Há dois anos, o jornalista investigativo ugandense Solomon Serwanjja fez uma parceria com a BBC Africa Eye na investigação Stealing From the Sick. Publicado como um documentário, o projeto revelou um suposto mercado ilegal de medicamentos regulados pelo governo em Uganda. Ele também expôs o sofrimento de ugandenses forçados a usar hospitais privados devido à escassez frequente de medicamentos em hospitais públicos.
Enquanto a equipe trabalhava no documentário, porém, autoridades ugandenses acusaram Serwanjja e seus colegas de roubarem medicamentos de uso restrito. A polícia fez buscas na casa de Serwanjja, prendeu sua esposa e também colocou três jornalistas da BBC sob custódia. A BBC interviu para reverter as acusações e no fim a esposa de Serwanjja e os repórteres foram libertados.
Serwanjja finalizou a investigação. Enquanto ele dava os toques finais no documentário, no entanto, uma questão veio à sua mente: como teríamos realizado a investigação e sobrevivido ao ataque das autoridades ugandenses se a BBC não tivesse fornecido recursos e apoio?
Antes de colaborar com a BBC, ele havia tentado trabalhar com colegas de outros meios de comunicação locais de Uganda em reportagens que ele sentia que precisavam de contribuições além do que sua equipe do canal de TV ugandense NBS poderia oferecer. Ele não teve sucesso, uma vez que os jornalistas não puderam oferecer o apoio que ele precisava para sua reportagem.
"Eu pensei no que aconteceria com o jornalismo investigativo na África se a BBC Africa Eye ou outros nomes grandes fechassem", ele conta. "A Al Jazeera tinha o Africa Investigates, mas ele foi fechado."
Serwanjja refletiu sobre a questão com Raymond Mujuni, jornalista investigativo e editor da NTV Uganda. Juntos, eles conversaram sobre criar um espaço neutro que permitisse que jornalistas de diferentes veículos colaborassem em projetos de reportagem investigativa de impacto.
Em janeiro de 2020, eles lançaram o African Institute for Investigative Journalism (AIIJ). No mesmo ano, eles se candidataram e conseguiram recursos da Open Society Initiative for Eastern Africa, que os ajudaram a conseguir um escritório em Kampala, capital de Uganda.
"Queríamos provar para os jornalistas investigativos que, apesar dos desafios inerentes, eles ainda podem fazer jornalismo investigativo com imparcialidade, porque é um longo caminho para se criar uma África melhor", ele afirma.
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Serwanjja é o diretor executivo do AIIJ e Mujuni é seu substituto. Hoje, o instituto está presente em Uganda, no Quênia e na África do Sul, e há planos em curso para um escritório regional para a África Ocidental, na Nigéria.
O AIIJ implementou uma programação robusta, tendo em vista os muitos fatores envolvidos na produção de investigações contundentes.
Habilidades para reportagem investigativa
O instituto realizou projetos de bolsas, webinars regionais e treinamentos para jornalistas investigativos. Em um dos webinars, jornalistas investigativos experientes de toda a África, incluindo o jornalista ganense Anas Aremeyaw Anas e o jornalista queniano John Allan Namu, se juntaram para discutir o estado do jornalismo investigativo na África e como avançar.
Através de seus programas, o instituto treina jornalistas e meios de comunicação para o uso de novas ferramentas e técnicas de reportagem investigativa. Serwanjja disse que ele pretende viajar o continente com sua equipe para treinar jornalistas nessas habilidades críticas.
"Queremos treinar jornalistas investigativos para o uso de fontes abertas e dados para amparar seu trabalho", ele conta. "Tentamos aproveitar as experiências dos grandes nomes que se destacaram para que possamos fazer por conta própria."
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Colaboração
O instituto estimula conexões entre os repórteres investigativos da África através de seu programa de reportagem colaborativa. "Colaboração é o futuro do jornalismo investigativo na África. Especialmente investigações trans-froteiriças", afirma Serwanjja.
Financiamento
Fazer reportagem investigativa pode ser caro. Através de seu programa de subsídios, o instituto financia o trabalho de profissionais de mídia, pesquisadores e jornalistas.
"Boas pautas que teriam tido um grande impacto morreram porque não havia recursos para produzi-las", diz Serwanjja. "Nós não queremos apenas te dar dinheiro. Nós trabalhamos junto com você para garantir que o objetivo seja alcançado."
Apoio legal
O AIIJ oferece apoio legal para jornalistas caso eles sejam processados por suas reportagens — um tipo de apoio que outros meios de comunicação podem não fornecer de imediato.
Segurança
Um dos objetivos de longo prazo do AIIJ é adquirir um terreno de 200 mil m² em Uganda onde serão construídas moradias seguras para acomodar jornalistas investigativos de toda África e suas famílias quando forem ameaçados por causa de seu trabalho.
Como Serwanjja observa, "a segurança dos jornalistas investigativos é um aspecto chave no instituto".
Arinze Chijioke é jornalista freelance baseado na Nigéria e cobre saúde global, mudança climática, meio ambiente, conflitos, corrupção, justiça social, direitos humanos, negócios e economia.
Foto por Drew Willson no Unsplash.