Conselhos para cobrir eleições na era das redes sociais

Dec 14, 2023 em Redes sociais
journalist in a room

As eleições do Egito nesta semana vão ser uma espécie de referendo sobre a presidência de Abdel Fattah el-Sisi, no poder desde 2014. Eleições importantes também estão prestes a acontecer em outras partes do Oriente Médio e do Norte da África neste ano, incluindo na Tunísia e na Argélia.

Em uma escala mundial, em 2024, metade da população do planeta – mais de 4 bilhões de pessoas – votará em eleições. Para jornalistas que estiverem fazendo a cobertura desses eventos, é fundamental saber a melhor forma de usar as redes sociais, tanto para informar a audiência quanto para combater a desinformação.

No Fórum de Mídia do Egito 2023, a consultora de gestão de programas do ICFJ, Fadwa Kamal, e a bolsista do Programa Jim Hoge, Mais Katt, realizaram treinamentos aprofundados sobre o uso de redes sociais, dados e recursos visuais na cobertura de eleições. Elas também apresentaram aos participantes ferramentas úteis de verificação de fatos e discutiram os desafios éticos que jornalistas enfrentam nas redes sociais. 

"O cenário em constante mudança da cobertura de eleições impõe muitos desafios aos jornalistas, sendo o mais urgente deles a dificuldade crescente de capturar e manter a atenção das pessoas", diz Katt. "O sucesso depende de um equilíbrio cuidadoso entre participação e mídia. Dados atrativos, recursos visuais convincentes e narrativas poderosas surgem como elementos críticos para atingir essa sinergia."

Saiba mais sobre o que elas compartilharam a seguir:

 

O impacto das redes sociais nas eleições

As redes sociais têm um papel cada vez mais central na forma como as pessoas entendem e se engajam nas eleições.

Isso tem alguns impactos positivos, como melhorar a participação dos eleitores, principalmente entre os jovens e grupos marginalizados. O fenômeno também ampliou a transparência das campanhas, já que as redes sociais permitem atualizações em tempo real que permitem aos jornalistas monitorar melhor o processo.

Porém, as redes sociais também facilitam a disseminação de desinformação, o que pode, com o tempo, enfraquecer a confiança nas instituições democráticas. Isso pode levar a ataques online direcionados e cyberbullying contra candidatos, ativistas e jornalistas, e criar oportunidades para a interferência internacional, por exemplo por meio da manipulação da opinião pública a respeito de um candidato.

Os algoritmos das redes sociais também tendem a criar bolhas e câmaras de eco, o que expõe os usuários principalmente a conteúdo alinhado com suas crenças existentes. "Isso limita a exposição a pontos de vista diversos e reforça vieses, o que pode levar a mais polarização e obstruir a tomada de decisão com embasamento", disse Kamal. "É necessário que os jornalistas aprimorem suas habilidades de verificação de fatos e desmascarem desinformação para oferecer informação confiável à sua audiência."

Engajamento da audiência nas redes sociais

Nos dias de hoje, as pessoas se informam cada vez mais pelas redes sociais. Embora não exista uma solução única para engajar as pessoas nas redes sociais, algumas dicas fundamentais podem ajudar a impulsionar o engajamento:

  • Diversifique o conteúdo. Inclua uma variedade de imagens, vídeos, gráficos, infográficos e pesquisas de opinião para engajar a audiência no seu conteúdo.
  • Responda comentários. Implemente políticas claras nas redações sobre quando e como responder a comentários e perguntas nas redes sociais. Antecipe-se em relação ao que isso exige: embora responder a todos os comentários vá melhorar o engajamento da audiência, também requer tempo e recursos significativos para manter o ritmo. 
  • Interaja com sua audiência. Mesmo que você não possa responder a todos os comentários, é fundamental que sua audiência sinta que tem voz na cobertura do seu veículo por meio das redes sociais. Siga contas de usuários, retuíte e compartilhe as postagens dos seus seguidores e faça pesquisas com eles sobre diferentes tópicos.
  • Faça transmissões ao vivo. Os Spaces do X (ex-Twitter) e as lives do Instagram e do Facebook são formas eficazes de se comunicar com sua audiência e responder perguntas em tempo real. Isso pode ajudar a envolver seu público de forma mais dinâmica e fazer com que as pessoas tenham um senso maior de participação no seu veículo.

Com as eleições se aproximando, implementar essas técnicas pode ajudar os veículos a tirar o máximo de sua audiência nas redes sociais. "Nossas pautas não estão acontecendo só nas ruas e nos locais de  votação, mas também na internet, onde rivalidades entre candidatos, escândalos, infrações e desejos e preocupações dos nossos leitores estão presentes", disse Katt.

Prevenindo a disseminação de desinformação

Informações imprecisas são abundantes nas redes sociais. A sua cobertura eleitoral muitas vezes vai aparecer no feed dos seus seguidores junto com conteúdo enganoso. "As redes sociais são um solo fértil para a desinformação e informação fabricada porque é fácil compartilhar informação de forma rápida e abrangente", disse Katt.

Discurso de ódio pode ser considerado como qualquer mensagem que incite a violência, discriminação, tensões políticas e sociais, difamação ou hostilidade contra um determinado grupo de pessoas com base em características inerentes. Há uma distinção importante entre crítica política ou social dura e discurso de ódio, disse Kamal.  

 

Participants
Participantes do treinamento em cobertura eleitoral. Crédito: Fadwa Kamal

 

Durante as eleições, quando as emoções atingem seu pico, o discurso de ódio pode ser disseminado por campanhas, pelos candidatos e seus apoiadores. Jornalistas podem ser alvo nessas situações, mesmo quando estão lutando para combatê-las.

Kamal disse que, ao identificar se uma dada declaração é ou não discurso de ódio, deve-se consultar organizações da sociedade civil e especialistas com experiência em detectar discurso de ódio. Mais importante, combata o discurso de ódio de modo a não promovê-lo inadvertidamente nem aumentar seu alcance. E como de costume, verifique informações de múltiplas fontes antes de publicar.

"Cobrir as eleições na era das redes socais é uma tarefa difícil, mas é crucial", disse Kamal. "Jornalistas têm a responsabilidade de dar ao público informações precisas e confiáveis sobre candidatos e temas."

Recursos para cobrir as próximas eleições 


Imagem principal feita durante o Fórum de Mídia do Egito.


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Jornalista freelancer

Devin Windelspecht

Devin Windelspecht é editor da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet). Antes de trabalhar na IJNet, ele era jornalista freelancer e cobria preservação e direitos humanos.