RioOnWatch lança guia para melhorar cobertura internacional das Olimpíadas no Rio

por Sheila Taylor
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Além do meio milhão de visitantes indo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, cerca de 30.000 jornalistas também estarão na cidade para cobrir o evento, colocando o Rio sob o microscópio gigante da mídia. Repórteres estrangeiros e equipes de reportagem não vão apenas fazer a cobertura dos eventos esportivos; também vão buscar histórias sobre como o Rio é "realmente".

Para ajudar os jornalistas neste esforço, o RioOnWatch lançou o guia em inglês "Olympics Resources for Journalists" (ORJ) (Recursos Olímpicos para Jornalistas) para promover uma reportagem mais equilibrada e informada sobre as comunidades das favelas. Por sua vez, o guia pode gerar uma cobertura mais abrangente da cidade do Rio de Janeiro, partindo das interpretações de paraíso ou pesadelo que são frequentemente utilizadas para descrever esta cidade complexa e multifacetada.

"As favelas da cidade são indiscutivelmente as comunidades mais estigmatizadas do mundo e este holofote da mídia oferece uma chance de mudar o foco da narrativa de representações equivocadas -- com base em suposições sobre a violência, pobreza ou crime -- a retratos com mais nuances", explicou Cerianne Robertson, coordenadora de pesquisa e monitoramento de mídia da Catalytic Communities (CatComm), organização-mãe do RioOnWatch. "Velhos estigmas justificaram políticas perigosas ou a falta de investimento em favelas; a reportagem diversificada pode abrir o caminho para melhores políticas. Com essa oportunidade em mente, nós criamos o ORJ para tornar mais fácil produzir matérias interessantes, precisas e produtivas sobre as favelas do Rio."

Com o objetivo de ajudar a transferir conhecimento de uma forma acessível aos jornalistas, o ORJ contém informações básicas sobre favelas, ideias para inspirar matérias, contatos de líderes da comunidade, uma série de artigos de leitura obrigatória, documentos de referência política e guias sobre as favelas que visitam.

Um recurso útil de contexto explica por que usar o termo "favela" é importante e mais preciso e como termos como favela, "slum" ou gueto são sensacionalistas e não-representativos e acrescentam à estigmatização dessas comunidades. Jo Griffin, uma jornalista freelancer do Guardian, lembrou desse contexto quando enviou artigos.

"Eu também tenho guiado meus editores para os recursos -- por exemplo, apontando que 'favela' não é um termo pejorativo e deve ser preferido", disse ela.

Griffin também achou esses recursos úteis durante a Copa do Mundo de 2014, quando RioOnWatch criou um guia similar.

"Eu li e incorporei o material de fundo para matérias sobre temas como a ameaça de expulsar as pessoas que vivem no alto da favela Santa Marta", disse ela. "Achei o material inestimável como um guia para as questões -- estabelecendo isso num contexto mais amplo de urbanização e explicando alguns dos antecedentes históricos. O material é facilmente acessível, confiável e de amplo alcance, e é muito útil ter o material em um só lugar. "

Em 2010, a ComCat lançou o RioOnWatch para trazer visibilidade global a vozes das comunidades das favelas no período que antecede as Olimpíadas de 2016. Durante os últimos 16 anos, a ComCat construiu redes com líderes da favela e jornalistas. Os artigos que usaram o RioOnWatch apareceram no Guardian, Time9 News da Austrália.

Esta reação de um líder de favela demonstra o valor do RioOnWatch tanto para jornalistas e comunidades: "É muito positivo que a imprensa internacional está dando atenção para [nossas] comunidades, porque a mídia nacional só presta atenção nas comunidades quando algo ruim está acontecendo."

Outro líder de favela concordou.

"Foi uma grande iniciativa para mudar a imagem internacional do Rio como uma cidade violenta", disse o líder.*

Steve Larkin, jornalista esportivo da Australian Associated Press, disse que o ORJ pode ajudar os jornalistas já no Rio de Janeiro a descobrir e trazer luz para histórias pouco reportadas da cidade.

"Eu acho que o RioOnWatch é uma ferramenta importante para os jornalistas cobrindo os Jogos Olímpicos", disse ele. "É tanto um facilitador para perguntas da mídia como oferece acesso à mídia para as áreas que de outro modo ficariam invisíveis."

Desde o lançamento do RioOnWatch em 2010 e o lançamento do @RioOnWire, a agência pública da favela em língua inglesa, em 2015, a rede de base da organização tornou-se mais forte. Tanto assim, que quando a organização enviou convites pedindo contatos da comunidade por informação e ideias de pautas para jornalistas, houve uma grande resposta. Estes contatos comunitários mapeados agora podem ser encontrados no ORJ e vão aumentar com a chegada dos jogos.

Tópicos que líderes da comunidade gostariam de ver na imprensa incluem a cultura local, educação, doença, história da comunidade e o genocídio da juventude negra. Alguns organizadores de comunidades falam inglês ou têm o apoio de pessoas que falam, mas o RioOnWatch pode facilitar o contato com eles (por uma doação em troca) ou recomenda uma rede de tradutores e fixadores que podem ajudar os jornalistas. O RioOnWatch recomenda que os jornalistas enviem seu primeiro e-mail para os contatos da comunidade em português se possível, ou podem solicitar apoio via press@catcomm.org.

*CatComm reuniu uma lista de contatos da comunidade para jornalistas durante a Copa do Mundo 2014. Estes comentários anônimos são de líderes participantes.

Imagens por Sheila Taylor.

Sheila Taylor é uma jornalista e fotógrafa freelance com base em Lisboa, Portugal.