Empreendendo no jornalismo, parte 2: A experiência da Agência Tatu

Jan 11, 2021 em Sustentabilidade da mídia
Logo da Agência Tatu

Para começar o ano inspirando quem está trabalhando para seu próprio negócio de jornalismo, conversamos com diferentes empreendimentos jornalísticos de sucesso no Brasil durante a pandemia. Neste segundo artigo da nossa séria de quatro partes focamos na Agência Tatu. Leia o primeiro artigo sobre a experiência do jornal Plural, o terceiro artigo sobre o Alma Preta e o quarto artigo sobre o Núcleo.

 

A Agência Tatu surgiu como um veículo laboratorial desenvolvido por três estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que tinham o desejo em comum de fundar uma agência de notícias com foco em matérias produzidas com dados. Com o apoio de três professores do curso, muita pesquisa, estudos e investimentos, o veículo foi lançado oficialmente em 25 de abril de 2017. 

A startup é formada por Graziela França, diretora de monitoramento; Lucas Maia, diretor de tecnologia; Lucas Thaynan; diretor de Visualização; e Maria Luiza Ávila, estagiária. 

Embora 2020 tenha sido um ano difícil para o jornalismo empreendedor, a Tatu teve a sorte de ser um dos dez projetos selecionados para integrar o Startup Lab, o programa de aceleração de startups jornalísticas do Google News Initiative.

França conta como a agência conseguiu se firmar nesse cenário jornalístico, aproveitando oportunidades e obtendo reconhecimento por seu trabalho inovador. 

[Leia mais: Agência Tatu inova com jornalismo de dados no Nordeste]

IJNet: O que vocês apontam como as principais estratégias para o crescimento da empresa?

Graziela França: Nós ainda avaliamos a cada dia quais são as melhores estratégias para conseguir ter sustentabilidade financeira empreendendo com jornalismo. Com certeza, é fundamental produzir um material com qualidade e com algum diferencial do que já é produzido. No caso da Tatu, apostamos no jornalismo de dados em Alagoas e no Nordeste, já que esse tipo de conteúdo é pouco explorado. Entender o que nosso público quer e precisa também é fundamental para alcançar esse crescimento, e é isso que trabalhamos em 2020.

Como é fazer parte do Startup Lab do Google?

Só de sermos selecionados para o processo de aceleração de startups em jornalismo do Google já nos deu um bom destaque e nos deixou imensamente felizes. Fomos a única do Norte e Nordeste, o que vemos com muita responsabilidade. O projeto segue até abril e tem sido uma experiência de aprendizado diário. 

Esse tem sido um processo muito importante para a Tatu. Estamos conseguindo ver como é fundamental planejar cada passo, para assim, executar tudo como desejamos. A gente discute muito, pesquisa e projeta formas para alcançarmos a nossa sustentabilidade financeira, e este programa tem sido fundamental pela visão e insights que nos possibilitam neste aspecto.

O que vocês esperam desse programa? 

Por meio das mentorias, palestras, experiências dos outros projetos e aulas a que temos acesso, vemos como conhecer e conquistar nossa audiência e nossos possíveis investidores e como utilizar determinadas ferramentas que dão subsídio ao trabalho da Tatu.

Além disso, o programa vai injetar um investimento de US$20.000 dólares em cada startup. Recurso fundamental para impulsionar o nosso projeto e nos ajudar a dar passos ainda maiores em busca da nossa sustentabilidade financeira. Soma-se a isso o contato com pessoas muito competentes e projetos inspiradores de todo o país. Tudo isso nos ajuda a enxergar novas possibilidades e como funcionam outras startups de jornalismo de diferentes regiões e realidades. 

Seguimos nesse processo até abril, com a certeza de que ainda aprenderemos muito até lá. Neste período é preciso muita dedicação e organização para que consigamos dar conta das das atividades e também da parte burocrática, além do trabalho na Tatu. Tem sido desafiador, mas bem interessante. É algo que não se aprende no curso de Jornalismo.

[Leia mais: Empreendendo no jornalismo, parte 1: A experiência do Plural]

O que mudou na Agência desde a sua fundação em 2017?

De lá para cá, a Tatu se profissionalizou e se tornou, de fato, uma empresa. Na universidade não tínhamos ideia de como era complexo empreender e de todo mecanismo necessário para fazer a coisa andar e gerar renda. Caímos e levantamos algumas vezes e fomos aprendendo com as experiências e “metendo a cara” nas oportunidades. 

Do ponto de vista financeiro, o que nos manteve no começo foram os prêmios locais de jornalismo (tínhamos alguns na época) que vencemos. Em seguida fechamos projeto com um veículo local e depois alguns outros projetos. Esse ano, além de projetos, conquistamos dois financiamentos, por meio de editais para aceleração de startups. Esses mecanismos, além de nos ajudar a investir financeiramente na Tatu, também trazem diversas palestras, consultorias e mentorias que nos ajudam a tornar o nosso negócio mais sustentável financeiramente.

Como vocês avaliam a situação em relação a empreendedores do jornalismo no Nordeste?

Acreditamos que é um movimento crescente. E isso se dá por diversas situações diferentes, seja para pôr em prática ideias inovadoras, fugir da forma como vem sendo produzido conteúdo nas mídias tradicionais ou para dar voz a grupos específicos. 

Talvez seja necessário um olhar diferenciado para os empreendedores em jornalismo do Norte e Nordeste, pois são regiões que acabam ficando mais longe de muitas oportunidades. Mas, levando em consideração o destaque que o jornalismo local vem apresentando, acredito que a tendência é crescer e atender mais espaços “vazios” no que se trata de veículos de jornalismo. 

Uma questão a se pensar é justamente a sustentabilidade financeira, já que não há uma receita de como produzir um conteúdo diferenciado e conseguir ser rentável logo de cara e que pode variar dependendo de cada modelo de negócio.

Em Alagoas a gente enxerga algumas iniciativas mais recentes, principalmente após o movimento grevista da classe em 2018, como o Acta, a Mídia Caeté, O que os olhos não vêem… Em outros estados temos Marco Zero, Retruco

Nesta lista criada no Twitter por Mariama Correa é possível ver outras iniciativas. E a newsletter (Twitter também) da Cajueira traz várias iniciativas dessas na região.

[Leia mais: Focas se destacam através do empreendedorismo de mídia]

Quais conselhos e lições vocês dariam para quem deseja empreender no jornalismo?

Acho que o principal conselho é estruturar bem seu negócio antes de lançar oficialmente. É fundamental ter um plano de marketing, financeiro, objetivos bem traçados e alinhados com a equipe toda. Também é importante ter algo de inovador e que atenda a necessidade do público que você pretende atingir. Além disso, buscar conhecimento, inovação e mudanças com frequência.


Rafael Gloria é jornalista, mestre em comunicação, editor-fundador do coletivo de jornalismo cultural Nonada - Jornalismo Travessia e sócio da Agência Riobaldo.

Imagem: print do logo da Agência Tatu