Jornalistas refletem sobre storytelling ambiental em festival

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Temas especializados

"Eu realmente não comecei querendo fazer uma história ambiental", explicou o fotojornalista Larry C. Price no evento sobre storytelling global no Festival de Cinema Ambiental em Washington.

No entanto, Price, que tinha inicialmente a intenção de apresentar uma reportagem sobre a mineração de ouro, rapidamente voltou sua atenção para os custos humanos da utilização de mercúrio na mineração -- particularmente no mundo em desenvolvimento. Ao lado do produtor P.J. Tobia, ele criou uma série de curtas mostrando os efeitos nocivos do mercúrio na indústria de mineração de ouro em pequena escala na Indonésia para o noticiário PBS NewsHour.

"Eu me tornei mais e mais curioso sobre o uso de mercúrio [na mineração de ouro]", disse ele. "Fiz quatro ou cinco viagens para a Ásia trabalhando nestas matérias, e fiquei surpreso com o número de crianças cercadas por este metal pesado, este elemento penetrante e tóxico, [encontrado] em qualquer lugar onde tem ouro."

O evento de storytelling ambiental global, que foi coorganizado pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting, exibiu três documentários curtos produzidos em todo o mundo. Uma linha comum permeou em cada filme: a storytelling de histórias ambientais críticas através de um ângulo poderosamente humano.

Em "Pumped Dry: The Global Crisis of Vanishing Groundwater” (Bombeado até secar: a crise global das águas subterrâneas em desaparecimento), os jornalistas Ian James e Steve Elfers cobriram a crise crescente por trás da queda dos níveis de águas subterrâneas em todo o mundo. James, que anteriormente cobriu a seca na Califórnia para o jornal The Desert Sun, conectou uma questão local a uma global documentando como a escassez da água subterrânea está ocorrendo em todo o globo, do Peru à Índia.

"A ideia do projeto era ir para vários desses lugares onde há agricultura intensiva e onde os aquíferos estão em declínio e descobrir as causas e quais os impactos sobre a vida das pessoas", disse ele.

Para cada cineasta, ganhar a confiança dos próprios sujeitos desempenhou um papel vital ao trazer essas histórias à luz.

Isto foi especialmente verdadeiro para a jornalista multimídia Sharron Lovell, que trabalhou em um filme que narra o enorme projeto de transferência de água do sul para o norte da China. Lovell explicou que muitos entrevistados potenciais, temendo a perseguição do governo, recusaram aparecer na câmera e compartilhar seus pensamentos sobre o projeto.

"Tudo o que posso fazer é ser transparente sobre onde estamos indo e daí eles fazem a escolha se querem falar comigo ou não", disse ela. "Havia muitas pessoas que não queriam falar comigo durante o caminho, o que foi uma pena. Especialmente no último ano, tem sido cada vez mais difícil na China. Advogados não quiseram falar comigo; ONGs não quiseram realmente falar comigo."

No final, algumas pessoas sentiram que a necessidade de falar com a imprensa era mais forte do que o medo de repercussões negativas.

"Há um artigo a ser publicado em breve onde outro cara meio que diz: 'Eu sei que posso ter problemas por isso, mas eu quero dizer o que penso'", disse ela.

No caso de Price, simplesmente encontrar as comunidades afetadas pelo mercúrio foi um desafio tão grande quanto levar as pessoas a confiar nele, pois muitos [deles] estão localizados em áreas remotas.

"De muitas maneiras, é provavelmente uma das histórias mais difíceis que eu já fiz, mas sei que tudo o que posso fazer é ir e tirar as fotos e fazer o filme e tentar levar as pessoas a confiar em mim", disse ele. "O que eu aprendi é que as pessoas ficavam felizes quando alguém prestava atenção a sua história."

Para assistir aos documentários do festival, clique aqui.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Aaron