Como melhorar a cobertura sobre mulheres da classe trabalhadora

por Paul Cheung, Erika Owens and Ryan Pitts
Oct 19, 2022 em Diversidade e Inclusão
Women conversing in the office.

Embora repórteres conversem com fontes todos os dias, é raro que essa conversa seja sobre a prática do jornalismo em si. Em setembro, o Center Public Integrity e a Tara Health Foundation realizaram debates sobre como tornar a cobertura sobre mulheres da classe trabalhadora mais centrada na comunidade.

Líderes comunitárias compartilharam sua visão sobre os danos perpetuados pelo jornalismo, bem como sugestões sobre como fazer melhor. Jornalistas compartilharam suas próprias frustrações sobre os desafios na tentativa de melhorar as práticas de reportagem, com um nível de honestidade raramente visto em conversas públicas.

Cinco dicas para melhorar a cobertura

O debate ajudou a trazer à tona estratégias específicas que repórteres podem colocar em prática, e forçaram os jornalistas a refletir sobre as maneiras invisíveis com que frequentemente o jornalismo ajuda a reforçar o status quo, como enfatizar heróis e vilões individuais em vez de cobrir problemas sistêmicos.

As estratégias que repórteres podem implementar incluem:

  1. Pare com a narrativa da vítima. Em vez disso, enfatize a capacidade de ação e soluções de mulheres da classe trabalhadora. Líderes comunitárias falaram sobre como, frequentemente, quando uma fonte é mencionada em uma matéria, ela não é descrita do mesmo jeito que enxerga a si mesma: como uma trabalhadora com poder e um plano para derrubar sistemas. Ao compartilhar as demandas de trabalhadoras e sua análise das questões, repórteres podem mudar a narrativa e honrar a alegria e dignidade que as pessoas encontram em seus trabalhos.

  2. Invista em relacionamentos tendo cuidado com as fontes antes e depois da matéria. Há um dever de cuidado com as fontes, principalmente aquelas de grupos marginalizados. A construção contínua de um relacionamento, como aquela que repórteres fazem com políticos e CEOs, deve se estender também a trabalhadores e líderes comunitários.

  3. Torne o seu processo de reportagem transparente — isso cria confiança com leitores e fontes. Sem transparência, as fontes não entendem por que certas falas são escolhidas ou como é possível falar por uma hora e não ter uma fala sequer em uma matéria. Demonstrar clareza sobre as limitações que você enfrenta como repórter e como você vê o propósito da matéria pode ajudar a estabelecer expectativas mais claras com as fontes.

  4. Repense quem você considera especialista e valorize o conhecimento que vem de experiências vividas. Pessoas apontadas como especialistas, que fazem media training, que integram instituições de poder, todas elas são influenciadas por sistemas subjacentes de opressão e barreiras. Mas quem sabe melhor sobre as necessidades das mulheres da classe trabalhadora do que elas próprias? Trate essa experiência pessoal como uma especialidade tão valiosa quanto uma qualificação ou um título. Prepare-se para falar com trabalhadoras do mesmo jeito que faria com um CEO, analista ou acadêmico: fazendo o dever de casa sobre o contexto relevante, perguntando o que elas pensam sobre quais são os problemas e soluções. De um jeito mais simples: trate trabalhadoras como protagonistas de suas próprias histórias.

  5. Junte os pontos entre as experiências de mulheres da classe trabalhadora e as causas estruturais dessas experiências, conforme sugerido por uma das líderes comunitárias. Reportagens que situam as experiências de trabalhadoras individuais dentro de sistemas mais amplos ajuda os leitores a entender melhor os fatores que mulheres trabalhadoras enfrentam e rompe com uma narrativa supersimplificada de herói e vilão.

Evoluindo a prática jornalística

A profundidade e detalhes dessas discussões geraram muitas ideias que podem ser postas em prática imediatamente. Abaixo está a gravação completa do painel:

Feedback - Obtenha retorno de líderes comunitárias na área sobre como o noticiário retrata mulheres trabalhadoras. Saiba quais conteúdos representam autenticamente essa comunidade e quais conteúdos  são exaustivos e extrativos. Assista ao debate completo.

Dentro de alguns meses, vamos voltar a falar com as jornalistas participantes para saber como ou se essas conversas influenciaram seu trabalho. Se você implementou algumas das dicas anteriores, adoraríamos saber mais a respeito.


Este artigo foi publicado originalmente na OpenNews e republicado aqui com permissão.

Foto por LinkedIn Sales Solutions via Unsplash.