— Menos é mais? O Facebook, como você certamente sabe agora, anunciou que está fazendo alterações no news feed. Posts de amigos e familiares estão dentro; o conteúdo de páginas (incluindo de editoras) está fora. Há muitas perguntas sobre o que isso significa para organizações de mídia. Há também perguntas sobre o que significa para a propagação de notícias falsas na plataforma.
- “Embora possa reduzir a exposição acidental a informações incorretas, as mudanças poderiam, em alguns casos, apenas fortalecer as bolhas de filtro com um fluxo constante de conteúdo de pessoas com ideologias semelhantes. Enquanto isso, um recuo do news feed para grupos e comunidades mais removidos poderia exacerbar a exposição a informações erradas”. (Charlie Warzel, BuzzFeed)
- “A diretora de parcerias de notícias do Facebook, Campbell Brown, também escreveu para algumas grandes editoras que as mudanças levariam as pessoas a verem menos conteúdo de "editoras, marcas e celebridades", mas que "as notícias compartilhadas entre amigos não serão impactadas", o que poderia sugerir que notícias falsas poderiam ser promovidas em relação ao conteúdo direto de meios de notícias legítimos”. (Alex Kaplan, Media Matters)
- “As contas que o Facebook sugere no topo do seu feed não terão necessariamente passado por qualquer tipo de processo de verificação. Isso é uma má notícia se seu radar de fake news estiver um pouco enferrujado e sua tia é propensa a compartilhar links de fontes questionáveis”. (Marissa Miller, Teen Vogue)
A solução do Facebook para as Fake News é publicar menos notícias a não ser que seu tio racista compartilhe notícias com você.
— Anthony De Rosa (@Anthony) 12 de janeiro de 2018
Adam Mosseri, vice-presidente de notícias do Facebook, tentou respoder a algumas dessas preocupações no Twitter.
Há definitivamente riscos, incluindo conversas mais grosseiras e menos matérias informativas. Nós só precisamos trabalhar com cada um.
— Adam Mosseri (@mosseri) 14 de janeiro de 2018
Dado que a grande maioria das interações entre as pessoas acontece nos feeds de amigos, que são muitas vezes menos problemáticas do que o equivalente em posts da página, parece mais provável que isso seja bom do que ruim.
— Adam Mosseri (@mosseri) 14 de janeiro de 2018
Enquanto isso, o New York Times falou com algumas editoras de países onde o Facebook vem experimentando um feed "Explore" que divulga notícias em uma seção separada: experiências que não são idênticas às novas mudanças de notícias que o Facebook está desenvolvendo nos EUA, mas são semelhantes. Em alguns desses países, pelo menos, as editoras relataram "consequências não intencionais" da mudança. Por exemplo:
Na Eslováquia, onde os nacionalistas de direita conseguiram quase 10 por cento do Parlamento em 2016, as editoras disseram que as mudanças na realidade ajudaram a promover notícias falsas. Com as organizações de notícias oficiais obrigadas a gastar dinheiro para entrar no News Feed, agora cabe aos usuários compartilhar informações.
"As pessoas geralmente não compartilham notícias sem graças com fatos sem graças", disse Filip Struhárik, editor de mídia social do Denník N, um site de notícias por assinatura eslovaco que viu uma queda de 30 por cento no engajamento do Facebook após as mudanças. O Sr. Struharik, que catalogou os efeitos do Facebook Explore através de um registro mensal, notou um aumento constante no engajamento em sites que publicam notícias falsas ou sensacionalistas.
E na Bolívia:
A Bolívia também viu um aumento nas notícias falsas, já que os sites de notícias estabelecidos ficam escondidos atrás da função Explore.
Durante as eleições judiciais nacionais em dezembro, um post amplamente compartilhado no Facebook afirmou ser de um funcionário eleitoral dizendo que os votos só seriam válidos se um X fosse marcado ao lado do nome do candidato. Outra publicação naquele dia disse que funcionários do governo colocaram canetas com tinta apagável nas cabines de votação.
É difícil quantificar isso. Em um post no Medium, Struhárik, o editor de redes sociais eslovaco mencionado acima, compartilhou um gráfico sugerindo que, na Eslováquia, "as interações em páginas de notícias falsas não caíram desde que o teste de feed do Explore começou.
O teste do Explore começou em 19 de outubro, onde podemos perceber o ponto em que o tráfego cai em cerca de dois terços neste gráfico. Mas os sites de fake news recuperam rapidamente e acabam com maior engajamento do que antes da mudança.
Compare isso com as interações para sites tradicionais na Eslováquia durante o mesmo período:
Suas interações diminuíram ao mesmo tempo - mas ainda não recuperaram.
— A Comissão Europeia anuncia o seu painel de especialistas sobre notícias falsas e desinformação online. Entre os 39 membros: Claire Wardle do First Draft, Rasmus Kleis Nielsen do Instituto Reuters e Alexios Mantzarlis do International Fact Checking Network/Poynter.
Nielsen stá reunindo uma "bibliografia aberta de pesquisa relevante baseada em evidências sobre problemas de desinformação", que você pode ver e contribuir aqui. Por enquanto, a pesquisa mais ampla vem dos EUA e ele não conseguiu encontrar informações sobre o alcance do problema na UE: "Quão generalizado é o problema de 'fake news' nos Estados membros da UE? Parece que simplesmente não sabemos".
Pode realmente ser verdade que não existe um único estudo, baseado em evidências e disponível publicamente, que mede a escala global e o escopo das "fake news" em um país da UE? A bibliografia aberta sobre desinformação já chegou a 10 páginas, mas não há estudos sobre alcance/volume? https://t.co/yNnycrH8Ju
— Rasmus Kleis Nielsen (@rasmus_kleis) 17 de janeiro de 2018
Pesquisa muito valiosa e estudos de caso interessantes. Mas nada parecido com “Selective Exposure to Misinformation: Evidence from the Consumption of Fake News during the 2016 US Campaign” de @andyguess et al https://t.co/ohVzrm8rA6 ou outras tentativas de medir o alcance geral + volume.
— Rasmus Kleis Nielsen (@rasmus_kleis) 17 de janeiro de 2018
Este artigo foi publicado originalmente pelo Nieman Lab. Foi resumido e republicado na IJNet com permissão.
Imagem sob licença no Flickr via The Public Domain Review