10 dicas para a cobertura sobre a população LGBTQI+

Jul 7, 2022 em Diversidade e Inclusão
A Black couple watching TV together.

No mundo todo, minorias sexuais e de gênero (LGBTQI+) enfrentam níveis alarmantes de discriminação, preconceito e violência. Para piorar, as notícias sobre essa população são frequentemente permeadas de mitos perigosos ou considerados tabu demais para os veículos cobrirem.

Como jornalistas, temos o poder e a responsabilidade de substituir estereótipos desumanos por retratos nuançados da diversidade sexual e de gênero. Agir dessa forma requer que coloquemos nossos vieses de lado e abracemos os princípios centrais da nossa profissão de justiça, precisão e sensibilidade.

As dicas abaixo destacam 10 formas de melhorar a cobertura sobre a população LGBTQI+.

1. Aprenda com a comunidade

Antes de informar sobre diversidade sexual e de gênero, estude sobre os problemas específicos que pessoas LGBTQI+ enfrentam. O melhor jeito de fazer isso é apresentar-se a representantes da comunidade local. Embora alguns representantes possam hesitar em te encontrar devido a preocupações com segurança ou por cauda de cobertura ruim da mídia que viram antes, é importante fazer esse convite.

Um material que pode ajudar é o capítulo 13 do guia de reportagem da Taboom Media (em inglês e francês). Ele lista detalhes de contatos de organizações de defesa LGBTQI+ na África e internacionalmente que podem te ajudar a começar esse diálogo e construir novas relações.

 2. Eduque a sua audiência

Nossas reportagens podem educar, informar ou entreter. Alguns veículos exploram minorias sexuais e de gênero para entreter a audiência ou cedem aos seus medos para aumentar o número de leitores. Essas abordagens são perigosas e antiéticas.

Em vez disso, devemos nos esforçar para produzir uma cobertura com sensibilidade que eduque e informe. Isso requer que usemos linguagem precisa e acessível, e que expliquemos claramente quaisquer termos que possam não ser familiares. O capítulo 4 do guia de reportagem da Taboom trata de termos-chave que você deve saber e evitar. Também é importante se familiarizar com termos locais e descobrir se a população LGBTQI+ da sua região os consideram afirmativos ou depreciativos.

3. Desafie os mitos

Parte do nosso trabalho educativo como jornalistas é desafiar mitos, estereótipos e concepções equivocadas. Se uma fonte sua repete uma ideia que você sabe que é falsa, você pode removê-la completamente de sua matéria ou incluí-la junto com informação precisa que mostre de forma nítida a ignorância ou viés da fonte. De todo modo, evite incluir discursos de ódio perigosos nas suas matérias.

Alguns dos piores disseminadores de mitos e discurso de ódio são especialistas como médicos, advogados, líderes religiosos, psicólogos e acadêmicos que não sabem sobre o que estão falando quando se trata de questões LGBTQI+ ou que deliberadamente alimentam a desinformação para suprir suas próprias crenças pessoais. A audiência frequentemente confia nessas fontes com base apenas em sua profissão ou posição na sociedade, por isso é importante fazer uma checagem de fatos daquilo que elas falam.

4. Inclua fontes moderadas e diversas

Nunca há só dois lados de uma história. Em vez de tentar retratar as questões LGBTQI+ como preto ou branco, explore as áreas cinzas. Converse com fontes moderadas e diversas que podem acrescentar nuances às questões complexas e frequentemente carregadas de emoção que você está cobrindo, e que possam lançar luz sobre realidades e experiências mais amplas. Se você só cita fontes que têm visões polarizadas opostas sobre algo, você está deixando escapar a grande maioria de pessoas cujas crenças provavelmente estão em algum ponto entre os extremos.

5. Deixe que as fontes falem por elas mesmas

Um lema comum entre ativistas pelos direitos LGBTQI+ e outros grupos marginalizados é "Nada sobre nós, sem nós". 

Quando estiver cobrindo diversidade sexual e de gênero, inclua as perspectivas de minorias sexuais e de gênero. Pessoas LGBTQI+ sabem muito mais sobre os problemas que afetam suas vidas no dia a dia do que qualquer especialista ou estudo externo poderia explicar. Citar as pessoas diretamente também adiciona um elemento humano que vai fazer suas matérias repercutirem com a audiência.  

