões.
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