A confiança na mídia caiu no mundo todo.
De acordo com o Digital News Report 2023 do Reuters Institute, apenas quatro em 10 pessoas dizem confiar nas notícias na maioria das vezes. Em meio a esse declínio, as pessoas também estão mais propensas a evitar consumir notícias.
Uma forma de jornalistas e organizações jornalísticas fortalecerem a confiança da audiência é focar em alcançar pessoas que talvez não leiam ou assistam notícias ativamente, sugeriu Lynn Walsh, diretora-assistente da Trusting News, durante uma das sessões do Encontro Global Empowering the Truth do ICFJ. Para fazer isso de forma eficaz, é importante que jornalistas "pensem como um consumidor de notícias", disse.
Walsh compartilhou dicas para jornalistas construírem a confiança com as comunidades que eles servem. Veja a seguir o que ela disse:
Explique o seu processo
Aumentar a transparência dando detalhes sobre o processo de reportagem pode ajudar jornalistas a construírem confiança com a audiência, disse Walsh. "Quando falamos sobre transparência, estamos tentando explicar para as pessoas como fazemos o nosso trabalho e às vezes defendendo o nosso trabalho."
Uma estratégia que jornalistas podem empregar é incluir uma seção do tipo "explique o seu processo" nas matérias. O recurso pode ser usado para descrever por que e como foi feita a cobertura de uma pauta. A audiência considera matérias com esse recurso significativamente mais confiáveis, de acordo com um estudo do Center for Media Engagement.
Essas seções também podem ser usadas para destacar se elementos de uma matéria foram gerados por IA e o quanto o repórter contribuiu para a matéria. "Se as pessoas acharem que uma imagem era uma foto real tirada por um fotógrafo e no fim acabar não sendo, isso pode fazer com que elas fiquem irritadas, sintam-se enganadas e não confiem no seu conteúdo", disse Walsh.
Esse processo pode ser adaptado por matérias de rádio e TV também, incluindo uma "linguagem de confiança" a ser lida pelos apresentadores. O texto pode incluir explicações e detalhes sobre por que uma determinada matéria foi feita, qual foi a abordagem adotada, entre outros aspectos.
"Nós trabalhamos com um canal de TV de Ohio, pegamos cinco matérias que já tinham sido exibidas e adicionamos a linguagem de confiança", disse Walsh. Resultados obtidos em grupos focais que ela e a equipe realizaram indicaram que, em comparação com matérias sem esses elementos, as pessoas preferiam matérias que continham linguagem de confiança, considerando-as mais pessoais e confiáveis.
Redações também podem incluir linguagem de transparência em conteúdos explicativos ou em pop-ups. Isso é especialmente útil se um artigo tiver uma linguagem mais técnica ou de jargão. Nesses casos, leitores podem clicar em uma palavra ou frase em questão para ver uma explicação do termo e o contexto em que ele foi usado.
Por exemplo, em uma matéria sobre imóveis, leitores podem não necessariamente entender o que significa "zoneamento". Em um texto sobre votação, as pessoas podem não entender como funciona o voto pelo correio. Conceitos como esses podem ser explicados diretamente no texto por meio do recurso de pop-up.
Ao empregar essas táticas, jornalistas e redações podem ensinar os leitores "como navegar pelas notícias", disse Walsh.
Interaja diretamente com a audiência
Interagir diretamente com as pessoas é outra maneira eficaz de jornalistas manterem a confiança. Walsh sugeriu usar "uma abordagem de atendimento ao cliente" para fazer isso, por exemplo coletando opiniões, respondendo a comentários nas redes sociais ou realizando encontros virtuais regularmente com leitores leais.
Uma abordagem de engajamento especificamente efetiva é entrevistar as pessoas sobre suas preocupações – como clientes, não como fontes, diz Walsh.
Para ajudar, a Trusting News desenvolveu um guia para entrevistar membros da comunidade que aconselha jornalistas sobre como identificar com quem falar, quais perguntas fazer e como acompanhar os resultados. Uma pergunta útil poderia ser: "você vê as preocupações e problemas da sua própria vida refletidos nas notícias?". Outra poderia ser: "o que jornalistas normalmente não entendem sobre você ou sobre as coisas na sua vida?".
"Nós descobrimos que quando essas conversas aconteceram, as pessoas disseram que eram mais propensas a confiar nos jornalistas e na redação, e mais propensos a fazer uma assinatura", disse Walsh.
Preencha o vácuo de informação
A carência de notícias confiáveis em muitas populações locais criou "vácuos de informação". Esses vácuos são perfeitos para serem preenchidos com informação imprecisa e enganosa.
"Quando as pessoas não sabem algo sobre um tópico ou questão e não conseguem encontrar informação, elas vão usar aquilo que conseguirem encontrar, sejam conversas com amigos ou algo que viram no Google ou nas redes sociais", disse Walsh.
Para lidar com isso, jornalistas e redações podem oferecer às pessoas a possibilidade de enviar assuntos sobre os quais elas têm curiosidade de se informar. Com base nesses envios, as redações podem fazer matérias que vão ser de interesse e importantes para a sua comunidade. O Politifact, por exemplo, criou um mecanismo pelo qual as pessoas podem enviar informações que precisam ser verificadas ou perguntas que elas venham a ter sobre determinado acontecimento.
Preencher um vácuo de informação é um trabalho delicado. Às vezes, reagir à informação falsa e fazer verificação pode amplificar o conteúdo em vez de reduzir sua difusão. O critério "Tipping Point" do First Draft é uma forma de avaliar se uma matéria ou evento alimentado por desinformação deve ser verificado.
Coletar opiniões regularmente sobre matérias, por exemplo ao incluir uma pesquisa rápida no fim do texto, pode ajudar a identificar qual tipo de informação é necessária para preencher um vácuo de informação. Isso é mais eficaz quando jornalistas definem um objetivo para a matéria que vão publicar. Se o propósito for desmascarar informação falsa, por exemplo, então perguntar diretamente se a matéria cumpriu com o propósito pode ajudar a melhorar esforços futuros de verificação de fatos.
"Quando você escuta, isso ajuda a construir confiança. A desconfiança muitas vezes tem a ver com suposições que as pessoas fazem sobre a maneira como realizamos nosso trabalho", disse Walsh. "O objetivo aqui é: como você pode oferecer informação às pessoas antes delas fazerem essa suposição negativa?"
Foto por Savvas Stavrinos.
O Disarming Disinformation é realizado pelo ICFJ com financiamento da Scripps Howard Foundation, organização filiada ao Scripps Howard Fund, que apoia os esforços beneficentes da The E.W. Scripps Company. O projeto de três anos vai empoderar jornalistas e estudantes de jornalismo para combater a desinformação na mídia.