Política do selo de verificação do X alimenta desinformação

Aug 24, 2023 em Combate à desinformação
X logo on a grey dice and black background

Desde que o X, antigo Twitter, foi lançado em 2006, jornalistas usam a plataforma para interagir com os seguidores e obter informações para suas reportagens.

Porém, em abril, quando a plataforma transformou seu selo de verificação em um serviço pago – deixando de levar em conta a atividade, notoriedade ou autenticidade do usuário – ela tornou significativamente mais difícil distinguir entre fontes de credibilidade e farsantes ou fraudes. Anteriormente chamado de Twitter Blue, o serviço pago agora se chama X Premium.

"O X está rapidamente se tornando um lugar verificado para usuários não verificados", diz Ewuji Precious, jornalista freelancer nigeriana. "Até certo ponto, as pessoas podem acreditar em quem tem o selo de verificação, independentemente da autenticidade do que tiver sido publicado, muito mais do que em jornalistas não verificados."

A seguir estão alguns pontos que jornalistas devem saber sobre essas novas políticas e como elas estão alimentando a disseminação de desinformação.

A nova política do selo de verificação e a desinformação

Antes, os usuários do X se candidatavam ao selo de verificação por meio de um processo gratuito de solicitação, que exigia que a conta fosse "autêntica, com notoriedade e ativa". Autoridades e entidades governamentais, celebridades, ativistas, organizações jornalísticas e outros frequentemente eram aprovados para receber o selo de verificação.

"O selo azul era um sinal para mostrar que se tratava de usuários verificados e, portanto, confiáveis", diz Bettie Mbayo, verificadora de fatos e cofundadora da Stage Media, na Libéria. Por outro lado, hoje qualquer usuário pode pagar US$ 8 por mês para ter um selo azul vinculado ao seu nome.

Desde então, informações falsas proliferaram. Por exemplo, um estudo do Quant Lab, do Centro de Combate ao Ódio Digital, descobriu que mais de 25% dos tweets relacionados à Ucrânia, vacinas e mudança climática feitos por assinantes do X Premium continham informação falsa.

O mundo real já sofreu consequências pela desinformação que conseguiu se disseminar. Durante o conflito no Sudão, o selo de verificação da principal força paramilitar do país, as Forças de Suporte Rápido (RSF), foi removido. Uma conta falsa com um selo azul se passou pelo grupo e afirmou falsamente a morte de seu líder, Mohamed Dagalo. O post recebeu 1,7 milhão de visualizações dentro de um curto período de tempo. A conta falsa acabou sendo derrubada posteriormente.

Em outro exemplo, várias contas falsas se passaram pelo Citizen TV Kenya, canal de notícias e entretenimento do Quênia, e publicaram informação falsa. Uma das contas falsas, que depois foi suspensa, afirmou que o Dr. SK Macharia, fundador e presidente da Royal Media Services, proprietária do canal, tinha sido declarado morto. O post se espalhou até o Citizen TV Kenya desmentir a informação no X e no Facebook.

"O algoritmo do X funciona priorizando as pessoas com o X Premium, então você consegue aparecer no topo das páginas. Quando você comenta ou publica, você tende a ter visibilidade", diz Alfred Olufemi, jornalista no jornal nigeriano PUNCH.

Combate à desinformação no X

Com os jornalistas se deparando com mais informações falsas no X, é imperativo que eles tomem precauções extras com aquilo que compartilham. "Jornalistas devem evitar engajar em ativismo e disseminar vieses, já que isso pode prejudicar sua credibilidade, o que é um valor central", diz Lois Ugbede, verificadora de fatos no Dubawa

Ugbede estimulou os jornalistas a "verificar a informação antes de compartilhar" para manter a confiança de outros usuários e evitar a disseminação de desinformação. "As pessoas compartilham tweets porque sentem que a informação contida neles é verdadeira", diz. "Uma forma de verificar isso é os jornalistas conhecerem a fonte da informação e terem acesso a redes (por exemplo, a Africa Fact Network, rede de organizações de verificação de fatos da África) onde podem obter informação."

Jornalistas também podem usar ferramentas como o Spoonbill, Pipl.com, AI Detector e outras para verificar a autenticidade da informação publicada no X, diz Busola Ajibola, vice-diretora do Programa de Jornalismo do Centro de Inovação e Desenvolvimento do Jornalismo.

"Essas ferramentas ajudam a identificar certas informações de usuários do X e, na maioria das vezes, isso ajuda a expor quem está por trás dos tweets e o quão autêntica é a conta", diz. "Saber qual a localização e data de criação da conta também é útil para identificar se é uma paródia ou uma conta confiável." 


Foto por Bastian Riccardi via Unsplash.