Entrevista: Fotojornalista iraniano conta sobre experiência de fotografar COVID-19

Mar 26, 2020 em Reportagem sobre COVID-19
Foto de um hospital iraniano

Depois de se formar em engenharia elétrica pela universidade, Farhad Babaei descobriu seu amor pela fotografia. Ele aprendeu fotojornalismo sozinho há 12 anos e gradualmente se interessou em atuar profissionalmente. Babaei trabalhou com várias publicações, incluindo USA Today, Der Spiegel e Le Monde, e atualmente é o fotógrafo oficial do Irã para o laif Agentur für Photos & Reportagen na Alemanha.

Quando a COVID-19 atingiu o Irã, Babaei estava na linha de frente capturando a pandemia. Conversamos com ele sobre seu trabalho durante a crise.

Leia a entrevista da IJNet:

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IJNet: Como você começou a fotografar a crise do coronavírus no Irã?

Babaei: Eu estava fotografando as áreas inundadas do Irã entre o final de fevereiro e o início de março e cobri outros desenvolvimentos depois. Naqueles dias, o público desconhecia um pouco -- ou negava-- o fato de o vírus ter nos atingido aqui no Irã.

No final de março, eu estava visitando minha família em Babol, na província de Mazandaran (no Mar Cáspio), para o Ano Novo Iraniano, quando a crise do coronavírus se transformou em um susto nacional. Isso me impediu de deixar Babol, um viveiro da COVID. Consegui uma licença do Ministério de Orientação Islâmica para trabalhar para Laif em Babol. [Nota do editor: Essas permissões são necessárias para a colaboração com agências de notícias ou fotos não-iranianas.]

بحران کرونا در ایران، عکس از فرهاد بابایی، نشر عکس با مجوز آژانس لایف آلمان

Como você se preparou para ir em ambientes perigosos e como se protegeu, principalmente devido à escassez de equipamentos de proteção?

Trouxe meu próprio equipamento de proteção para os hospitais que visitei e fotografei, pois máscaras e luvas eram bastante raras no Irã durante as primeiras semanas da crise. Acredito que um fotojornalista sempre deve ter seu próprio equipamento e conseguir aparecer no local sem ajuda externa. Eu tenho cobertores de segurança, máscaras, luvas, desinfetantes e kits de primeiros socorros armazenados para emergências --guardados para esse tipo de situação-- há muito tempo.

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Qual o seu conselho para os fotógrafos que vão trabalhar em centros de saúde e clínicas durante a atual crise?

Um fotojornalista deve estar em seu melhor estado físico e mental para poder superar os problemas e ter o melhor desempenho possível. Fotografar usando equipamento de proteção é muito difícil, porque as máscaras dificultam a respiração. Quando você trabalha nessas circunstâncias por um longo período, há uma alta probabilidade de tontura, confusão e dor de cabeça. Antes de entrar em um hospital ou clínica, verifique se você comeu e bebeu o suficiente para se manter por várias horas, porque você não terá a oportunidade de comer ou beber enquanto estiver ocupado trabalhando em um hospital ou clínica. Tente descansar com antecedência para ter energia suficiente e, com certeza, use o banheiro antes de sair de casa para não precisar ir no hospital, se possível.

بحران کرونا در ایران، عکس از فرهاد بابایی، نشر عکس با مجوز آژانس لایف آلمان


Como você se protege enquanto fotografa no hospital?

Cubro minha câmera com celofane, cobri todas as fendas e aberturas das minhas roupas com fita adesiva e uso duas máscaras; uma cirúrgica e uma máscara filtrada no topo. Na entrada, eu aceno para os pacientes em cada quarto e peço permissão para fotografar os pacientes que têm os olhos abertos. Caso contrário, eu saio da sala.

Como você vê a situação da reportagem no Irã durante a crise de COVID-19?

Atualmente, fotógrafos e repórteres estão menos ativos no Irã, e uma das razões é que eles não têm acesso a equipamentos de proteção suficientes. Havia, no entanto, muitos fotojornalistas que foram bastante ativos nas fases iniciais da crise. Mesmo agora, vejo muita disposição e entusiasmo por fotografia e reportagem -- mais ainda do que antes da crise começar.


Todas as fotos deste artigo são de pacientes e cuidadores da COVID-19 em hospitais iranianos, tiradas por Farhad Babaei e publicadas com permissão da laif.