Lições para aumentar a representação da mulher no jornalismo

por Tedi Doychinova
Feb 15, 2021 em Diversidade e Inclusão
Pessoa em frente de um computador

Em parceria com nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redações por meio de uma série de webinars sobre a COVID-19. A série faz parte do ICFJ Global Health Crisis Reporting Forum.


As mulheres são sub-representadas na cobertura de notícias hoje. Recentemente, escrevemos sobre uma pesquisa que analisou o problema especificamente em relação a reportagens sobre a COVID-19.

No mês passado, a autora dessa pesquisa, a especialista em estratégia de público Luba Kassova juntou-se à editora-gerente da IJNet, Taylor Mulcahey, para discutir a representação das mulheres na cobertura de notícias hoje.

 

 

Kassova, que é cofundadora e diretora de uma empresa de consultoria internacional de estratégia de público AKAS Ltd, lançou recentemente o relatório "The missing perspectives of women in news" [As perspectivas perdidas das mulheres nas notícias]. Kassova e sua equipe analisaram 57 milhões de artigos para a pesquisa, entre 12.000 publicações em seis países: Índia, Quênia, Nigéria, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos. Os pesquisadores também analisaram cerca de 2.300 artigos acadêmicos e mais de 200 pesquisas de banco de dados para a pesquisa.

Research methodology
Imagem da apresentação do webinar.

 

A análise cobriu a representação das mulheres em redações e posições de liderança, bem como sua inclusão como fontes e protagonistas na cobertura de notícias, incluindo ângulos de igualdade de gênero na reportagem.

Aqui estão algumas declarações e conclusões que destacamos.

[Leia mais: O que está faltando na cobertura da COVID-19? Mulheres]

Mulheres nas redações

  • A notícia é “em grande parte uma área de homens”, descobriu Kassova. “As mulheres têm duas a seis vezes menos probabilidade de serem citadas como fontes especializadas ou protagonistas em 2019 do que os homens nos seis países que analisamos”, disse ela, acrescentando que nenhum progresso significativo foi feito nos últimos 20 anos.

  • Entre as 50 recomendações incluídas no relatório, Kassova oferece a jornalistas uma lista de verificação de paridade de gênero que pode ser aplicada em todas as cadeias de produção de notícias. Uma das medidas que jornalistas podem tomar é acessar bancos de dados que reúnem mulheres especialistas, para ajudar a colocá-las como protagonistas nas notícias. Ela destacou o progresso feito por países escandinavos e pelo South China Morning Post para compilar informações facilmente acessíveis para ajudar jornalistas a encontrar especialistas.

  • Kassova observou que: “A África do Sul lidera em termos de legislação de igualdade de gênero e também na proporção de mulheres nas redações. O Reino Unido e os Estados Unidos lideram em termos de normas sociais e atitudes mais favoráveis ​​à igualdade de gênero.”

The story in a nutshell
Imagem da apresentação do webinar.

Mulheres em posições de liderança

  • O relatório descobriu que mulheres ocupam apenas 26% dos cargos de governança em organizações de notícias e apenas 27% dos cargos de alta gerência. Essas descobertas foram consistentes em todos os seis países, explicou Kassova.

  • Kassova observou ainda que, com base em pesquisas acadêmicas, “as mulheres tendem a se concentrar mais na empatia. Em um nível de gestão, as mulheres são mais propensas a ser cordiais do que competitivas entre si.”

  • Como as redações tendem a ser dominadas por homens, a cultura é mais masculina e as mulheres são consideradas mais propensas a trocar sua identidade de gênero por sua identidade profissional. Isso pode ser uma barreira para ver a diferença na cobertura de notícias produzida por mulheres.

[Leia mais: Por que ter uma editora de gênero]

Igualdade de gênero na cobertura de notícias

  • A cobertura de questões de igualdade de gênero está praticamente ausente das notícias. “Menos de um por cento de toda a cobertura jornalística em 2019 em qualquer um dos países analisados ​​continha um elemento de igualdade de gênero”, disse Kassova.

  • “As notícias são mais consumidas por homens”, observou Kassova. Quando os homens são o público principal, isso ajuda a determinar os tópicos que os veículos de notícias cobrem, acrescentou ela, e isso, por sua vez, afeta o interesse das mulheres nas notícias.

  • “Há muito valor em testar a hipótese, se as mulheres consomem menos notícias porque as notícias oferecidas pelos provedores de notícias não se adaptam às suas necessidades, assim como às necessidades dos homens”, disse Kassova.

  • “Na verdade, as mulheres são mais propensas a se envolverem se houver um ângulo de interesse humano nas histórias, e isso muitas vezes não existe”, disse Kassova. Isso pode ser importante para redações locais, pois as mulheres tendem a se interessar mais por notícias sobre a comunidade, bem como por jornalismo baseado em soluções.

  • “A igualdade de gênero não é uma prioridade para os tomadores de decisão ou para os jornalistas”, disse Kassova. Ela se referiu à Pesquisa GlobeScan-SustainAbility de 2019, que mostrou que a igualdade de gênero costuma estar no final da lista de metas urgentes entre os especialistas globais.

  • “Os valores patriarcais ainda estão vivos e atuando tanto no Sul Global, como no Norte Global”, disse Kassova. Se as mulheres e as minorias não acham que existe um problema, o mesmo ocorre com o governo e os formuladores de políticas. Onde há complacência, observou ela, o progresso para porque os tomadores de decisão não acreditam que haja um problema a ser corrigido.

  • Para alcançar sucesso, é necessário lidar com fatores de nível de sistema, fatores organizacionais e comportamentos individuais de jornalistas. 

Gender equality in news coverage
Imagem da apresentação do webinar.

 

Kassova ofereceu vários pontos de ação para superar o preconceito contra as mulheres na redação e na cobertura da mídia:

  • Aumentar a conscientização sobre os fortes preconceitos contra as mulheres na sociedade e nas redações.
  • Remover as barreiras para o avanço da igualdade de gênero.
  • Formular intervenções que estimulam a criação de novos hábitos, iniciativas e formas de pensar.

Kassova disse: “Espero que todos possamos sentir que, ao fazer a diferença nós mesmos, criamos um efeito cascata na sociedade e a mudança pode acontecer.”


Tedi Doychinova é oficial de programa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês).

O relatório "The Missing Perspectives of Women in News" foi encomendado pela Fundação Bill e Melinda Gates. Para mais discussões sobre mulheres nas notícias, Kassova convida as pessoas interessadas a se conectar com ela via Twitter ou Linkedin.

Imagem sob licença CC no Unsplash via Christina @ wocintechchat.com