Apenas 13% dos americanos confiam na mídia "bastante" e 28% "razoavelmente", uma pesquisa da Gallup descobriu no ano passado, com 69% dos democratas, 15% dos republicanos e 36% dos independentes dizendo que "confiam na mídia”.
Em um ano eleitoral, esse tipo de polarização política só tende a aumentar.
No entanto, há evidências — como a Media Trust Survey do Poynter em 2018 e um relatório recente da Knight Foundation-Gallup — que sugerem níveis mais altos de confiança no jornalismo local.
Contudo, isso ainda representa menos da metade dos americanos (45%) que confiam nas reportagens das organizações de notícias locais "bastante" (em comparação com 31% dos veículos de notícias nacionais), o que mostra que há trabalho a ser feito.
[Leia mais: Redução de jornais locais afeta política da comunidade, segundo estudo]
Com isso em mente, aqui estão dez recomendações para organizações de notícias locais em todos os lugares, a fim de criar confiança, combater a polarização e fazer com que as notícias se paguem.
Construindo confiança
Quando eu era criança, parecia que havia um repórter (e um fotógrafo) em todos os eventos públicos que eu participava.
É claro que provavelmente não era esse o caso, mas com as equipes de redação diminuindo 25% nos Estados Unidos desde 2008, é improvável que as crianças de hoje cresçam com a mesma percepção.
No entanto, as oportunidades de se envolver com o público são maiores do que nunca.
(1) Seja visível: online e na vida real
Os jornalistas precisam explorar meios de interação cara a cara por meio de reuniões editoriais abertas, encontros e oportunidades oferecidas pelas mídias sociais, como o Facebook Live e as perguntas e respostas no estilo Reddit (conhecidas como AMA ou Ask Me Anything [Me Pergunte Qualquer Coisa]).
Enquanto isso, o podcasting oferece uma oportunidade para que as redações se expressem, visualizando o conteúdo que será publicado ou explicando o que está no jornal e por quê.
(2) Permita que o público espreite por trás da cortina
No passado, tínhamos a confiança em nossa profissão como garantida. Agora temos que conquistá-la. A maneira mais óbvia de fazer isso é explicar o que fazemos.
Como as notícias são apuradas? Como decidimos o que aparece na primeira página, quando usar aspas e cortar palavras?
Os podcasts são um ótimo formato para compartilhar "a história por trás da matéria". E ferramentas como o Instagram Stories podem ser igualmente eficazes, indo nos bastidores e mostrando repórteres de um lado para o outro, fazendo seu trabalho.
Promover a educação midiática é essencial para criar uma audiência que entenda o trabalho que envolve uma reportagem e, portanto, está disposta a pagar pelo jornalismo.
(3) Explique seus termos
Pesquisas sugerem que o público não entende necessariamente como o jornalismo é produzido ou os termos que os jornalistas usam para descrevê-lo.
Uma pesquisa da Reuters/Ipsos no ano passado descobriu que 60% dos entrevistados acreditam que os repórteres são pagos por suas fontes "às vezes ou com muita frequência".
Joy Mayer, diretora do projeto Trusting News, me disse que quando os jornalistas falam sobre "fontes anônimas", muitas pessoas assumem que o jornalista também não sabe quem é a fonte.
Os jornalistas não apenas precisam compartilhar seu processo, mas também precisam ter cuidado com os termos e rótulos que usam, pois raramente são entendidos fora da redação.
Combatendo o viés
Vivemos em uma sociedade onde nossa mídia e política estão mais polarizadas e partidárias do que se conhece na história recente.
Além disso, como sugere Brian Stelter, da CNN, os atuais modelos de negócios de mídia alimentam ainda mais essa polarização.
A cultura "eles vs. nós" é menos pronunciada em nível local, mas, como a pesquisa da Knight indica, "essa confiança é mais frágil do que se entendia anteriormente -- e vulnerável às mesmas percepções de viéses partidários que ameaçam a confiança da mídia nacional".
(4) Ceda (algum) controle ao seu público
Historicamente, os jornalistas determinam as notícias que o público recebe. No entanto, isso precisa mudar para que a confiança seja reconstruída.
Jennifer Brandel, CEO da Hearken, e Mónica Guzmán, cofundadora e editora do The Evergrey, argumentam em uma matéria do Nieman Lab que os jornalistas devem se perguntar: "O que podemos fazer o público entender ou fazer hoje?"
