Além do meio milhão de visitantes indo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, cerca de 30.000 jornalistas também estarão na cidade para cobrir o evento, colocando o Rio sob o microscópio gigante da mídia. Repórteres estrangeiros e equipes de reportagem não vão apenas fazer a cobertura dos eventos esportivos; também vão buscar histórias sobre como o Rio é "realmente".
Para ajudar os jornalistas neste esforço, o RioOnWatch lançou o guia em inglês "Olympics Resources for Journalists" (ORJ) (Recursos Olímpicos para Jornalistas) para promover uma reportagem mais equilibrada e informada sobre as comunidades das favelas. Por sua vez, o guia pode gerar uma cobertura mais abrangente da cidade do Rio de Janeiro, partindo das interpretações de paraíso ou pesadelo que são frequentemente utilizadas para descrever esta cidade complexa e multifacetada.
"As favelas da cidade são indiscutivelmente as comunidades mais estigmatizadas do mundo e este holofote da mídia oferece uma chance de mudar o foco da narrativa de representações equivocadas -- com base em suposições sobre a violência, pobreza ou crime -- a retratos com mais nuances", explicou Cerianne Robertson, coordenadora de pesquisa e monitoramento de mídia da Catalytic Communities (CatComm), organização-mãe do RioOnWatch. "Velhos estigmas justificaram políticas perigosas ou a falta de investimento em favelas; a reportagem diversificada pode abrir o caminho para melhores políticas. Com essa oportunidade em mente, nós criamos o ORJ para tornar mais fácil produzir matérias interessantes, precisas e produtivas sobre as favelas do Rio."
Com o objetivo de ajudar a transferir conhecimento de uma forma acessível aos jornalistas, o ORJ contém informações básicas sobre favelas, ideias para inspirar matérias, contatos de líderes da comunidade, uma série de artigos de leitura obrigatória, documentos de referência política e guias sobre as favelas que visitam.
Um recurso útil de contexto explica por que usar o termo "favela" é importante e mais preciso e como termos como favela, "slum" ou gueto são sensacionalistas e não-representativos e acrescentam à estigmatização dessas comunidades. Jo Griffin, uma jornalista freelancer do Guardian, lembrou desse contexto quando enviou artigos.
"Eu também tenho guiado meus editores para os recursos -- por exemplo, apontando que 'favela' não é um termo pejorativo e deve ser preferido", disse ela.
Griffin também achou esses recursos úteis durante a Copa do Mundo de 2014, quando RioOnWatch criou um guia similar.
"Eu li e incorporei o material de fundo para matérias sobre temas como a ameaça de expulsar as pessoas que vivem no alto da favela Santa Marta", disse ela. "Achei o material inestimável como um guia para as questões -- estabelecendo isso num contexto mais amplo de urbanização e explicando alguns dos antecedentes históricos. O material é facilmente acessível, confiável e de amplo alcance, e é muito útil ter o material em um só lugar. "
Em 2010, a ComCat lançou o RioOnWatch para trazer visibilidade global a vozes das comunidades das favelas no período que antecede as Olimpíadas de 2016. Durante os últimos 16 anos, a ComCat construiu redes com líderes da favela e jornalistas. Os artigos que usaram o RioOnWatch apareceram no Guardian, Time e 9 News da Austrália.
Esta reação de um líder de favela demonstra o valor do RioOnWatch tanto para jornalistas e comunidades: "É muito positivo que a imprensa internacional está dando atenção para [nossas] comunidades, porque a mídia nacional só presta atenção nas comunidades quando algo ruim está acontecendo."
Outro líder de favela concordou.
"Foi uma grande iniciativa para mudar a imagem internacional do Rio como uma cidade violenta", disse o líder.*
Steve Larkin, jornalista esportivo da Australian Associated Press, disse que o ORJ pode ajudar os jornalistas já no Rio de Janeiro a descobrir e trazer luz para histórias pouco reportadas da cidade.
"Eu acho que o RioOnWatch é uma ferramenta importante para os jornalistas cobrindo os Jogos Olímpicos", disse ele. "É tanto um facilitador para perguntas da mídia como oferece acesso à mídia para as áreas que de outro modo ficariam invisíveis."
Desde o lançamento do RioOnWatch em 2010 e o lançamento do @RioOnWire, a agência pública da favela em língua inglesa, em 2015, a rede de base da organização tornou-se mais forte. Tanto assim, que quando a organização enviou convites pedindo contatos da comunidade por informação e ideias de pautas para jornalistas, houve uma grande resposta. Estes contatos comunitários mapeados agora podem ser encontrados no ORJ e vão aumentar com a chegada dos jogos.
Tópicos que líderes da comunidade gostariam de ver na imprensa incluem a cultura local, educação, doença, história da comunidade e o genocídio da juventude negra. Alguns organizadores de comunidades falam inglês ou têm o apoio de pessoas que falam, mas o RioOnWatch pode facilitar o contato com eles (por uma doação em troca) ou recomenda uma rede de tradutores e fixadores que podem ajudar os jornalistas. O RioOnWatch recomenda que os jornalistas enviem seu primeiro e-mail para os contatos da comunidade em português se possível, ou podem solicitar apoio via press@catcomm.org.
*CatComm reuniu uma lista de contatos da comunidade para jornalistas durante a Copa do Mundo 2014. Estes comentários anônimos são de líderes participantes.
Imagens por Sheila Taylor.
Sheila Taylor é uma jornalista e fotógrafa freelance com base em Lisboa, Portugal.