6. Use a terminologia preferida pelas fontes 

Em vez de rotular as fontes como queer, gay ou trans, permita que elas se autoidentifiquem e use a terminologia preferida por elas sempre que possível. Se uma palavra como "queer" não é familiar para a sua audiência, mostre a definição e dê contexto para ajudar o público entender o que ela significa.

Leve em consideração também os pronomes das fontes. Se uma mulher trans usa os pronomes "ela/dela" ou se uma fonte com inconformidade de gênero usa "elu/delu", siga a vontade dessas fontes. É uma questão básica de respeito e dignidade. Você pode abordar o tema dos pronomes de gênero falando sobre os seus assim que a entrevista começar. Se a sua fonte não disser os dela imediatamente, você pode perguntar na apuração antes da entrevista.

7. Proteja as suas fontes e você também

A melhor forma de proteger todo mundo é ir devagar. Quando temos pressa para publicar matérias sobre assuntos sensíveis ou grupos vulneráveis, temos mais chances de cometer erros perigosos. Comece melhorando os seus hábitos de segurança antes de entrar em contato com as suas fontes usando canais de comunicação com criptografia, redes virtuais privadas (VPNs) e tome outras medidas de segurança.

Quando começar o processo de entrevista, certifique-se de obter o consentimento "consciente" das fontes. Isso significa explicar quando e onde sua matéria vai ser publicada, destacando quaisquer perigos realistas que possam ocorrer e dando a elas o tempo adequado para refletir de forma privada antes de concordar em deixar você publicar detalhes que possam identificá-las. Seu objetivo não é assustar as fontes, mas sim protegê-las e reportar com ética. Às vezes, a coisa mais segura a ser feita é anonimizar fontes que estejam sob risco usando pseudônimos ou removendo detalhes que possam identificá-las.

8. Ilustre a matéria com imagens relevantes

As imagens que você escolher devem ser relevantes para a sua matéria e evitar retratar as pessoas de forma estereotipada ou desumanizada. Por exemplo, se você está fazendo uma matéria sobre a população trans de Gana, não ilustre a matéria com uma foto de mulheres brancas se casando no Canadá. Uma foto dessas não só seria irrelevante como pode reforçar o mito de que diversidade sexual e de gênero é de certa forma um fenômeno ocidental.

É importante também não hipersexualizar as pessoas LGBTQI+. Se a sua matéria é sobre discriminação nos serviços de saúde, não use fotos de homens sem camisa na cama. Bandeiras genéricas com o arco-íris e símbolos de gênero podem sinalizar para a sua audiência que a matéria é sobre questões LGBTQI+, mas essas imagens já são batidas. Pergunte-se: "sobre o que de fato é minha matéria?". Se é sobre saúde, use imagens médicas. Se é sobre um caso de discriminação, use imagens relacionadas à justiça e tribunais.

9. Conte histórias de sucesso

Muito frequentemente a cobertura sobre a população LGBTQI+ foca em dor, sofrimento e abuso. Essas podem ser realidades tristes e inevitáveis, mas as pessoas queer são muito mais do que seus próprios traumas. Elas vivem alegrias, amor e momentos de sucesso como qualquer outra pessoa. Vá além da vitimização e enfatize a capacidade de ação e poder de suas fontes. Para bons exemplos de narrativas desse tipo, veja a antologia “Hopes and Dreams That Sound Like Yours” ("Esperanças e sonhos que se parecem com os seus"), que registra histórias do ativismo queer na África.

10. Seja honesto com você 

Nós temos nossas próprias crenças e vieses. Se você entender que ainda não pode cobrir questões LGBTQI+ com honestidade, justiça, precisão e sensibilidade, encontre um colega que possa fazer isso. Minorias sexuais e de gênero existem em todas as partes, e essas histórias precisam ser contadas. 


Foto por Shingi Rice no Unsplash.


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Repórter freelancer

Brian Pellot

Brian Pellot é jornalista e trabalha com media training na Cidade do Cabo, na África do Sul, onde é diretor e fundador da Taboom Media.