"Não começaremos com nossas ideias", sugerem eles, "começaremos com as lacunas de informação que o público demonstra que têm e concentraremos nossos esforços diretamente no preenchimento dessas lacunas."
Fazer com que o público apresente perguntas e ouça suas necessidades pode resultar em matérias que os jornalistas não teriam produzido de outra forma.
[Leia mais: Chaves para um engajamento inovador]
(5) Converse com pessoas diferentes
Americanos brancos, mais velhos e com maior escolaridade têm mais chances de ter conversado com jornalistas locais do que outros, de acordo com o Pew Research Center. A maioria dos americanos (79% deles) nunca conversou com um jornalista local.
Isso importa, porque os jornalistas locais geralmente são os únicos que as pessoas já conhecem. Como resultado, eles são um proxy para a indústria em geral e a linha de frente do combate à narrativa de "notícias falsas".
(6) Uma redação mais representativa
O jornalismo tem um problema de classe. Também precisamos de mais mulheres, pessoas não brancas e um espectro mais amplo de crenças políticas e formação educacional nas redações.
A demografia da redação e as visões de mundo devem estar mais alinhadas com o público. Sem isso, é muito fácil (muitas vezes com razão) acusar redações de preconceito e de falta de contato.
Fazendo-se pagar
De acordo com o Reuters Institute, entre os consumidores de notícias digitais nos EUA, apenas 16% pagam por notícias, por meio de assinaturas, associações ou doações. “A maioria dos americanos” (71%), de acordo com o Pew Research Center, “acha que a mídia local está indo muito bem financeiramente”.
A realidade financeira é diferente e mais de 1.800 jornais locais fecharam desde 2004. Mais de 1.300 comunidades carecem de reportagens locais originais, e outras áreas correm o risco de entrar nessa lista. Evitar isso é essencial para a prosperidade futura do jornalismo local e para as necessidades de informação das comunidades locais.
(7) Seja implacavelmente local
Em um momento de proliferação de conteúdo, com o público tendo acesso a mais mídias do que nunca (muitas delas de graça), há um imperativo comercial de ser distinto e significativo.
A menos que você ofereça conteúdo de valor, as pessoas não pagarão por isso. Menos de dois terços (61%) dos entrevistados disseram aos pesquisadores da Knight/Gallup que as organizações de notícias locais fazem um trabalho "excelente" ou "bom" cobrindo o que está acontecendo em sua área.
(8) Fazendo funcionar para dispositivos móveis
Da mesma forma, com o público cada vez mais propenso a consumir notícias (inclusive locais) online e via smartphones, as redações precisam melhorar sua oferta digital.
Com muita frequência, a experiência do usuário é ruim.
As organizações de notícias em todos os níveis -- especialmente as locais -- precisam melhorar a aparência de seus sites e conteúdo online, para que sejam menos confusos (o que significa menos anúncios de distração) e mais fáceis de usar.
[Leia mais: Como incorporar jornalismo móvel nas redações locais]
(9) Não tenha vergonha de mostrar impacto
Uma das estatísticas mais impressionantes do estudo Knight/Gallup revelou que "os americanos não estão totalmente convencidos de que as notícias locais estão conseguindo promover a responsabilização das pessoas e instituições poderosas".
Sessenta por cento dos entrevistados consideram que as notícias locais apenas fazem um trabalho "justo" ou "ruim" de prestação de contas. Quase dois terços indicaram o desejo de maior cobertura de assuntos como dependência de drogas, educação de ensino fundamental e médio, meio ambiente e obras públicas planejadas.
As redações locais precisam prestar atenção nisso. Elas não apenas precisam fazer um trabalho melhor, mas também devem realçar seu impacto e sucesso.
(10) Ofereça um amplo mix de matérias
Embora as reportagens fiscalizadoras sejam uma pedra angular do jornalismo, fazer muitas matérias sobre esse tema pode assustar ou desanimar o público. O ato de evitar notícias é uma preocupação muito real, e a natureza combativa, muitas vezes deprimente, das notícias afasta muitas pessoas.
Além de atuar como um controle sobre quem está no poder, o público quer que os veículos de comunicação locais sejam um "bom vizinho". As matérias mais leves e orientadas para a comunidade são importantes, assim como as histórias que relatam possíveis soluções para os problemas.
"Você precisa de pitbulls e de poodles", disse meu amigo Kevin Anderson, ao refletir sobre a mistura de habilidades, gente e conteúdo necessários nas redações locais.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Fred Kearney