Em direção a um futuro do jornalismo centrado na audiência

Aug 5, 2024 em Engajamento da comunidade
Five people and a dog are seen outlined in orange, against an orange background. Two of the people talk to each other, one stands along with a stick, one walks a dog, and the other is in a wheelchair. All of them look at their mobile phones intently, and all cast shadows on the ground. The shadows are made up of network diagrams, being representative, rather than literal shadows.

De demissões em massa e queda das receitas à falta de confiança na mídia, repressão à liberdade de imprensa, entre outros problemas, não faltam desafios para o jornalismo atualmente.

Mas em vez de se conformarem com a derrota, alguns jornalistas estão tomando a iniciativa para reorientar o setor em direção ao que eles acreditam ser um futuro mais próspero, focando na audiência em primeiro lugar. 

 

 

"O jornalismo pode e deve ser reinventado, e a única forma de fazer isso é fazermos juntos", disse Mattia Peretti, bolsista do programa ICFJ Knight Fellow, durante uma sessão do Fórum de Reportagem de Crise.

Peretti, que já comandou o JournalismAI, iniciativa que orienta veículos jornalísticos sobre o uso responsável de IA, é cofundador do News Alchemists, "um movimento que convida pessoas e organizações de jornalismo a colocarem as necessidades e curiosidades das pessoas bem como o benefício da sociedade no centro de tudo", explicou.

Juntamente com Peretti, também discutiram sobre o futuro do jornalismo centrado na audiência outras integrantes do News Alchemists: Annika Ruoranen, chefe de serviços digitais da Empresa Finlandesa de Comunicação, a YleSannuta Raghu, produtora executiva da publicação digital indiana Scroll.in; e Aldana Vales, diretora de experiências da audiência da Gannett.

A seguir estão os pontos principais da sessão:

O que significa colocar a audiência no centro de tudo 

Ao centralizar as audiências, jornalistas devem considerar quais conteúdos as pessoas querem e a melhor forma de divulgar esse conteúdo para elas. "Quando você entende a sua audiência e as diferentes necessidades que ela tem, as diferentes formas pelas quais ela consome conteúdo, você consegue chegar melhor até ela", disse Ruoranen.

Vales concordou: "quando trabalhamos para tornar nosso conteúdo acessível a diferentes audiências, o primeiro passo é sempre entender o que essas pessoas valorizam, onde elas estão, com o que elas se importam e como podemos abordar as necessidades dela com o nosso jornalismo".

Usando como exemplo uma iniciativa recente da Gannett centrada na audiência, Vales descreveu como sua equipe criou descansos de copo com códigos QR para serem distribuídos em bares locais. Quando são escaneados, os códigos levam para uma página do veículo otimizada para o engajamento.

"Como alguém que tinha que pensar sobre a experiência da audiência, eu pensei no contexto", explicou Vales. "A pessoa está no bar e vê o apoio de copo pela primeira vez, então o conteúdo precisa ser atrativo o bastante para interromper a conversa que ela está tendo com os amigos." 

Basicamente, era preciso garantir que a experiência de escanear o código QR fosse agregadora, oferecendo valor às pessoas enquanto elas socializavam. Em troca, elas se engajariam de forma ativa com o conteúdo e desenvolveriam uma associação positiva com o veículo.

Argumento financeiro

Devido aos problemas financeiros que infestam o jornalismo, muitas redações tomam decisões baseadas no lucro, em vez de priorizar o produto, explicou Peretti. 

"Eu acredito que o jornalismo, como uma indústria – e isso é culpa de todos nós, não de um ou de outro, perdeu o rumo porque a situação econômica está terrível, e tem sido assim por muito tempo", disse. "Nós precisamos urgentemente reconhecer isso e redefinir o curso. Nós precisamos de voltar o nosso foco para a qualidade dos produtos e experiências que criamos para as pessoas que pretendemos servir."

Adotar uma abordagem que prioriza a audiência em relação ao lucro significa que jornalistas podem focar no impacto que seu trabalho tem nas pessoas, disse Peretti. Ao fazer isso, as redações podem lidar melhor com desafios financeiros, já que as audiências vão estar mais dispostas a pagar por um conteúdo que é relevante para elas.

"Eu acredito que as pessoas pagam por informação, produtos e experiências que agregam valor às vidas delas, que as ajudam a encarar esse mundo complexo em que estamos, a fazer conexões e se sentirem conectadas umas às outras", disse.

Um setor em transformação

Evoluir para se tornar mais centrado na audiência pode ser difícil, mas vale a pena, argumentou Peretti. "Mudar é difícil para nós, seres humanos", disse. "O que estamos fazendo, de certa forma, é tentar construir uma massa crítica para mostrar não só por que mudar é importante mas também por que é benéfico para todos."

Apesar dos desafios, essa mudança precisa acontecer, disse Ruoranen: "nós precisamos ter um relacionamento mais personalizado e mais intenso com as pessoas, para sermos significativos e termos um lugar nesse panorama de mídia no futuro, para permanecermos relevantes nos próximos 100 anos."

Raghu observou que as redações atualmente já deram passos para priorizar as audiências que servem. "Há 10, 12 anos, havia esse clima muito, muito diferente em que jornalistas escreviam para jornalistas", disse. Capitalizar esse impulso vai ser fundamental. "O jornalismo hoje está automaticamente e de uma forma muito orgânica se tornando centrado no usuário."


Foto por Jamillah Knowles & Reset.Tech Australia / Better Images of AI / People on phones (retrato) / Licenced by CC-BY 4.0.