Os veículos de mídia estão cada vez mais recorrendo ao TikTok para manter as gerações mais jovens interessadas no noticiário – principalmente tendo em vista que esse tipo de audiência usa as redes sociais para se informar. Hoje, um a cada quatro adultos dos Estados Unidos com menos de 30 anos acessa notícias no TikTok.
Mas os jovens estão dando sinais de fadiga de notícias e têm menos prazer em ler notícias hoje do que em anos anteriores.
Tendo isso em mente, como os veículos podem engajar os mais jovens de maneira eficaz?
Para descobrir isso, eu conversei com dois influenciadores de destaque no TikTok que estão atraindo os jovens para o noticiário. Kelsey Russell é estudante da Universidade Columbia e viralizou com suas leituras diárias de jornais, nas quais ela explica as matérias de um jeito fácil de entender e apaixonado. Vitus Spehar, também conhecido como V Spehar, é o apresentador do Under The Desk News e também ajuda a administrar a conta do Washington Post no TikTok.
Vá onde as pessoas estão
Para engajar os jovens, jornalistas precisam antes estar nas plataformas que a audiência em questão está usando. O TikTok é uma delas. "Por que o TikTok? É onde os jovens estão. Ele é importante pra nós. Portanto, devemos fazer com que ele seja importante de uma forma significativa e educativa", diz Russell. Jornalistas podem usar o TikTok para seguir conteúdos que estão viralizando e conectá-los com tendências mais amplas que repercutem em meio aos jovens, acrescenta.
A página "Para Você" do TikTok é uma ferramenta particularmente valiosa para engajar a audiência com o noticiário. Ela permite que os usuários se conectem com os outros por meio de comentários ou mensagem direta.
Spehar, por exemplo, usou os comentários impulsionados pela página "Para Você" para melhorar a cobertura do Under the Desk News sobre a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão em 2021. Os comentários deram a Spehar uma ideia de como as famílias de militares ligados à situação estavam sendo impactadas. Como resultado, Spehar focou a cobertura nesse aspecto da retirada.
"Eu logo percebi no TikTok o poder que você tem de falar com as pessoas, e nem sempre você sabe quem elas são. Mas por causa do recurso de mensagem direta, você tem de fato a chance de receber uma opinião imediata de como sua matéria está afetando outras pessoas", diz Spehar.
Vá além do TikTok para engajar a audiência
Jornalistas podem aproveitar o TikTok para direcionar os jovens para uma cobertura mais aprofundada.
Por exemplo, embora muitas pessoas gostem da cobertura de Spehar no TikTok, ele também recebe pedidos de material em texto ou fontes adicionais. "Eu faço seis pautas por noite [...] e você tem interesse em uma matéria. Qual é a primeira coisa que você faz? Você não vai procurar mais vídeos. Você vai buscar mais matérias em texto", diz Spehar.
Em resposta a isso, Spehar contratou um novo editor para começar a oferecer newsletters para seus seguidores. As duas newsletters – uma que se aprofunda nos principais temas do noticiário e outra focada em disseminar boas notícias e histórias comoventes – são publicadas duas vezes por mês.
Jornalistas freelance que usam o TikTok também podem considerar colaborar com veículos que tenham um nível de reportagem de rua e alcance multiplataforma para oferecer informações mais detalhadas além do que produzem no aplicativo, sugere Spehar.
Promova o letramento de mídia
O TikTok de Russell tem vídeos nos quais ela lê o jornal, discute as principais notícias e faz anotações nas margens à medida que avança na leitura. O objetivo principal dela é estabelecer um padrão de letramento de mídia para seus seguidores, a fim de prepará-los para entender reportagens mais complexas.
Em um vídeo postado em outubro, Russell revisa três jornais diferentes com matérias de primeira página sobre a destituição do presidente da Câmara dos EUA Kevin McCarthy. Ela orienta os seguidores por meio de um método para escrever um ensaio sobre o assunto. "Como posso esperar que vocês sejam letrados em mídia se eu não ensinar como escrever um ensaio?", diz Russell no vídeo.
Russell sentiu o impacto de seus vídeos principalmente nas salas de aula. "Ganhei uma audiência de professores e eles incorporaram meus vídeos em suas aulas para ajudar os estudantes a se entusiasmarem com o letramento de mídia", diz.
Russell recomenda que jornalistas e veículos estimulem os estudantes a buscar notícias além das redes sociais. "Escolas e faculdades são um lugar muito interessante onde acho que a mídia impressa não penetrou", diz. "Que tal dar a todos os calouros uma assinatura grátis? Que tal a editoria de negócios do New York Times entrar em contato com uma turma que está estudando história no Ensino Médio?"
Entenda que o impresso e o digital andam lado a lado
As plataformas digitais, sejam elas o site de um veículo ou suas redes sociais, não são uma substituição do impresso; tampouco a mídia impressa deve enxergar a si mesma como diferente da mídia digital, diz Russell. "Precisamos deixar para trás o debate 'qual mídia vai sobreviver?' e pensar sobre como as duas podem trabalhar juntas para sobreviver", diz.
Do ponto de vista de uma redação, considere como seu jornal impresso pode atrair um público jovem, principalmente aquele que esteja sofrendo de fadiga digital e adotando medidas para evitar excesso de consumo online. Conforme discute Russell, o jornal impresso pode ser uma ótima forma de ler as notícias de uma forma saudável, permitindo que os leitores controlem a informação que consomem em vez de ter o processo determinado por um algoritmo.
"Eu sabia que ler jornal me levaria a achar informações que eu não encontraria online porque não tem algoritmo", diz.
A versão impressa de uma matéria pode conter informação detalhada, mas sem as distrações que normalmente estão presentes nas plataformas digitais, como vídeos, áudios, anúncios em formato pop-up ou notificações do celular. Ao usar as plataformas de formas exclusivamente estratégicas, os veículos podem oferecer caminhos diferentes para os leitores se envolverem com matérias mais profundas.
"As matérias deveriam ter diferentes abordagens para que os leitores tenham a oportunidades de dizer, 'ok, o que eu sei que você obter se ler a versão digital? E como a versão impressa vai complementar isso?", diz Russell.
Imagem principal criada no Canva.