Dicas para se proteger contra desinformação

por Elizabeth Stoycheff
Sep 22, 2020 em Combate à desinformação
Pessoa segurando um telefone celular

Você pode já ter caído em uma tentativa de desinformação sobre acontecimentos atuais, mas a culpa não é sua.

Mesmo os consumidores de notícias mais bem-intencionados podem achar difícil navegar pela avalanche de informações políticas de hoje. Com tantas notícias disponíveis, muitas pessoas consomem a mídia em um estado automático e inconsciente ― semelhante a quando alguém dirige para casa, mas não é capaz de se lembrar da viagem.

E isso faz você ser mais suscetível a aceitar afirmações falsas.

Mas, com a proximidade das eleições de 2020, você pode desenvolver hábitos para exercer um controle mais consciente sobre as notícias que recebe. Eu ensino essas estratégias para alunos em um curso sobre educação midiática, ajudando as pessoas a se tornarem consumidores de notícias mais experientes em quatro etapas simples.

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1. Busque suas próprias notícias políticas

Como a maioria das pessoas, você provavelmente obtém uma boa quantidade de notícias de aplicativos, sites e mídias sociais como Twitter, Facebook, Reddit, Apple News e Google. Você deve mudar isso.

Estas são empresas de tecnologia, não veículos de notícias. O objetivo delas é maximizar o tempo que você gasta em seus sites e aplicativos, gerando receita de publicidade. Para isso, seus algoritmos usam seu histórico de navegação para mostrar notícias com as quais você concorda e gosta, mantendo você engajado pelo maior tempo possível.

Isso significa que, em vez de apresentar a você as notícias mais importantes do dia, as mídias sociais fornecem o que elas acham que prenderá sua atenção. Na maioria das vezes, isso é filtrado por algoritmos e pode fornecer informações politicamente tendenciosas, falsidades ou material que você viu antes.

Em vez disso, visite regularmente aplicativos de notícias confiáveis ​​e sites de notícias diretamente. Essas organizações produzem notícias mesmo, geralmente com o espírito de servir ao interesse público. Nelas, você verá uma gama mais completa de informações políticas, não apenas o conteúdo que foi selecionado para você.

Math on chalkboard
Se há números, verifique a conta matemática você mesmo. Picsfive/Shutterstock.com​​​​​​

2. Use matemática básica

Notícias não confiáveis ​​e campanhas políticas costumam usar estatísticas para fazer afirmações falsas, assumindo com razão que a maioria dos leitores não vai perder tempo para checá-las.

Cálculos matemáticos simples, que os estudiosos chamam de estimativas de Fermi ou estimativas aproximadas, podem ajudá-lo a identificar melhor os dados falsificados.

Por exemplo, um meme amplamente divulgado alegou falsamente que 10.150 americanos foram "mortos por imigrantes ilegais" em 2018. Superficialmente, é difícil saber como verificar ou desmentir isso, mas uma maneira de começar é pensar em descobrir quantos assassinatos no total ocorreram nos EUA em 2018.

As estatísticas de assassinatos podem ser encontradas, entre outros lugares, nas estatísticas do FBI sobre crimes violentos. Eles estimam que em 2018 houve 16.214 assassinatos nos EUA. Se os números do meme forem precisos, isso significaria que quase dois terços dos assassinatos nos EUA foram cometidos por "imigrantes ilegais" alegados pelo meme.

A seguir, descubra quantas pessoas viviam ilegalmente nos EUA. Esse grupo, como sugerem a maioria das notícias e estimativas, é estimado em cerca de 11 milhões de homens, mulheres e crianças -- o que representa apenas 3% dos 330 milhões de habitantes do país.

Apenas 3% das pessoas cometeram 60% dos assassinatos nos EUA? Com um pouco de pesquisa e matemática rápida, você pode ver que esses números simplesmente não batem.

[Leia mais: 4 dicas de checagem de fatos para cobrir as eleições de 2020 nos EUA]

3. Cuidado com os preconceitos não políticos

A mídia de notícias é frequentemente acusada de atender aos preconceitos políticos das pessoas, favorecendo pontos de vista liberais ou conservadores. Mas as campanhas de desinformação também exploram vieses cognitivos menos óbvios. Por exemplo, os humanos são tendenciosos a subestimar os custos ou procurar informações que confirmem o que eles já acreditam. Um viés importante do público de notícias é a preferência por frases de efeito simples, que muitas vezes não conseguem capturar a complexidade de problemas importantes. A pesquisa descobriu que as notícias intencionalmente falsas têm mais probabilidade de usar uma linguagem curta, não técnica e redundante do que as matérias jornalísticas precisas.

Tome cuidado também com a tendência humana de acreditar no que está diante de seus olhos. O conteúdo do vídeo é percebido como mais confiável, embora os vídeos deepfake possam enganar muito. Pense criticamente sobre como você determina que algo é preciso. Ver (e ouvir) não deve necessariamente ser acreditar. Trate o conteúdo do vídeo com tanto ceticismo quanto o texto das notícias e memes, verificando quaisquer fatos com notícias de uma fonte confiável.

Você não vai (e não deve) acreditar no que Barack Obama diz neste vídeo.

4. Pense além da presidência

Uma tendência final dos consumidores de notícias e, como resultado, das organizações de notícias, foi uma mudança em direção à priorização das notícias nacionais em detrimento das questões locais e internacionais. A liderança na Casa Branca é certamente importante, mas as notícias nacionais são apenas uma das quatro categorias de informações de que você precisa neste período eleitoral.

Os eleitores informados entendem e conectam as questões em quatro níveis: interesses pessoais (como uma equipe esportiva local ou custos de saúde), notícias em suas comunidades locais, política nacional e assuntos internacionais. Saber um pouco em cada uma dessas áreas prepara você para avaliar melhor as afirmações sobre todas as outras.

Por exemplo, entender melhor as negociações comerciais com a China pode fornecer uma visão sobre por que os trabalhadores de uma fábrica próxima estão fazendo manifestações, o que pode afetar os preços que você paga por bens e serviços locais.

Grandes empresas e campanhas de desinformação poderosas influenciam fortemente as informações que você vê, criando narrativas falsas pessoais e convincentes. Não é sua culpa ser enganado, mas estar consciente desses processos pode colocá-lo de volta no controle.

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Elizabeth Stoycheff é professora de comunicação da Wayne State University.

Este artigo é republicado doThe Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original (em inglês).