Perspectivas e desafios para jornalistas em 2025

por Jacob Granger
Jan 21, 2025 em Sustentabilidade da mídia
Red fireworks in a night sky

A confiança no jornalismo seguirá baixa em 2025, de acordo com o relatório anual do Reuters Institute "Tendências e previsões de jornalismo, mídia e tecnologia", publicado em 9 de janeiro de 2025. O estudo baseia-se em pesquisas com 326 líderes de redações digitais de 51 países e territórios.

Há poucos dias desde que a Meta abandonou suas responsabilidades com a verificação de fatos, Louise Pettersson, editora-chefe do dinamarquês Sjællandske Medier, parece ter acertado na mosca: "eles querem lucrar com nosso conteúdo exclusivo, mas se recusam a reconhecer nosso trabalho, seja por meio de tráfego ou pagamento. A Meta, em particular, é profundamente problemática".

Matthias Streitz, chefe de inovação editorial do alemão Der Spiegel, também passou perto: "enquanto algumas plataformas pararam por completo de se preocupar com informação factualmente correta (X), outras não saem do lugar e novas oportunidades interessantes surgem (algumas plataformas de IA)".

Os líderes de redações lamentam os muitos desafios no ano que começa: tecnologia que vai tornar falsidades mais convincentes, políticos que reprimem a imprensa, maior dificuldade na retenção de talentos, redução nas receitas, maior dificuldade para dar visibilidade a conteúdo jornalístico diante de criadores de conteúdo mais estridentes sem os mesmos valores.   

Mas Streitz e os autores do relatório, Nic Newman e Federica Cherubini, também enxergam uma fagulha de esperança. "Tempos de mudança também trazem novas oportunidades. Boa parte da tarefa das lideranças de jornalismo no ano que se tem pela frente será redefinir o papel e o valor das instituições jornalísticas em uma era de polarização, desinformação e superabundância de conteúdo de uma forma que repercuta tanto entre as equipes quanto entre as audiências."

Sendo assim, quais são as perspectivas positivas e oportunidades para a sua redação em meio ao caos?

É hora de se unir contra as empresas de IA

Um total de 74% dos líderes de redações estão se preparando para uma queda no tráfego de referência, um êxodo não muito diferente daquele ocorrido no Facebook (67%), de propriedade da Meta, e do X (50%) nos últimos dois anos. Embora dados do Chartbeat não gerem essas mesmas preocupações em relação ao tráfego de busca, a chegada da ferramenta de busca do ChatGPT e da visão geral criada por IA do Google pode consolidar as desigualdades entre empresas jornalísticas grandes e pequenas.

O relatório reconhece que a maioria dos respondentes trabalha em empresas sem acordos de IA (e/ou que muito provavelmente não vão conseguir assegurar um acordo do tipo). Cerca de três quartos dos participantes da pesquisa (72%) consideram que a única resposta é chegar a acordos coletivos que beneficiem o ecossistema de notícias como um todo que começou a surgir.

Surfando na onda do vídeo nas redes sociais

Plataformas tradicionais como X e Facebook simplesmente romperam os laços com o jornalismo e os editores vão responder da mesma forma. Eles vão estar mais presentes em plataformas de vídeo como YouTube (52%), TikTok (48%) e Instagram (43%), de propriedade da Meta, na esperança de conquistar o público jovem e ganhar dinheiro. 

Empresas de IA como Perplexity e OpenAI são as únicas que despertam mais interesse dos respondentes (56%).

Tecnologia de voz aquece os pulmões

Não é difícil de entender o porquê: 87% dos respondentes acham que suas redações estão sendo transformadas pelas empresas de IA generativa. A tecnologia por voz está se desenvolvendo rápido, dando aos editores opções confiáveis de conversão de texto em áudio e de áudio em texto (75%), sendo estas as ferramentas que ocupam o topo da lista de aplicações baseadas em IA voltadas para a audiência. O principal exemplo de 2024 foi a matéria da revista Time "Pessoa do Ano", que destacou Donald Trump.

Um campo para ficar atento é o de agentes inteligentes, que têm o potencial de executar uma gama de tarefas em nome de um usuário, como pesquisar, agendar compromissos, etc. É provável que eles superem a barreira que os dispositivos ativados por voz enfrentam com a qualidade de suas respostas. Um em cada cinco líderes de redação considera que os agentes serão a próxima grande novidade e um em cada dez acha que será uma moda passageira.

Conveniência impulsiona assinaturas

Outra razão para priorizar empresas de IA é que os líderes cheiram dinheiro no horizonte. Um terço (36%) considera que o financiamento feito por plataformas será a principal fonte de receita neste ano, antecipando acordos de IA lucrativos.

As assinaturas digitais vão se manter, com uma boa parte considerando que elas vão crescer "um pouco"  (45%). A expectativa é que haja mais pacotes que oferecem conveniência e economia de custos, na esteira do sucesso do modelo do New York Times. Líderes que ainda não acrescentaram produtos complementares às notícias estão planejando ou pensando em incluir jogos (29%), educação (26%), resenhas (14%), esportes (14%) e gastronomia (13%). As doações, embora pequenas, são a única outra fonte de receita crescendo em importância (19%).

Criadores de conteúdos estão dispostos a colaborar

Três quartos (73%) estão de olho em produtos para jovens neste ano, como uma forma de atrair a evasiva geração Z. Este grupo é cada vez mais conquistado por personagens online que "falam sua língua" e cuja influência não deve ser subestimada. Trata-se de uma mistura de jornalistas que encontraram formas de combinar jornalismo com formatos modernos e criadores que ampliam o alcance de teorias da conspiração. 

Ainda não se sabe se a atração das audiências mais jovens em direção aos influenciadores é boa ou ruim para o jornalismo. Nenhuma das opções descarta um outro caminho para seguir adiante: encontrar formas de trabalhar com criadores de conteúdo que conquistaram a confiança da geração Z. 

Um bom exemplo vem do site romeno PressOne, que fez parcerias com influenciadores nos últimos três anos. A gerente de redes sociais Mălina Gîndu diz que houve um benefício mútuo para ambas as partes: o veículo descobriu uma audiência mais jovem no Instagram e os influenciadores ganharam um pouco de credibilidade.

Menos é mais

Não são só os jovens que se beneficiam de uma abordagem mais comedida. Audiências de todas as idades sentem exaustão e negatividade em um mundo constantemente afetado por guerras, desastres naturais e assassinatos.

Simplificar as notícias em trechos mais simples de se processar pode ser a direção a ser seguida. Conteúdos explicativos diários, podcasts e fotografias são algumas das principais formas que os líderes de redações pretendem usar para chegar às suas audiências apenas com as notícias essenciais.

É um bom momento para ser um jornalista que entende de tecnologia

Todas essas tendências - IA generativa, estratégia de vídeo em redes sociais e desenvolvimento de produto - exigem constantemente novas habilidades para entrar em uma redação, o que valoriza o talento (e torna a retenção um imperativo).

Embora os líderes de redações estejam confiantes na contratação de talentos editoriais gerais (85%) e acima da média (81%), eles estão menos confiantes na contratação de talentos nas áreas de produto e design (59%), ciência de dados e IA (41%) e engenheiros de software (38%). 

Isso significa que jornalistas vão fazer bem em se qualificar na área de tecnologia para melhorar suas perspectivas de carreira.


Este artigo foi originalmente publicado no Journalism.co.uk e republicado na IJNet com permissão. 

Foto por Pierre-Etienne Vilbert via Unsplash.