Em um dia de 2016, quando os jornalistas espanhóis Clara Jiménez e Julio Montes decidiram lançar o site Maldita.es, eles chamaram alguns amigos, conectaram três laptops em uma pequena mesa de madeira, abriram algumas cervejas e elaboraram várias ideias sobre o que poderiam fazer para combater a onda desenfreada de desinformação.
Por volta da mesma época, na Turquia, Gülin Çavuş, que tinha acabado de se formar em política global e relações internacionais, com foco em planejamento urbano e governos locais, também estava ficando mais preocupada com o impacto da desinformação nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Ela decidiu lançar o Teyit, uma operação de verificação de fatos cujo conceito foi criado por seu amigo, Mehmet Atakan Foça.
Seis anos depois, no começo de 2022, o Maldita tinha crescido e somava mais de 50 empregados. Jiménez estava tendo problemas para dormir por causa de todas as responsabilidades e decisões de negócios sob seu escopo. Ela conta que ficava deitada na cama, perto de Montes, agora seu marido, e enquanto olhava para o teto branco, eles perguntavam um ao outro se o Maldita ia durar até o fim do mês seguinte ou não.
Çavuş tinha testemunhado uma tentativa de golpe e vivido a emergência da polarização política extrema nos últimos anos na região onde vivia. Uma de suas obrigações como nova chefe de estratégia do Teyit era diversificar as fontes de receita da organização, assegurando que dúzias de funcionários e vários freelancers recebessem os salários que mereciam.
Em junho, em Seul, na Coreia do Sul, na Global Fact 10, conferência anual organizada pela International Fact-Checking Network, Jiménez e Çavuş compartilharam com um grupo seleto de jornalistas como suas vidas – e seus negócios – tinham mudado nos últimos poucos meses.
Jiménez e Çavuş, ambas mulheres de sucesso, participaram do Elevate, hub de negócios de notícias do ICFJ. Elas falaram sobre as lições que aprenderam durante o programa e as mudanças que implementaram em suas organizações com o apoio de mentores internacionais.
Se você está com dificuldade para administrar um veículo de mídia, ou se conhece alguém que se encaixa nessa descrição, certifique-se de avaliar e compartilhar as dicas a seguir.
Dica 1, de Çavuş: Seja humilde. Reconheça que você não tem todas as habilidades de que precisa para administrar um negócio. Peça ajuda.
As faculdades de jornalismo normalmente não têm aulas de negócios nem ensinam como fazer um orçamento. Elas raramente tratam de recursos humanos ou infraestrutura de tecnologia. Mas todos esses assuntos são vitais para jornalistas que desejam se tornar empreendedores de mídia e executivos no controle de operações jornalísticas sustentáveis.
"Certifique-se de reconhecer o que você não sabe", diz Çavuş, com um sorriso humilde. "Depois disso, entre em contato com o Elevate ou qualquer outra ajuda que encontrar, e garanta que vai se dedicar a aprender."
O Teyit ganhou US$ 20.000 e desenvolveu um novo sistema de gestão de relacionamento com o cliente para ajudar no engajamento de sua audiência.
Dica 2, de Jiménez: Compartilhe responsabilidades com e empodere uma equipe de confiança.
Uma organização do tamanho do Maldita deve considerar ter vários profissionais de nível executivo: um diretor executivo (CEO), um diretor de tecnologia (CTO), um diretor financeiro (CFO) e um diretor de operações (COO). Cada cargo deve ter uma descrição clara, com objetivos anuais.
"O Maldita passou de dois diretores – eu e o Julio, que só falávamos de trabalho o tempo todo e começamos a brigar em casa – para uma equipe de cinco diretores", diz Jiménez. "Os fundadores da organização – nesse caso, eu e o Julio – também precisamos empoderar esses diretores, assim o resto da equipe sabe para onde ir para corrigir algo que não está certo."
Dica 3, de Jiménez: Desenvolva um plano estratégico detalhando como deve ser o futuro da sua organização.
