Na última semana, o Reuters Institute for the Study of Journalism da Universidade de Oxford publicou o seu relatório anual Digital News Report.
Em sua décima edição, o estudo é essencial para entender as atitudes e comportamentos dos consumidores de notícias no mundo todo. As descobertas deste último estudo derivam de uma pesquisa com mais de 90.000 leitores de notícias digitais em 46 países nos cinco continentes.
O estudo inclui perfis de cada mercado, bem como uma análise comparativa de alguns dos países maiores, e também está repleto de dados que as redações podem usar para orientar suas estratégias digitais em desenvolvimento.
Ao longo da última década, esses relatórios anteciparam tendências no consumo de notícias online - incluindo a mudança para dispositivos móveis e a crescente importância das redes sociais. Além dessas macrotendências, estudos também destacaram problemas emergentes no jornalismo, como a ascensão da desinformação, confiança no jornalismo e os hábitos de consumo de notícias das audiências mais jovens.
Nesse contexto, seguem abaixo cinco descobertas essenciais — e potencialmente negligenciadas — do relatório deste ano:
1. A confiança no jornalismo é maior na Finlândia
A Finlândia continua sendo o país com os níveis mais altos de confiança geral (69%) nas notícias.
A taxa cresceu quatro pontos percentuais em relação a 2021 — e 13 pontos desde 2020. Isso faz da Finlândia um dos únicos três mercados onde mais de 60% da amostra da população indicou que “confia na maior parte das notícias na maior parte do tempo”, sendo os outros dois Portugal e África do Sul.
Na média global, só cerca de quatro em dez respondentes (42%) disseram que confiam na maioria das notícias na maior parte do tempo. A confiança é menor nos Estados e na Eslováquia (ambos com 26%), seguidos por Taiwan e Grécia (27%).
2. A idade média dos assinantes de sites jornalísticos é de 50 anos
Fazer com que as audiências mais jovens se interessem pelas notícias, sem se importar em pagar por elas, é um grande desafio dos veículos atualmente.
O problema ficou claro em descobertas que indicaram que a média de idade das pessoas que pagam por notícias digitais é de 47 anos. Nos Estados Unidos, apenas 17% dos assinantes têm menos de 30 anos; no Reino Unido, são 8%.
No entanto, o percentual de jovens assinantes nos Estados Unidos se equipara à média de 20 países onde pagar por notícias é uma prática relativamente disseminada. A Noruega continua sendo a líder global em pagamentos por notícias digitais (41% dos usuários pagaram por conteúdo jornalístico no ano passado), seguida pela Suécia (33%), Finlândia (19%) e os Estados Unidos (19%).
Uma observação potencialmente preocupante é que, quando se trata do crescimento constante da parcela de pessoas dispostas a pagar por notícias, “as tendências de longo prazo sugerem uma desaceleração em alguns desses mercados pioneiros — levantando questões sobre eles estarem atingindo uma fase mais madura”.
3. Audiências mais jovens, de fato, consomem notícias de um jeito diferente
Os dados do relatório indicam que as audiências mais jovens são mais propensas a evitar o noticiário intencionalmente. Elas também são menos apegadas a marcas jornalísticas devido à popularidade de acesso a conteúdo jornalístico de forma indireta, por meio das redes sociais, mecanismos de busca e agregadores.
Os jovens também estão menos presos a conceitos como imparcialidade jornalística, em parte porque cresceram em um mundo com a internet participativa e social. Ao mesmo tempo, o relatório observa que “a cautela com o viés por vezes afasta [os jovens] do consumo de notícias por completo”.
Em todos os mercados, 15% dos adultos com idade entre 18 e 24 anos usam o TikTok para consumir notícias, 3% a mais em relação a 2020. De maneira geral, o TikTok é usado por 40% das pessoas dessa faixa etária em 46 países.
4. O YouTube é mais popular para o consumo de notícias do que parece
Mais da metade da audiência de jornalismo digital nas Filipinas (57%), Tailândia (55%) e Índia (53%) usa o YouTube para consumir notícias em uma semana normal.
Uma razão para isso é que algumas pessoas preferem ver vídeos. Outro fator pode ser o contraste — em relação ao estilo, tom e conteúdo — na comparação com canais jornalísticos mais tradicionais. Por exemplo, o estudo observa que, na Tailândia, “a combinação de tarifas baixas de internet móvel e uma maior liberdade para falar abertamente online gerou uma avalanche de programas independentes com estilo televisivo que são amplamente assistidos em celulares”.
O YouTube também é uma plataforma popular para consumo de podcast. Podcasts com formato em vídeo fazem parte dessa equação, assim como a possibilidade de ter o YouTube rodando em segundo plano ao mesmo tempo em que se faz múltiplas tarefas. O YouTube é o canal mais popular para consumo de podcast na Espanha (30% dos ouvintes mensais de podcasts) e o segundo mais popular (19%) na Alemanha.
Coletivamente, o alcance do jornalismo no YouTube — principalmente na comparação com plataformas mais tradicionais de distribuição de notícias — sugere que ter uma estratégia ampla no YouTube pode passar a ser um objetivo de desenvolvimento para veículos jornalísticos.
5. As newsletters jornalísticas provavelmente são menos populares do que se imagina
Assim como a popularidade do YouTube como uma plataforma de consumo de notícias é minimizada, é possível que a importância que muitas redações deram ao email e às newsletters nos últimos anos tenha sido exagerada.
Embora as newsletters possam ser um caminho essencial para atrair assinaturas e promover o engajamento regular com a audiência, menos de um em cada cinco (17%) consumidores de notícias digitais se informam usando o email em uma semana comum. Este grupo tende a ser o dos mais velhos, com mais escolaridade e tipicamente mais engajados com o ciclo de notícias do que o leitor médio.
Dentre aquelas pessoas que usam o email como uma fonte de notícias, as razões incluem a conveniência (65%), a gama de matérias (30%) e o tom/estilo implementado (24%). O tom autoral, que nas newsletters pode frequentemente ser bem diferente de outros canais, foi bastante valorizado em mercados como a Índia (55%) e a Coreia do Sul (40%).
Esse tom de voz pode ser visto na ascensão de plataformas como o Substack. Porém, o mercado de newsletters pagas continua pequeno. Nos Estados Unidos, 7% dos assinantes de notícias pagam por uma newsletter; na Alemanha e na Austrália esse número cai para apenas 1%.
Além disso, nos Estados Unidos, enquanto o número total de newsletters jornalísticas sendo publicadas cresceu significativamente, a audiência total, na verdade, diminuiu.
Foto por Campaign Creators no Unsplash.