Desde 1992, pelo menos dez jornalistas sul-sudaneses morreram enquanto trabalhavam, a maioria assassinados, de acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas.
"Se você quer morrer cedo no Sudão do Sul, trabalhe na mídia", disse a jornalista Adia Jildo durante uma cerimônia do MDI Media Award, em Juba.
O Sudão do Sul ocupa a posição 128 dentre 180 países no ranking do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, com jornalistas enfrentando censura, ameaças, intimidação, prisões ilegais e morte. Além disso, jornalistas passam por traumas devido ao trabalho sob violência constante, e frequentemente não têm condições de arcar com ajuda psicológica devido aos baixos salários.
Como resultado, muitos jornalistas passaram a trabalhar para ONGs e o setor privado em busca de melhores salários e ambiente de trabalho mais seguro, esvaziando o setor de mídia no país, que já passa por dificuldades. As ameaças contra os jornalistas da Eye Radio, uma rádio independente financiada pela USAID e fonte de notícias em Juba, é um caso emblemático dos obstáculos impostos à liberdade de imprensa no Sudão do Sul.
Riscos para os jornalistas
Oliver Modi, jornalista e ex-chefe do Sindicato dos Jornalistas do Sudão do Sul, diz que a situação dos profissionais de mídia no país é dura. Ele destaca um episódio de janeiro de 2015, quando "cinco jornalistas foram baleados, feridos com facões e tiveram seus corpos queimados em uma emboscada no estado de Bahr al-Ghazal Ocidental. "Em março de 2022, o ex-editor da Eye Radio, Woja Emmanuel Wani, foi sequestrado na capital Juba, torturado e envenenado antes de conseguir escapar", acrescenta.
"Eu fui ameaçado com uma arma e forçado a entrar no carro", diz Wani. "Eles me levaram para um lugar desconhecido onde me questionaram sobre questões políticas e me drogaram." Emmanuel ainda não sabe a identidade dos sequestradores.
As ameaças também incluem prisões e detenções pela segurança estatal. O premiado jornalista Charles Wote Jordan, produtor do "Dawn Show" da Eye Radio, descreve o setor de mídia no Sudão do Sul como "assustador". Enquanto ele fazia uma reportagem sobre o Acordo Revitalizado para Resolução de Conflitos no Sudão do Sul (R-ARCSS), a principal ferramenta de governo do país, Jordan foi preso junto com outros jornalistas no Parlamento Nacional.
"O ambiente não é justo quando se trata de cobrir questões [relativas] ao [R-ARCSS]", diz. "Mesmo quando a mídia foi convidada, a segurança do parlamento disse que a gente não deveria estar lá. Eles detiveram sete jornalistas por horas e depois fomos liberados sem nenhuma explicação para a detenção."
Censura e veículos fechados
Além das ameaças diretas contra seus repórteres, a Eye Radio também enfrenta ameaças de encerramento das operações e censura.
"Devido às ameaças e outros desafios maiores, existe censura. Nós mesmos nos censuramos, principalmente porque estamos criando uma base no Sudão do Sul", diz Koang Pal Chang, gerente da Wye Radio, se referindo à relativamente nova presença do jornalismo independente no país. "Além da censura, outros obstáculos são a falta de acesso à informação e a necessidade de profissionalização do trabalho jornalístico", diz Chang.
Em 2016, a Eye Radio foi temporariamente fechada pelo Serviço de Segurança Nacional do Sudão do Sul por transmitir o trecho de um áudio do então líder de oposição e atual primeiro vice-presidente Dr. Riek Machar, que na época vivia no exílio em Cartum, capital do Sudão.
"A assessoria de imprensa da Segurança Nacional perguntou por que não demos o crédito ao veículo do qual pegamos o áudio. Eu me lembro deles falarem: 'se vocês estivessem em uma área controlada pela oposição, vocês transmitiriam a voz do presidente Salva Kiir?", diz Koang. Foram necessárias duas semanas de lobby por parte da rádio e de seus dois milhões de seguidores para a estação voltar ao ar.
Há seis meses, a Eye Radio sofreu mais censura ao ser forçada a se desculpar por uma matéria que foi considerada crítica ao governo. O veículo interpretou uma fala do ministro da informação Michael Makuei, que disse que "os sul-sudaneses estão de saco cheio de nós" como "os sul-sudaneses estão de saco cheio de seus líderes" — a Eye Radio foi pressionada a se desculpar por essa tradução ou corria o risco de ser fechada.
"O que aconteceu recentemente vai além do jornalismo", diz Koang, que atribuiu o pedido de desculpas forçado à aversão pessoal do ministro pela Eye Radio. "Alguns de nós até nos recusamos a apoiar a decisão das desculpas, mas tivemos que [nos desculpar], pois muitos sul-sudaneses precisam da rádio."
Chang diz que o futuro da liberdade de imprensa no país ainda é sombrio, e mesmo que existam organizações que defendem os jornalistas, como o Sindicado dos Jornalistas do Sudão do Sul, a Associação para o Desenvolvimento de Mídia no Sudão do Sul, o Clube de Imprensa do Sudão do Sul e o Clube de Imprensa Nacional, muito ainda precisa ser feito no nível governamental para melhorar a situação da mídia no país.
"Os investidores de mídia e as várias partes interessadas precisam fazer esforços continuamente para [informar] as autoridades sobre a importância do desenvolvimento da mídia", diz Koang.
Imagem por D Chol via Wikimedia Commons.