Antes de um retiro de planejamento que Jiménez organizou em 2022, a equipe de letramento de mídia do Maldita estava comprometida a trabalhar com pessoas mais velhas, mas estavam na verdade usando o tempo com estudantes do Ensino Médio. A redação estava publicando "artigos longos e supercomplicados". A Botalite, braço tecnológico da Maldita, estava no horizonte, mas ainda não tinha um caminho claro.
O retiro – que reuniu a liderança da organização – trouxe a oportunidade de reorientar algumas dessas prioridades, rever processos e atualizar objetivos. A equipe registrou tudo no papel.
"Nós alugamos uma casa no campo e eu fiz pizza para todos enquanto nos dividíamos em grupos e construíamos diferentes partes do nosso plano estratégico", conta. "Nosso documento abarcou oito áreas e é nosso guia."
Dica 4, de Jiménez: Escreva sua missão e visão. Certifique-se de comunicá-las aos seus empregados.
Com a ajuda de Edmour Saiani, mentor do Elevate, a equipe do Maldita escreveu o que eles chamam de seus "10 + 1 mandamentos."
"Nós crescemos muito rápido", explica Jiménez. "Quem de nós está desde o início entende o Maldita muito bem e tem um apego especial a ele. Mas os novos contratos têm uma chance grande de ver nossa redação só como seu mais novo emprego. Os mandamentos foram criados para explicar nossa cultura internamente. Quem somos? O que fazemos? E como fazemos as coisas?"
Saiani também pediu aos funcionários do Maldita para escrever o que eles gostavam ou não do veículo, e identificaram respostas em comum. Este é um exercício útil para qualquer executivo de mídia.
Dica 5, de Jiménez: Aprenda a demitir – e a ficar bem com isso.
Contratar e demitir são habilidades críticas em todas as organizações, sejam elas com ou sem fins lucrativos. Porém, jornalistas dificilmente sabem como lidar com essa áreas, principalmente quando se trata de demitir pessoas.
"No Elevate, eu entendi que demitir pode ser verdadeiramente bom para ambos os lados, e eu tive a oportunidade de desenvolver essa habilidade", diz Jiménez. "Como líder, você pode ser legal e realista ao mesmo tempo. Você precisa transmitir sua mensagem e fazer com que a pessoa que você está demitindo entenda que isso também vai ser um momento importante para o crescimento dela."
Dica 6, de Çavuş: Crie o máximo de estratégias que puder, mas esteja pronta para o inesperado.
Em fevereiro, enquanto o Teyit revisava e categorizava cuidadosamente sua audiência para descobrir quem eram seus "leitores leais", a Turquia sofreu um grande terremoto. Çavuş teve que mudar a atenção do veículo para cobrir as milhares de mortes e desmontar narrativas falsas.
O Teyit pausou o trabalho de desenvolvimento do sistema de gerenciamento de relacionamento com cliente, mas tudo bem: priorizar é uma habilidade chave para líderes.
O veículo produziu uma cobertura brilhante sobre o desastre natural devastador da qual ele pode se orgulhar, e tem um projeto forte nascido da categorização da audiência – o Teyit Press. Em breve, como parte desse projeto, o veículo vai começar a treinar redações turcas para lidar melhor com a desinformação.
Em resumo, o Teyit chegou lá.
Dica 7, de Jiménez: Não seja tímida. Promova seu negócio onde você for.
Sempre carregue uma apresentação de uma página da sua organização no seu telefone. Vai fazer uma apresentação em uma conferência? Adicione o código QR e/ou link da sua organização. Leve seu cartão de visitas; use esses eventos para construir redes.
Jiménez e Çavuş fizeram ambas as coisas no Global Fact 10 e certamente vão colher os benefícios em breve.
O Elevate é um programa de sete meses de duração, dividido em três fases: uma aceleração de conhecimento conduzida pelo Babson College, um período de mentoria individualizada e o desembolso de um financiamento.
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